IA já negocia, qualifica leads e acelera a compra de imóveis, mas substituirá o trabalhador?
No setor imobiliário, robôs já fazem o que antes exigia equipes inteiras; especialistas avaliam ganhos, limites e riscos dessa virada
Ela não dorme, não entra em pausa para almoço, não se confunde com excesso de demanda. Responde em segundos, sustenta milhares de conversas simultaneamente e está presente em mais de 1 bilhão de interações mensais no mundo. No Brasil, apenas um assistente virtual já acumulou mais de 30 milhões de mensagens trocadas e 2 milhões de atendimentos com quem busca comprar um imóvel.
A inteligência artificial deixou de ser uma promessa distante e se tornou engrenagem central do mercado imobiliário, capaz de reduzir custos, aumentar conversão e manter atendimento contínuo – atributo decisivo em uma jornada de compra imediatista e concorrida.
Se antes o primeiro contato exigia times extensos para dar vazão a leads, hoje assistentes virtuais apresentam empreendimentos, simulam financiamento, enviam imagens, tiram dúvidas e chegam até o agendamento de visitas. Em muitas incorporadoras, já existe um funil comercial preliminar operado integralmente por IA. E o resultado? Menos dispersão, mais conversão.
O novo ritmo das vendas
O avanço da tecnologia reajustou a métrica de eficiência no setor. O atendimento lento virou risco comercial. Um lead não respondido deixou de ser apenas uma oportunidade perdida, tornou-se custo direto. “Hoje o fator primordial é redução de custos, mas também escala. Recebemos entre 15 e 20 mil leads por mês e seria impossível tratar esse volume sem inteligência artificial”, afirma Renata Peixoto Dias, diretora de marketing e relacionamento com o cliente da Emccamp.
A agilidade se tornou requisito básico num mercado pressionado por público ansioso e imediatista. Luís Veloso, cofundador da Morada IA, afirma que 49% dos brasileiros pretendem buscar um imóvel nos próximos dois anos, mas apenas 1,1 milhão de financiamentos foram registrados no último período. A diferença entre intenção e compra aumenta a disputa pela atenção do consumidor. “Se você não atende, o cliente vai para o primeiro que responder. Uma pessoa dá conta de cerca de 500 leads ao mês, o resto se perde. E lead perdido é dinheiro perdido.”
A inteligência artificial reduz esse desperdício ao atuar na triagem, no envio de informações, na simulação financeira e na qualificação do comprador, liberando o corretor para etapas mais estratégicas da venda.
Da emissão de certidões ao funil comercial
No setor imobiliário, o impacto não está apenas no atendimento. A burocracia que envolve certidões, coleta de documentos e conferência jurídica também está sendo redesenhada. Rodrigo Sobreira, fundador e CEO da DiHub, explica que processos de vários dias hoje podem levar apenas minutos.
“Um processo que levava uma semana fazemos em cinco minutos. Imagine 20 herdeiros, cada um com cônjuge, são centenas de certidões. A IA multiplica sua capacidade e torna possível fazer tudo ao mesmo tempo”, afirma Rodrigo.
Com custos menores e tempo reduzido, a tecnologia deixa de ser investimento caro para se tornar retorno rápido. “O investimento já não é inacessível.Ele se paga com agilidade, economia de pessoal e conversão maior”, reforça Renata.
Luís complementa com um raciocínio financeiro direto. Se uma incorporadora gera mil leads mensais a R$50, investe R$50 mil. Sem IA, metade pode nunca responder, R$25 mil viram perda imediata. Com tecnologia ativa no contato inicial, reengajamento e nutrição automática, esse dinheiro volta ao funil e aumenta as chances de venda.
A IA trabalha e o humano vive
A automação elimina tarefas repetitivas, mas não substitui emoção e negociação, etapas sensíveis e humanas do processo imobiliário. O profissional da linha de frente deixa de ser apenas vendedor e passa a assumir um papel híbrido, estratégico. “O corretor não será substituído pela IA. Ele será substituído pelo corretor que usa IA”, diz Sobreira. A função ganha eficiência quando o humano interpreta dados, ajusta o discurso e atua onde a máquina não chega, empatia, confiança e conexão emocional com o sonho da casa própria.
Ao discutir o que ainda vem pela frente, os especialistas reforçam que a próxima geração da IA será mais autônoma e proativa, capaz não só de responder, mas de executar ações completas, sugerir caminhos e concluir tarefas sozinha. O objetivo final não é substituir o humano, mas libertá-lo para atividades mais criativas e menos operacionais. “Se é repetitivo, não é humano. A IA deveria melhorar nossa vida para que a gente tenha tempo para o que só o humano faz: emoção, escuta, estratégia”, destaca Luís.
A discussão completa foi tema do podcast Morar em Pauta, da Emccamp, que reuniu Renata Peixoto Dias, Luís Veloso (Morada IA) e Rodrigo Sobreira (DiHub) em um bate-papo sobre o uso da inteligência artificial na jornada comercial do mercado imobiliário, da captação ao contrato.
O episódio já está disponível no Youtube, Spotify e principais plataformas de áudio.
Nenhum comentário