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Acelera, Sirius!!

Allen Habert*

Há 40 anos pela genialidade de um engenheiro e físico que já nos deixou, Rogério Cezar Cerqueira Leite, num novo clima de democracia que vivia o Brasil, foi concebido o LNLS- Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, um acelerador de elétrons numa velocidade próxima à da luz, para análise de materiais em formato microscópico em altíssima resolução. Uma espécie de grande microscópio com uma fonte de luz 10 bilhões de vezes mais brilhante que a luz do sol. Enquanto o microscópio vê a superfície, a luz sincrotron vê “por dentro” e descobre a química e estrutura da matéria.Com apoio e supervisão do recém Ministério da Ciência e Tecnologia e do CNPq em 1985 esta ideia virou uma realidade. Hoje o LNLS opera o Sirius o acelerador de elétrons de 4ª geração (2018), um dos mais avançados do mundo. É ligado a uma instituição nacional de pesquisa, a maior obra e investimento científico e tecnológico do País e da América Latina, o Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais -CNPEM em Campinas.Com 1200 funcionários, pesquisadores em sua larga maioria mestres e doutores, possui 4 grandes laboratórios nacionais. O de Luz Síncrotron que opera o Sirius, o de nanotecnologia, o de biociências e o de biorrenováveis. A partir deles se desenha e constrói o Brasil do futuro.O Sirius está hoje na liderança mundial na área. Comparando com ele somente mais dois, um na Suécia e outro na França. Tudo isto construído com a engenharia e a tecnologia 100% nacional colocando o Brasil no mapa internacional de pesquisa de ponta. Permite que cientistas e engenheiros brasileiros realizem pesquisas de alta complexidade sem depender de laboratórios no exterior fortalecendo a autonomia científica e tecnológica nacional.

O Sirius com uma arquitetura visual impactante de um grande anel de aço que brilha com 518 metros de circunferência parece um Maracanã. Permitindo assim criar medicamentos mais eficazes, tornar processos industriais mais eficientes, desenvolver baterias melhores, criar novos metais, plásticos, cerâmicas e materiais nanoestruturados, estudar solos para melhorar a agricultura, analisar obras de arte e patrimônios históricos, investigar fósseis e materiais geológicos, fazer pesquisas fundamental em física, química e biologia.

O CNPEM disponibiliza infraestrutura de ponta para pesquisadores acadêmicos e industriais, promovendo inovação, formação de recursos humanos e articulação entre ciência, tecnologia, engenharia e o setor produtivo em várias áreas determinantes para nosso desenvolvimento sustentável e soberania nacional.

Contando com centenas de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação em setores estratégicos como biocombustíveis, farmacêutico, mineração, meio ambiente, materiais e agroindústria o CNPEM é o Brasil que dá certo. Facilita a transferência de tecnologia, a inovação industrial, a formação de talentos e a colaboração com o setor produtivo nacional e internacional com resultados muito importantes.

Criou-se para formar jovens altamente capacitados a ILUM Escola de Ciência que é um curso de graduação multidisciplinar e disruptivo já muito disputado em ciência, tecnologia e inovação.

O projeto Orion um grande centro laboratorial de biossegurança de nível máximo em construção no CNPEM vai dotar o País de forma inédita em pesquisas em doenças infecciosas, biologia estrutural e capacidade de produção de  vacinas, métodos de diagnósticos, tratamentos e estudos de vigilância epidemiológica. Conectado a um acelerador de partículas, a fonte de luz síncrotron Sirius, vai manipular patógenos de alto risco, vírus, bactérias e fungos altamente letais, desvendando suas estruturas moleculares e genéticas com técnicas avançadas de bioimagem. Será único no mundo. Ou seja preparar-se para responder a ameaças biológicas, às próximas epidemias e emergências sanitárias com planejamento, capacidade científica e tecnológica de ponta, autonomia nacional e formando recursos humanos especializados em biossegurança.

O CNPEM uma organização social supervisionada pelo MCTI-Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação trabalha e colabora com o Sistema Nacional de CTI no sentido de construir uma Nação forte e soberana. E para isto desenvolve um grande diálogo social precisando ser conhecido pelo grande público, se aperceber que pertence a cada cidadão brasileiro e esticar cada vez mais suas fronteiras. Daí o Acelera, Sirius!

O CNPEM seria uma espécie de NASA brasileira. É dirigido pelo físico Antonio José Roque da Silva uma liderança que mereceria em breve ser indicado ao Prêmio Nobel de Física.

O Brasil precisa ser pensado e planejado para os próximos 25 anos. Isto é também tarefa das elites sociais e culturais. 2050 não está longe, mas o suficiente para dar um salto em nosso desenvolvimento e cuidar das necessidades fundamentais do povo brasileiro.   

*Allen Habert é engenheiro de produção e mestre formado na EPUSP-Escola Politécnica da USP. Foi do Conselho Universitário da Unicamp e presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo. Diretor da CNTU-Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários e da Engenharia pela Democracia, coordena atualmente o Fórum da Engenharia Nacional.


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