Por um canal direto entre ciência e sociedade
Fernando Barros*
*
Iniciação Científica e Tecnológica no ensino básico
*Disciplina
“Comunicação” em todas as graduações
*Diálogo
com a cidadania sem intermediários
Soft Power, canal de Encontro entre
Ciência e Cidadania: “a habilidade de um País influenciar preferências e
comportamentos de vários atores na arena internacional (Estados, corporações,
comunidades, públicos, etc...) através da atração e da persuasão, no lugar da
coerção” - Do conceito original, definido por Joseph Nye, Harvard University.
A degradação da
capacidade da visão científica influenciar processos decisórios na sociedade é
um fenômeno global. Iniciado no final do Século XX, aprofundado pelo advento
das Redes Sociais, ganha hoje contornos de colapso com a expectativa do
casamento iminente entre sistemas de AI, buscadores de Internet e canais de
imagem. Localizar a melhor verdade no ambiente binário e polarizado da Redes,
já é um grande desafio. Este quadro, a cada semana, só vai piorar.
O “Padrinho” dos
“Chatboxs”, Geoffrey Hinton, é franco: “a Inteligência Artificial é uma ameaça
existencial para a humanidade”. A Era da Desinformação já começou. As melhores
verdades, aquelas construídas por método, terão protagonismo no corpo social
munidas apenas com a arma da divulgação científica?
Difundir a evolução dos
fatos científicos é essencial. Cerca de 5 mil jornalistas trabalham nessa
missão para instituições do setor, voltados para a “Bolha do Conhecimento”. Ou
seja, não navegam no oceano difuso, habitado por públicos de diversas
capacidades cognitivas, imersos na guerra cultural. E, se apenas 8% dos
brasileiros produzem e compreendem dados complexos, ali a lógica informacional
nem explica, nem seduz.
Como dialogar com
leigos diante do avanço exponencial e diuturno da complexidade científica?
Sabemos que o real
papel da Ciência não faz sentido crítico, urgente e estratégico no ambiente
convencional do poder, em Brasília, nem tampouco entre formadores da opinião
pública. Assistimos há uma década, ano após ano, em governos distintos, a
decomposição do orçamento público do setor.
A comunidade científica
global começa a discutir alternativas. Muitos ainda com a fé de que há de
voltar o tempo em que a definição do orçamento era uma conversa de três
cafezinhos. No exemplo da Pesquisa Agropecuária, o Presidente da República e os
Ministros da Fazenda e da Agricultura.
Esse mundo não existe mais.
No “Hard Power”
brasileiro não há espaço para questões estratégicas. O futuro chega aos
soluços. Na Holanda, 2º maior exportador de alimentos em volume financeiro
(mesmo sendo 176 vezes menor que o Brasil) nada é feito sem que o Estado, a
iniciativa privada e a Universidade de Wageningen sentem à mesma mesa.
Umberto Eco, Professor
titular de Comunicação da Universidade de Bolonha, antecipou esse quadro
caótico com uma frase dita na semana de lançamento do Twitter: “seremos
governados por uma legião de idiotas”.
No plano internacional,
a trajetória do negacionismo quebrou paradigmas: a mentira passou a ter perna
longa. A resiliência de narrativas contra a vacina atinge ainda 60 milhões de
norte-americanos. Os britânicos começam a ouvir o que os cientistas (cerca de
dez mil) foram às ruas gritar no “Earth Day”, de 2017: o Brexit vai implodir
pesquisas da maior relevância em curso com a EU.
Boris Johnson perdeu
seu assento no Parlamento. Cinco anos depois...
Essa força teria pouco
a ver com o conteúdo das mensagens e muito com dois sentimentos fundantes da
“Guerra Cultural”: pertencimento e ressentimento. Estimular a “revanche”
contra quem estudou dá clics, dá votos.
Enquanto isto, a
potência transformadora das soluções tecnológicas sustentáveis brasileiras não
consegue lugar nas cenas interna e externa.
Precisamos invadir essa
praia. Inserir a “Iniciação Científica e Tecnológica” no ensino básico; a
disciplina “Comunicação” em todas as graduações; usar o Soft Power para
dialogar com quem vota, sem intermediários. Seria um bom começo.
As Ciências produzidas
nos trópicos formam, em seu conjunto, uma causa: contribuem em todas as agendas
críticas do Planeta. Senhoras e Senhores pesquisadores, vamos ao Twitter...
*Fernando Barros é Diretor de Comunicação Estratégica do Instituto Fórum do Futuro
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