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Cities for Everyone discute e propõe soluções para tornar as cidades melhores para as mulheres

Ouvir as mulheres, tanto no âmbito político quanto no local onde elas vivem, e usar a tecnologia como uma aliada neste processo são os primeiros passos para que as cidades sejam seguras e inclusivas para todos 

Foto/Divulgação
São Paulo, 13 de fevereiro de 2017 – Uma cidade inclusiva e mais segura para todos que nela vivem precisa dar voz às mulheres de maneira urgente e necessária. E a tecnologia pode ser uma importante aliada neste processo, promovendo o diálogo e oferecendo soluções para mulheres que são mães, chefes de família e grande parte da população economicamente ativa do Brasil.

Essa foi uma das principais conclusões do evento Cities for Everyone, realizado na tarde de sábado, 11 de fevereiro, em São Paulo. Cerca de 60 pessoas, sendo a grande maioria mulheres, se reuniram para discutir os problemas e apresentar soluções para que as cidades se tornem lugares que facilitam a vida das mulheres.

O evento foi promovido pela UP[W]IT (Unlocking the Power of Women in Technology), iniciativa que estimula a participação feminina na área de tecnologia por meio da criação de experiências e teve o patrocínio da CA Technologies. O encontro também foi transmitido pela Internet, na página da UP[W]IT no Facebook.

Carine Roos, idealizadora do UP[W]IT e do Cities for Everyone/Divulgação
“A questão de gênero vai ser a grande transformadora das cidades. Se tivermos mais planejadoras urbanas as cidades certamente serão mais inclusivas”, afirmou Carine Roos, idealizadora da UP[W]IT e do Cities for Everyone.

“É preciso colocar as mulheres no centro da inovação”, resumiu.

De acordo com Fernando Sousa, da CA Tecnologies, o evento mostra que a diversidade deve ser levada em conta pelas empresas de tecnologia na definição das suas estratégias. “Como é possível criar uma conexão com um público-alvo tão diversificado se você mesmo não pratica a diversidade?”, disse o executivo na abertura do evento.

Após a abertura, os participantes tiveram um período para se conhecer. Eram homens e mulheres dos segmentos de tecnologia, design, arquitetura e urbanismo, educação, comunicação, entre outros, dispostos a conhecer os problemas enfrentados pelas mulheres, entender por que eles sugiram e como eles podem ser solucionados.

O passo seguinte foi um painel em formato de Aquário (Fishbowl) onde as painelistas e as participantes discutiram os principais desafios enfrentados pelas mulheres no uso dos espaços urbanos.

Painelistas discutiram os principais desafios enfrentados pelas mulheres no uso dos espaços urbanos/Divulgação
A arquiteta e urbanista Joice Berth destacou que as desigualdades não se formam sozinhas dentro de uma sociedade, e que as cidades refletem as políticas públicas que incentivam a invisibilidade da mulher. “A ideia é que a mulher é destinada ao espaço doméstico, e não ao espaço público. A cidade não é um ente independente: ela é fruto do nosso pensamento”, afirmou.

A Gerente de Governança Urbana do WRI Brasil Cidades Sustentáveis Daniely Votto apontou que as cidades foram desenhadas por homens, dentro da visão masculina do que seria prático e viável. “Eles não conseguem ver os problemas que são gerados para nós”, afirmou. Além disso, Daniely destacou a fundamental importância da mulher se tornar de fato uma protagonista na política, e não apenas uma “cota” a ser cumprida.

Já Stella Hiroki, Mestre pelo departamento de Tecnologias da Inteligência e do Design Digital da PUCSP e doutoranda pelo mesmo departamento com o projeto sobre a questão das Smart People dentro das Smart Cities, pontuou que as cidades inteligentes precisam levar em conta seis fatores fundamentais: Pessoas, cidadãos inteligentes, governo, moradia, mobilidade e economia. “A educação é fundamental para se construir uma cidade inteligente”, afirmou.

Por fim, Marina Harkot, cientista social e mestranda em planejamento urbano na FAUUSP, onde estuda desenvolvimento urbano e mobilidade urbana a partir de uma perspectiva de gênero, disse que São Paulo é uma cidade feita com avenidas exclusivas para carros, o que mostra um viés completamente masculino. “As mulheres sempre estiveram ocupando as ruas, no mercado de trabalho. Elas andam muito a pé por causa dos microtrajetos. Só que nós temos toda uma política pública que só pensa nas pessoas por quem as cidades foram construídas”, completou.

Desta forma, inserir a mulher dentro das decisões sobre as cidades, tanto na política quanto ouvindo o que elas têm a dizer, sejam nos centros ou nas periferias, é fundamental para a construção de uma cidade melhor para elas.

O painel foi facilitado por Patricia Santin, sócia proprietária da Sementeira - Inovação Social e Desenvolvimento, e a conclusão foi que uma cidade melhor para as mulheres é uma cidade mais segura para todos.

No momento seguinte, a mestre em Políticas Sociais, ONGs e Desenvolvimento Clarisse Cunha Linke falou sobre como influenciar o planejamento de políticas públicas para que elas sejam de fato inclusivas.

Novas ideias para antigos problemas

E para finalizar o evento, o Coletivo Mola, por meio de metodologias de design thinking, propôs que os participantes desenvolvessem e apresentassem soluções para as cidades com base nos desafios levantados durante o painel.

“As painelistas sempre trazem muito repertório para nós debatermos. E o workshop final foi importante para que as pessoas presentes não apenas falassem sobre os problemas, mas que também apresentassem soluções. E por mais que as painelistas tenham muito a dizer, a gente sempre descobre coisas novas nestes workshops, onde realmente conseguimos dar voz para que todos possam participar”, afirmou Luciana Terceiro, criadora do Coletivo Mola.

Entre as ideias propostas está a de integrar escolas públicas com famílias de imigrantes que habitam a região central de São Paulo. Muitas mães não dominam o idioma, e a criança acaba servindo de ponte para a comunicação entre a mãe e a escola. Visando melhorar essa comunicação, e também quebrar preconceitos que alguns professores possuem sobre outras culturas, a solução proposta trabalha com a produção de uma coleção de vídeos gravados pelas próprias crianças de modo a se usar a comunicação oral, onde escola e família trocam conhecimentos, tiram dúvidas e respondem a anseios e expectativas sobre o dia-a-dia da educação da criança.

Outra solução proposta teria como objetivo auxiliar a mobilidade de mães com crianças de colo que percorrem longas distâncias diariamente entre centro e periferia, por meio de uma política pública de um sistema de compartilhamento de carrinhos de bebê dobráveis, que teriam seu uso liberado por meio de integração com o bilhete único e poderiam ser devolvidos em qualquer posto de retirada e devolução de carrinhos. Estes postos estariam espalhados por diversos pontos estratégicos da cidade, tanto na região central como em bairros periféricos. Os dados coletados por esse sistema, após serem anonimizados para preservar a privacidade dos indivíduos, poderiam ajudar a gerar novos insights sobre planejamento do sistema de transporte, considerando as necessidades específicas de mulheres com crianças de colo.

As soluções pensadas serão disponibilizadas em breve em uma plataforma online acessível pelo site da iniciativa UP[W]IT (em http://upwit.org/) formando um "banco de sugestões" para quem está pensando no desenvolvimento sustentável de cidades, podendo assim ser apresentado futuramente para ONGs e empresas que estão implementando tecnologias para cidades inteligentes.

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