Desvio de recursos para divulgação do País no exterior pode acabar com unidades de Sesc e Senac em mais de 100 cidades
Projeto de
Lei que destina 5% da contribuição social de empresas acarretaria, também, o
fechamento de 31 mil vagas gratuitas de ensino profissional e 7,7 mil da
educação básica
Caso sejam mantidos os artigos 11 e 12 do Projeto
de Lei de Conversão (PLV) nº 09/2023, que desviam 5% dos recursos das
contribuições sociais destinadas pelas empresas do setor terciário ao Serviço
Social do Comércio (Sesc) e ao Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
(Senac) para a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur),
existe o risco real de fechamento de unidades, desemprego e redução da
qualidade reconhecida há 77 anos pelos trabalhadores brasileiros.
A redução do orçamento pode acarretar o
encerramento das atividades do Sesc e do Senac em mais de 100 cidades brasileiras.
Seriam fechadas 36 unidades do Sesc, com corte de 1.994 empregos e deixariam de
ser investidos R$ 121 milhões em atendimentos gratuitos. Também haveria
diminuição de 2,6 milhões de toneladas de alimentos distribuídas por programas
como o premiado internacionalmente Mesa Brasil Sesc, supressão de 2,6 mil
exames de saúde e de 37 mil atendimentos em atividades físicas e recreativas.
Também haveria o corte de 2 mil apresentações culturais, com público estimado
em 14 milhões de pessoas.
No caso do Senac, o desvio seria responsável pelo
fechamento de 29 centros de formação profissional, encerramento de 31.115 mil
matrículas gratuitas e mais de 7 milhões de horas-aula de cursos reduzidas. O
fim das atividades representaria a demissão de 1.623 pessoas, além do fim de 23
laboratórios de formação específica para a área do Turismo. Em recursos
destinados a atendimentos gratuitos, o corte seria de R$ 140 milhões.
“A promoção do Brasil no exterior não pode ocorrer
em detrimento dos interesses dos trabalhadores do comércio de bens, serviços e
turismo e das demandas sociais e educacionais do povo brasileiro”, afirma o
presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
(CNC), José Roberto Tadros. Para ele, o Sistema CNC-Sesc-Senac não pode ser
prejudicado porque “as consequências serão sofridas pelos trabalhadores dos
diversos segmentos econômicos e pessoas que mais necessitam da garantia do
acesso aos serviços básicos e fundamentais previstos em nossa Constituição da
República”.
Medida é inconstitucional
A medida, que não foi discutida pela sociedade,
retira recursos de cursos profissionalizantes, tão necessários para a melhoria
da vida da população, e de serviços sociais que chegam, muitas vezes, a lugares
onde o poder público não chega.
Já é entendimento pacificado pelo Supremo Tribunal
Federal (STF) que os valores destinados ao Sesc e ao Senac não são recursos
públicos e, portanto, devem ser utilizados exclusivamente para o fim o qual
está estabelecido na Constituição Federal. A finalidade legal do Sesc é
proporcionar programas que contribuam para o bem-estar social e a melhoria do
padrão de vida dos comerciários e suas famílias. Somente em 2022, houve 5,4
milhões de pessoas inscritas em atividades como atendimentos médicos, odontológicos
e de esporte, além de atividades sociais. E, ainda, 2,4 milhões de brasileiros
são atendidos mensalmente pelo programa de combate à fome. Preocupado com a
formação integral dos brasileiros, atualmente, há mais de 70 mil crianças e
adolescentes matriculados nas escolas Sesc – que oferecem, gratuitamente,
educação infantil e ensinos fundamental e médio de excelência reconhecida
internacionalmente.
Na mesma linha, o Senac foi criado por lei para
organizar e administrar escolas de aprendizagem comercial e manter cursos
práticos, de formação continuada ou de especialização para os empregados
adultos do comércio. Anualmente, o Senac tem 1,4 milhão de alunos matriculados
em educação profissional, sendo 550 mil pessoas atendidas de forma gratuita,
com uma oferta de mais de mil cursos de formação inicial e continuada, educação
profissional técnica de nível médio, graduação tecnológica e pós-graduação. A
qualidade educacional é indiscutível, já que o índice de inserção no mercado de
trabalho de pessoas formadas pelo Senac é de 71,5%. De toda a receita líquida
da contribuição social destinada ao Senac pelos empresários brasileiros, 66,67%
são aplicados diretamente em vagas gratuitas de ensino.
Na área do Turismo, Sesc e Senac são referência
internacional. Anualmente, o Senac promove a capacitação de aproximadamente 150
mil profissionais para a cadeia produtiva do turismo, com 30 cursos livres
específicos, além de centenas de cursos para atuação no segmento de bares e
restaurantes, por exemplo. O Sesc é pioneiro do Turismo Social no Brasil,
democratizando o acesso do público a este tipo de lazer. Em 2022, o Sesc teve
526 mil pessoas hospedadas em suas unidades hoteleiras, muitas delas atendidas
por outros programas do serviço, como os voltados à terceira idade.
O presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac lembra que a
possibilidade de retirar recursos de instituições que realizam um trabalho de
comprovada e reconhecida qualidade não somente na formação e qualificação
técnica dos trabalhadores, mas também na oferta e promoção do turismo para
milhões de brasileiros é um retrocesso aos direitos dos trabalhadores do
comércio e de seus familiares. “O Sistema CNC-Sesc-Senac repudia a proposta e
confia na responsabilidade do Congresso Nacional para com os trabalhadores para
evitar os prejuízos que afetam, direta e indiretamente, toda a sociedade. A
medida, se concretizada, viola princípios constitucionais em relação aos quais
tomaremos todas as medidas cabíveis para buscar a garantia da lei e do
interesse maior da população brasileira”, enfatiza Tadros.
Números dos prejuízos à população
As perdas de 5% para o serviço social no Brasil
proporcionado pelo Sesc representam:
• menos R$ 121 milhões aplicados em atendimentos
gratuitos;
• redução de 2,6 milhões de toneladas de alimentos
distribuídos;
• menos 2,6 mil exames clínicos;
• queda de 7,7 mil matrículas em educação básica;
• redução de 37 mil atendimentos em atividades
físicas e recreativas;
• menos 2 mil apresentações culturais com público
de 14 milhões;
• fechamento de 36 unidades;
• corte de 1.994 postos de trabalho; e
• encerramento de atividades em 101 municípios.
As perdas de 5% para a educação profissional no
Brasil representam:
• queda de 7 milhões de horas-aula gratuitas;
• perda de 31.115 matrículas gratuitas;
• fechamento de 29 centros de formação
profissional;
• fechamento de 23 laboratórios em turismo;
• corte de 1.623 postos de trabalho; e
• encerramento de atividades em 95 municípios.
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