Brasil cresce mais que mercado global de fundos
Por Silvia Rosa | De São Paulo
Enquanto os países desenvolvidos se recuperam da crise das
hipotecas de 2008 nos EUA, e mais recentemente, dos problemas de endividamento
na Europa, no Brasil o mercado de fundos de investimento cresceu 67,5% nos
últimos quatro anos alcançando um patrimônio de R$ 2,368 bilhões em abril. Tal
marca coloca o país como sexto maior do mundo no setor.
A expectativa para os próximos cinco anos é de aumento de
32% da captação líquida, enquanto o mercado global deve ter retração de 1%
nesse mesmo quesito. É o que revela estudo elaborado pela consultoria da Casey
Quirk &Associates LLC, que será apresentado hoje no Congresso de Fundos
realizado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de
Capitais (Anbima).
O crescimento dos ativos sob gestão deve trazer um aumento
próximo de 40% das receitas para as gestoras nacionais nos próximos cinco anos,
uma das taxas mais altas do mundo, só perdendo para a América Latina, com
expansão perto de 50% quando se exclui o Brasil dessa conta.
A queda dos juros, o crescimento dos fundos de previdência e
a ascensão das classes C e D são alguns dos fatores que têm impulsionado o
desenvolvimento da indústria, segundo Daniel Celeghin, responsável pelo estudo.
A Selic em nível mais baixo deve aumentar a demanda por
portfólios sofisticados, que ofereçam retorno maior, favorecendo as gestoras
independentes, não ligadas a bancos, e que têm na prateleira carteiras
diferenciadas como "hedge funds", fundos imobiliários e de
"private equity". Esses fundos costumam cobrar taxa de administração
maior, além de prêmio pela performance.
A pesquisa, que envolveu as 15 maiores gestoras brasileiras,
abordou ainda o quadro de funcionários, comparado com o volume sob gestão e
também os planos de internacionalização.
Apesar do crescimento de produtos que investem em ativos no
exterior, a parcela dos fundos aplicada em mercados lá fora ainda é pequena e
não chega a 2% do patrimônio da indústria de fundos brasileira. Em outros
países, o total da carteira alocado em ativos estrangeiros chega a 20,1% no
Chile e a 16,5% nos Estados Unidos.
A estratégia das gestoras brasileiras em relação à
internacionalização ainda é muito focada na distribuição de produtos locais no
exterior. De acordo com o estudo, 54% dos gestores afirmaram que pretendem
comercializar fundos brasileiros fora do país. Já 31% dos gestores locais
afirmaram que pretendem desenvolver fundos internacionais para venda no Brasil.
"As gestoras brasileiras devem seguir o modelo europeu e buscar parcerias
com instituições lá fora para alocação em ativos no exterior", afirma
Celeghin.
Mesmo o mercado de gestão brasileiro apresentando taxas
atrativas de crescimento, a grande concentração dos ativos nas instituições
ligadas a bancos é uma das barreiras para a entrada de casas globais nesse mercado.
O mercado local conta com 477 gestoras, mas as dez maiores
instituições, ligadas a bancos, concentram 75% do patrimônio do setor. "O
mercado de distribuição no Brasil é muito fechado e dominado pelos grandes
bancos", reforça Celeghin. Grandes gestoras como a Aberdeen e Pimco
abriram escritórios no Brasil, mas ainda não oferecem produtos no mercado
local.
Para o executivo, o caminho para as grandes gestoras globais
ganharem participação no país deve vir de parcerias de distribuição com as
instituições locais. "Muitas gestoras trouxeram para o Brasil produtos que
não tinham demanda pelos investidores locais. Além disso, a alocação dos
investidores institucionais em ativos no exterior ainda é pequena", afirma
Celeghin.
FONTE VALOR ECONÔMICO
Nenhum comentário