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APTA realiza eventos para promover cultura de inovação dentro de seus institutos

Workshop discute o papel dos Núcleos de Inovação Tecnológica e busca o desenvolvimento de um ambiente propicio para projetos inovadores

A Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, realiza workshops em todos os seus seis institutos de pesquisa para debater a inovação e o papel dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs), criados com o objetivo de fomentar a inovação e a parceria dos institutos com a iniciativa privada.

O objetivo do “I Workshop NIT APTA” é começar a criar a chamada cultura de inovação dentro dos institutos de pesquisa, promovendo um ambiente propicio para o desenvolvimento de novos projetos inovadores. O evento é destinado ao público interno. As primeiras edições ocorreram no Instituto Biológico (IB), em São Paulo, Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), em Campinas, Instituto de Pesca (IP), em Santos e São Paulo, e Instituto de Zootecnia (IZ), em Nova Odessa. O mesmo evento será realizado em março no Instituto de Economia Agrícola (IEA) e Instituto Agronômico (IAC). Ao todo, 212 pesquisadores e servidores administrativos participaram das primeiras edições.

“A criação dos Núcleos de Inovação Tecnológica é muito recente, por isso, precisamos explicar e debater seu funcionamento com os pesquisadores. Queremos criar um ambiente de inovação dentro das instituições”, afirmou Gisele Anne Camargo, pesquisadora e responsável pelo NIT APTA. A ideia é que a realização de eventos e ações voltadas ao público interno das instituições fomente o interesse dos pesquisadores em desenvolver e submeter projetos inovadores, que atraiam interesse da iniciativa privada.

Durante os workshops foi contextualizada a inovação no âmbito da APTA, discutidos conceitos de propriedade intelectual, sistemas de patente e proteções de novas variedades de plantas. Também foi abordado o cenário de patentes do Brasil e a criação, atribuição e estruturação dos NITs na Secretaria de Agricultura.

Patentes APTA
“Após a regulamentação do NIT-APTA de apoio aos NIT dos Institutos foram solicitados quatro novos pedidos de patente, além de parcerias com empresas privadas e apoio para elaboração de projetos Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE-Fapesp). Todos esses projetos contam com consultoria jurídica e apoio da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio (Fundepag). Começamos a trabalhar em setembro de 2016. Nossa avaliação é que os projetos estão andando com rapidez”, afirmou Gisele.

Em sua apresentação, a responsável pelo NIT APTA contou alguns cases de processos de registros de patentes e de parcerias trabalhadas pelo NIT. Um deles foi a parceria assinada pelo IZ e a empresa HYG System, com interveniência da Fundepag, em novembro de 2016. O projeto prevê o desenvolvimento de um produto formulado com óleos essenciais para avaliar a eficácia em relação a pragas de importância veterinária, como mosca do chifre, mosca do berne, mosca dos estábulos e carrapato.

Outro exemplo foi o trabalho do Polo Regional de Ribeirão Preto da APTA que resultou em um produto para substituir os antibióticos na dieta dos gados de corte. O produto está protegido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).

Plantando a semente
Segundo Luciana Teixeira, especialista em inovação e coordenadora do NIT Fundepag, a ideia do primeiro workshop é aproximar o trabalho dos Núcleos de Inovação do corpo técnico das instituições. “Estamos plantando uma sementinha para mudar a cultura dos institutos para a inovação. Queremos que os pesquisadores conheçam nosso trabalho e comecem a enxergar oportunidades”, afirmou.

A sementinha plantada começou a render resultados no próprio evento. Muitos pesquisadores já começaram a olhar para seus trabalhos de outra forma e a questionar as palestrantes Gisele e Luciana, para saber o potencial de inovação de seus projetos.

O pesquisador do Instituto de Pesca, Eduardo Gomes Sanches, foi um deles. “O evento foi muito importante para aprendermos a não perder oportunidades de o nosso conhecimento resultar em uma inovação. Estamos em um momento de mudança do modo de se fazer pesquisa em São Paulo. Não dá mais para as instituições sobreviverem em um modelo que não contemple a inovação e a interação com as empresas privadas”, disse.

A mesma opinião é compartilhada por Luiz Marques da Silva Ayroza, diretor-geral do Instituto de Pesca. Para ele, as novas legislações permitiram iniciar uma mudança nos institutos de pesquisa ligados à Secretaria de Agricultura paulista. “Vivemos um momento ímpar de mudança para as instituições e pesquisadores, que poderão ser remunerados pelas inovações que desenvolverem. Este evento despertou para que cada pesquisador analise o potencial de inovação nos projetos que estão realizando e que já realizaram e comecem a incorporar esses conceitos nos projetos futuros”, afirmou.

Novo momento para parcerias
O novo momento dos institutos, referidos pelos pesquisadores, se devem ao processo de regulamentação dos NITs e a assinatura da Resolução nº 12, pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, que define os critérios do direito da participação do pesquisador na inovação desenvolvida. Segundo Orlando Melo de Castro, coordenador da APTA, a regulamentação permite a parceria em projetos conjuntos com a utilização em comum de espaços de pesquisa e laboratórios e a partição com exclusividade do direto de uso de patente e propriedade intelectual.

Entre 2014 e 2015, a iniciativa privada investiu cerca de R$ 109 milhões na APTA, o que representa 17% do orçamento no período, aproximadamente. “Com a nova resolução, a participação privada tende a aumentar, assim como os investimentos de agências de fomento estaduais e federais e organismos internacionais. Nossa meta, é que o recurso privado represente 25% do orçamento da APTA até 2018”, explicou Castro.

Para o Arnaldo Jardim, secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, o estabelecimento desses critérios é um salto no fomento ao agronegócio, pois normatiza os instrumentos jurídicos que facilitam as relações entre os institutos e a sociedade, assim como é praticado nos países que mais inovam no mundo, como Estados Unidos, Coréia do Norte e Japão.

“A inovação tecnológica é fundamental para o desenvolvimento e independência econômica de um País. A interação entre as instituições de pesquisa e a iniciativa privada precisa de normas claras e fáceis para que os novos produtos e processos sejam adotados pelo setor produtivo. Uma das diretrizes do governador Geraldo Alckmin é justamente aproximarmos a pesquisa do setor de produção”, afirmou.

Inovação no Brasil
Durante o evento, Luciana apresentou aos pesquisadores dados sobre a inovação no Brasil. O País ocupa a 19ª colocação no ranking de patentes, tendo 41.453 patentes ativas. A espera média para que um pedido seja analisado no País leva ao menos dez anos. “Isso não quer dizer, porém, que será necessário esperar todo esse tempo para negociar a tecnologia com as empresas”, explicou. A demora nas análises está ligada ao fato do número reduzido de examinadores brasileiros: 192 para cada 184.224 pedidos – uma média de 980 pedidos por examinador.

No ranking de inovação, o Brasil ocupa a 69ª posição, de 128. “Somos um País que inova pouco, apesar de termos uma pesquisa científica bem classificada. Somos o 15º País que mais publica artigos científicos e o 23º em número de citações. Nossa pesquisa é boa, mas ainda pouco patenteada. A patente, porém, é uma ferramenta e não a única forma de se transferir ou comercializar o novo produto ou processo”, afirmou Luciana.

Sérgio Luiz dos Santos Tutui, pesquisador do Instituto de Pesca e diretor da Fundepag, explicou que a valorização do conhecimento vem ganhando força em nível global, com marcas como Apple e Google, por exemplo. “2014 foi o primeiro ano da história em que o PIB mundial veio do conhecimento e não da produção. O conhecimento é fundamental para a economia. No Brasil, a relação entre produção de papers e registro de patente é dispare. Os institutos de pesquisa e instituições de ciência e tecnologia precisam de uma forte gestão do conhecimento pela inovação e também sustentabilidade”, explicou.

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