A revolução da inteligência artificial: como usá-la a favor do seu negócio?
*Por Fernando Moulin, partner
da Sponsorb, professor e especialista em negócios, transformação digital e
experiência do cliente
O rápido avanço das ferramentas de
inteligência artificial, especialmente com o surgimento avassalador do ChatGPT,
tem gerado todo tipo de reação e muitas reflexões por parte de governos,
empresas e indivíduos. Dois dias após uma carta aberta assinada por mais de 2,8
mil pessoas, entre empresários como Elon Musk, nomes ligados ao Google e
historiadores como Yuval Harari, pedindo uma pausa nas pesquisas e no
desenvolvimento de IA, o governo da Itália proibiu o uso do ChatGPT sob
alegação de "recolhimento ilegal de informações pessoais". Agora a
desenvolvedora OpenIA está sendo investigada pelas autoridades do país.
Enquanto isso e poucas semanas depois, foi o próprio Google quem anunciou uma
série de aplicações de IA em suas ferramentas, durante seu famoso evento para
desenvolvedores, o Google I/O. Mais um dos paradoxos dessa era de paradoxos.
É claro que o bloqueio temporário de um player
não resolverá a questão - mas acende novos alertas sobre o uso ilimitado da
tecnologia. Nesse sentido, a cada dia aumentam as discussões sobre o
desenvolvimento de elementos de controle para garantir que a disrupção não vai
se dar também em dimensões e fronteiras indesejáveis, como da ética, da
transparência no uso de dados, do acesso a informações confidenciais de
propriedade privada, das novas formas de trabalho, dos impactos na educação, na
genética e afins.
De uma forma ou de outra, sua usabilidade,
sintaxe e capacidade em dar respostas acuradas transmite credibilidade a quem a
utiliza, ainda que aquele processamento de informações possa utilizar uma
lógica muitas vezes incapaz de ser conhecida em detalhes (até por quem a
criou). Isso evoca danos em escala exponencial, já que é provável haver a
propagação de inverdades. As pessoas ainda podem não ter o preparo para fazer
as perguntas corretas, ou pior, podem não interpretar de maneira adequada as
soluções que as ferramentas proporcionam. Por outro lado, exemplos recentes de
integração com o Bing e demais ferramentas da Microsoft (como no uso para a
construção de apresentações em powerpoint) demonstram a inexorabilidade do
avanço dessas tecnologias em nosso dia a dia – fato que demanda ainda mais
atenção e análise crítica em uma sociedade que parece delegar essas
competências aos próprios algoritmos.
Um exemplo claro desse perigo é a
credibilidade de qualquer notícia falsa hoje em dia. É só participar de grupos
ou comunidades em redes sociais para comprovar a força das fake news.
Recentemente, vi uma apresentação de Elvis Presley produzido por IA no programa
America´s Got Talent (produção que serviu de referência para programas locais
como o The Voice Brasil) e que é um claro exemplo de quão realistas estão se
tornando os deep fakes.
Esse momento capital da evolução
tecnológica parece ser propício a algumas definições relevantes, pois as
ferramentas de IA cada vez mais tangenciam ou até distorcem diferentes
fronteiras do atual direito do uso de dados e da privacidade, da propriedade
intelectual autoral e, como o governo da Itália alega na suspensão, até mesmo da
questão do uso e da exploração dessas soluções por menores de idade.
Tampouco é claro ainda como o ChatGPT vai
reagir a potenciais tentativas de ataques hackers ou roubo de
informações dentro do seu banco de dados, por exemplo. Em paralelo, observa-se
o esforço de empresas para adotar o mais rápido possível essa e outras soluções
de inteligência artificial, baseadas na mesma metodologia de machine
learning.Há todo um ecossistema sendo acelerado e desenvolvido para a
conexão com o ChatGPT, seja de integradores, seja de plug-ins com
soluções-padrão da Microsoft, Salesforce e outras gigantes da indústria da
tecnologia. Esses movimentos não deixarão de ocorrer.
O fato é que a IA veio para ficar e, com o
amadurecimento das aplicações, a tendência é que organizações e pessoas possam
usar seus mecanismos a favor da sociedade de forma mais responsável no futuro,
ampliando as possibilidades para empresas e indivíduos. Além disso, é nítido o
quão transformador é tudo que essa ferramenta pode gerar, bem como seu potencial
de otimizar produções e negócios.
Para aproveitar o lado positivo dessa
revolução tão esperada – e temida –, é preciso que todos os envolvidos tenham
alto nível de educação sobre as aplicações dos sistemas e, principalmente, de
seus riscos. Além disso, é necessário fortalecer os movimentos para a criação
de ajustes e regulamentação, considerando a ética.
A boa notícia é que todo esse buzz permite
ao menos que os membros da sociedade civil comecem a entender que uma espécie
de “fogo de Prometeu” está sendo inadvertidamente obtida e liberada para,
então, utilizarem as soluções de IA de forma mais cautelosa e consciente. Mas
será que teremos mecanismos reais a nosso alcance para sermos mais responsáveis
na construção de mais essa disrupção trazida pela tecnologia?
*Fernando Moulin é partner da Sponsorb, empresa boutique de business
performance, professor e especialista em negócios, transformação digital e
experiência do cliente. E-mail: fernando.moulin@sponsorb.com.br.
Sobre Fernando Moulin
Natural de Volta Redonda (RJ), Fernando Moulin é um dos principais especialistas brasileiros em transformação digital, inovação e gestão da experiência do cliente, além de ser um dos pioneiros do Marketing Digital/CRM no país. Graduado em Engenharia Química pela Unicamp, possui MBA Executivo Internacional pela FIA-USP e realizou cursos de marketing e negócios em diversas instituições internacionais, como Kellogg/NorthWestern (Estados Unidos), INSEAD (França), Cambridge (Reino Unido) e Lingnan University (China). Tem mais de 20 anos de experiência na função de executivo em grandes organizações, como Telefônica/Vivo, Cyrela, Nokia, Pão de Açúcar, Claro, Citibank, entre outros. Cofundador da Malbec Angels, mentor de startups e advisor estratégico, também é palestrante profissional e professor de disciplinas ligadas a suas áreas de expertise em instituições como a ESPM, o INSPER e a Live University, além de ser colunista de diversos veículos importantes de mídia e jurado de diversas premiações de mercado. Atualmente, é partner da Sponsorb, consultoria boutique de business performance. Para mais informações, acesse: www.linkedin.com/in/fernandomoulin/ ou veja a palestra no TEDxSP: https://www.youtube.com/watch?v=6tUJuZopcsA.
Nenhum comentário