Governo calculou mal taxas de retorno, dizem analistas
Por Claudia Facchini | De São Paulo
O fraco interesse no leilão de linhas de transmissão,
realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na sexta-feira, foi
interpretado pelos analistas como um sinal de que o governo calculou mal as
taxas de retorno fixadas para os empreendimentos. O deságio de 11,96% foi o
mais baixo desde 2008, quando o desconto médio oferecido no leilão das linhas
de transmissão do rio Madeira atingiu 7,15%.
"É hora de [o governo] repensar sua estratégia",
escreveu o analista do Itaú BBA, Marcos Severine, em seu relatório sobre os
resultados do último leilão. Na sua avaliação, a falta de interesse dos
investidores demonstra que houve "alguns equívocos".
Para a analista do banco UBS, Lilyanna Yang, a falta de
interesse reflete, além das baixas taxas de retorno especificadas pela Aneel, o
impacto da renovação das concessões para as empresas de transmissão, como
Eletrobras, Cemig, Copel e Cteep. As linhas que tiveram suas concessões
prorrogadas sofreram um corte de 70% em suas receitas anuais permitidas (RAP).
A taxa de retorno regulatória (conhecida pela sigla WACC, em
inglês) fixada pela Aneel para os projetos leiloados na sexta-feira foi de 5%,
abaixo dos 5,6% estabelecidos em 2011.
Em entrevista concedida após o leilão, em São Paulo, o
diretor da Aneel, Julião Coelho, defendeu os percentuais fixados. Segundo ele,
o cálculo das taxas de retorno segue parâmetros "bem definidos e
transparentes", que incluem indicadores como o risco Brasil. "Esse é
um processo que passa por audiência pública e não depende de discricionalidade".
Segundo Coelho, a falta de interesse no leilão também não reflete a renovação
das concessões, mas sim outros fatores, como questões fundiárias.
No entanto, grande parte dos analistas faz outra leitura. O
resultado do leilão indica que "existem oportunidades melhores de expansão
via fusões e aquisições, o que tem sido a estratégia da Taesa, ou em outros
segmentos, como o investimento da Alupar em geração de energia",
escreveram os analistas BofA Merrill Lynch, Felipe Leal, Diego Moreno, Luiz
Antonio Leite. Eles também consideram positiva a não participação da Copel no
leilão, o que sinaliza que a estatal pode adotar uma política de distribuição
de dividendos mais favorável.
Na avaliação de Lilyanna Yang, questiona-se no setor se o
governo irá elevar as taxas de retorno para as linhas de transmissão, como foi
feito para as rodovias. "Não sabemos a resposta, mas estamos inclinados a
dizer que não".
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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