Festival Yesu Luso promove reunião entre artistas de países lusófonos no Sesc Ipiranga
Mostra de teatro em língua portuguesa, que ocorre entre 2 e 11 de junho, reúne atores, autores e pensadores de cinco nações
Peça I Can't Breathe (divulgação)
Portugal, Moçambique, Cabo Verde, Brasil e Angola encontram-se no palco do Sesc Ipiranga, entre os dias 2 e 11 de junho, no Festival Yesu Luso – Teatro em Língua Portuguesa, que tem curadoria da atriz Arieta Corrêa e do produtor Pedro Santos. Presentes nos cinco continentes, o idioma que une todas essas nações é o quarto mais falado no mundo. Mas, às vezes, parece caminhar isolado, solitário. “O que nos choca é o gigantesco afastamento entre as pátrias falantes dessa mesma língua. Um silêncio, um abismo, uma distância, no que se refere às relações sociais entre a maioria dos países lusófonos”, comenta Arieta.
Com o sonho de mudar esse panorama, a mostra mistura o português em infinitas possibilidades e trabalha as relações que cada um dos países têm com a produção artística brasileira. Durante a programação, que traz seis peças de teatro, uma oficina e três debates com artistas e pensadores dos cinco países, essas combinações podem ser, por exemplo, de nacionalidades.
A troca de experiências culturais acontece em dois diferentes espetáculos de trupes portuguesas, dirigidas por dois grandes nomes do teatro brasileiro. O diretor carioca Eduardo Tolentino de Araújo, fundador do Grupo TAPA, por exemplo, comanda o núcleo artístico da Companhia de Teatro de Braga na montagem Um Picasso, do dramaturgo norte-americano Jeffrey Hatcher.
Já o encenador brasileiro Marco Antonio Rodrigues, cofundador da Cia. Folias D´Arte e ganhador dos prêmios Molière e Mambembe, está na direção de “As Três Irmãs (Making Of)”, inspirado na obra homônima do escritor russo Anton Tchekhov (1860-1904). A montagem é encenada pelo português Grupo Teatrão.
Ao pensar em uma (re)aproximação humana e histórica, os curadores do Yesu Luso chegaram à conclusão de que o melhor caminho para essa interação seria a arte. “Através das diferentes expressões artísticas de cada um desses países, poderemos refletir, nos relacionar, nos identificar e nos envolver verdadeiramente uns com os outros”, observa Corrêa.
A plateia brasileira terá acesso a figuras que norteiam a cultura e o imaginário angolano em Rostos de Loanda, Luanda, do Grupo Colectivo Miragens de Teatro. Também vai acompanhar as questões do feminismo na realidade moçambicana em Qual é a Sentença? A Mulher que Matou a Diferença, com interpretação forte de Assucena Daniel e Castigo dos Santos.
Temas densos, como o abuso sexual de menores, são apresentados pelos cabo-verdianos do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo em Teorema do Silêncio, com texto de Caplan Neves e direção de João Branco. O cansaço generalizado e o extermínio da intimidade no mundo de hoje são os debates de um ator de teatro e de uma atriz pornô em “I Can´t Breathe”, em que Elmano Sancho surge como autor, diretor e ainda interpreta, ao lado de Cheila Lima.
NASCEDOURO
O Festival Yesu Luso, que tem seu nome derivado de um dialeto moçambicano (em que o termo “yesu” significa nosso), surgiu de um projeto-piloto chamado Festival de Teatro Lusófono, que foi apresentado por Arieta Corrêa e Pedro Santos no Sesc Bom Retiro, em 2015. Essa “primeira edição” tinha um formato parecido, com peças e workshops de artistas trazidos dos mesmos cinco países da mostra repaginada.
ARIETA CORRÊA
Nascida no interior de São Paulo, Arieta Corrêa começou sua carreira no teatro amador aos 10 anos. Integrou o elenco da Companhia de Ópera Seca, do encenador carioca Gerald Thomas, enquanto cursava Letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atuou em sua primeira novela, “O Rei do Gado”, com direção de Luiz Fernando Carvalho, em 1996.
Três anos mais tarde entrou para o CPT de Antunes Filho, com quem trabalhou por oito anos e contracenou nas peças “Medeia 1 e 2”, “Antígona” “O canto de Gregório” e “Pret-a-porter”. Ela também dirigiu os espetáculos “Macbeth”, de William Shakespeare, e “Cartas ao jovem Poeta”, de Rainer Maria Rilke.
A partir de 2010, a atriz iniciou sua carreira no cinema, ao participar dos longas-metragens “Como Esquecer”, de Malu de Martino; “VIPs”, de Toniko Melo; “Um Homem Qualquer”, de Caio Vecchio; “Vitrola”, de Charly Braun; “Finding Josef”, de Moises Menezes; e “Octávio e as Letras”, de Marcelo Masagão.
Seus mais recentes trabalhos teatrais foram “TRIBOS”, de Ulisses Cruz; “Florbela”, de sua autoria, e “Jacqueline”, de Rafael Gomes. Foi indicada e contemplada com importantes prêmios brasileiros de artes cênicas, como Shell, Questão de Crítica e Quem.
PEDRO SANTOS
Nascido em Braga, no norte de Portugal, em 1981, Pedro Santos tem bacharelado em Animação e Produção Artística e licenciatura em Produção Artística, ambos no Instituto Politécnico de Bragança. Ele também é formado em Audiovisuais e Multimédia, pela PME Portugal.
Organizou, ainda na faculdade, a 1ª Bienal do Mascareto, em Bragança, e, nesse mesmo período, trabalhou na Câmara Municipal de Braga, realizando grandes produções como “O Bragajazz”, “O BragaRomano” e o “Mimarte”. Trabalhou durante oito anos como produtor do histórico Theatro Circo de Braga, um espaço centenário que mantém uma programação nacional e internacional intensa.
Chegou ao Brasil em 2015 para produzir o espetáculo “Florbela”, de Arieta Corrêa, inspirado na biografia e poemas da poetisa portuguesa Florbela Espanca (1894-1930).
Confira abaixo a programação do Festival Yesu Luso – Teatro em Lingua Portuguesa:
Espetáculos
“Um Picasso” - Companhia de Teatro de Braga (Portugal)
Paris é ocupada pelos alemães. A Gestapo quer uma obra de Picasso para um vernissage. Ele é levado a um bunker, onde conhece uma atraente loura que está ali em missão secreta: obter a autenticação do artista em, pelo menos, um de três autorretratos. Depois de uma batalha verbal entre o pintor e a agente, Picasso acaba por assumir os três desenhos, de diferentes períodos da sua vida.
Autor: Jeffrey Hatcher Tradução: Brian Head / Encenação: Eduardo Tolentino de Araújo / Elenco: Rui Madeira e Solange Sá
Classificação: 12 anos
Onde: Teatro
Quando: 2 e 3/6, às 21h
Quanto: R$ 30,00, R$ 15,00 e R$ 9,00
“I can´t breathe”, de Elmano Sancho (Portugal)
Um ator de teatro e uma ex-atriz de filmes pornográficos encontram-se com a esperança de entender a crescente ausência de intimidade, a necessidade urgente em tornar tudo visível, a sensação de sufoco e indiferença, o cansaço generalizado e, sobretudo, tentam evitar o fim anunciado do mistério e da ilusão nas suas vidas.
Autoria e Encenação: Elmano Sancho / Apoio à dramaturgia: Rui Catalão / Interpretação: Cheila Lima e Elmano Sancho
Classificação: 18 anos
Onde: Auditório
Quando: 6 e 7/6, às 21h30
Quanto: R$ 30,00, R$ 15,00 e R$ 9,00
“As três irmãs (Making Of)”, do Grupo Teatrão (Portugal)
Irina, Macha, Olga, André e Verchinin estão na sala de estar de uma casa-fantasma. As perguntas de Anton Tchekhov (1860-1904) nesse texto, são feitas por todos nós: O que se pode construir depois da destruição? O que se pode querer? O que se pode sonhar? Vivemos e revivemos a história desta família, porque afinal tudo lá nos é familiar. O texto é construído a partir da obra “Três Irmãs”, do escritor russo.
Encenação: Marco Antonio Rodrigues / Elenco: Inês Mourão, Isabel Craveiro, João Santos, Margarida Sousa, Rui Raposo / Elenco de apoio: Miguel Rocha e João Amorim.
Classificação: 12 anos
Onde: Teatro
Quando: 10/6, às 21h, e 11/6, domingo, às 18h
Quanto: R$ 30,00, R$ 15,00 e R$ 9,00
“Qual é a sentença? A mulher que Matou a Diferença”, do Grupo Katchoro Kupalucha
(Moçambique)
Num tribunal, não se sabe bem onde, uma mulher é julgada por ter matado a diferença. Por ter tido a coragem de gritar um basta à sujeição e à submissão, em que durante séculos as mulheres eram sempre condenadas. Antes de se ditar a sentença, em jeito de protesto, ela faz um monólogo da sua dor. Conta as peripécias da sua vida. Com ela, o público revive o drama da mulher num mundo governado pela cegueira do machismo.
Texto e direção: Guilherme Roda / Elenco: Assucena Daniel e Castigo dos Santos
Classificação: 14 anos
Onde: Auditório
Quando: 3/6, às 19h30, e 4/6, às 18h30
Quanto: R$ 30,00, R$ 15,00 e R$ 9,00
“Rostos de Loanda, Luanda”, do Grupo Colectivo Miragens (Angola)
A peça narra a história de rostos que marcaram a cidade de Loanda, hoje conhecida como Luanda. Retrata a vida de João Muleta, um deficiente que, após se embriagar, vê figuras importantes que marcaram a história da cidade. Em suas alucinações, aparecem Salvador Correia de Sá e Benevides, Dom Miguel de Melo, o fundador da cidade, Paulo Dias de Novais, o Grupo Ngola Ritmos, os músicos Urbano de Castro, Minguito, Luís Visconde, entre outros. Um misto de história e realidade que marcaram a sociedade angolana e que são retratadas por estas figuras.
Texto e encenação: Walter Cristóvão /Interpretação: Wime Braúlio, Luís da Costa, Elizabeth Rodrigues, Rodrigo Fernandes, Eliseu Diogo, José Teixeira, Serafina Muhongo, Rosa Sousa, Mariana António, Sizainga Francisco e Sidónio Domingos
Classificação: 14 anos
Onde: Teatro
Quando: dias 7 e 8/6, às 21h
Quanto: R$ 30,00, R$ 15,00 e R$ 9,00
“Teorema do Silêncio”, do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo
(Cabo Verde)
O espetáculo trata do abuso sexual de menores. Em sua dramaturgia, não permite que o público fique neutro a esta temática. Abordando objetivamente o silêncio sobre a violência, fala de abuso e de morte - da alma e do corpo - como coisas reais e comuns. A partir deste assunto, o espetáculo promove o direito à recusa de toda espécie de manipulações corporais e espirituais invasivas.
Texto: Caplan Neves / Encenação, Cenografia e Direção Artística: João Branco / Interpretação: João Branco e Janaina Alves
Classificação: 12 anos
Onde: Auditório
Quando: 9/6 – sexta, às 21h30 / 10/6 - sábado às 19h30
Quanto: R$ 30,00, R$ 15,00 e R$ 9,00
Atividades de formação
As inscrições serão feitas na Central de Atendimento do Sesc Ipiranga a partir do dia 2/6. Para maiores de 16 anos.
Bate-papo
Mesa de Diretores
Com Rui Madeira (Portugal), Eduardo Tolentino (Brasil) e Marco Antonio Rodrigues (Brasil). Mediação de Arieta Correa.
Bate-papo entre três diretores teatrais que terão trabalhos apresentados na mostra Yesu Luso – Teatro em Língua Portuguesa. Na pauta, o processo de desenvolvimento de seus trabalhos realizados em outros países lusófonos. Também serão abordadas as impressões trocadas, experiências, dificuldades e descobertas destes intercâmbios.
Onde: Convivência
Quando: 2/6, sexta, às 15h
Quanto: Grátis
Bate-papo
Cena Lusófona
Com Diaz Santana (Moçambique), Elmano Sancho (Portugal), João Branco (Cabo Verde) e José Teixeira (Angola). Mediação de Arieta Correa. Conversa entre artistas de diferentes culturas, debatendo sobre suas expressões lusófonas no teatro e a importância da propagação em outros países falantes da língua portuguesa.
Onde: Convivência
Quando: 10/6, sábado, às 15h
Quanto: Grátis
Oficina
Making Of - Oficina de interpretação a partir de As Três Irmãs
Com Isabel Craveiro e Marco Antonio Rodrigues.
Ação desenvolvida a partir da versão de “Três Irmãs”, de Anton Tchekhov, gerada no processo entre o encenador brasileiro Marco Antonio Rodrigues e o coletivo português Teatrão. Nesta versão, criada sob a tensão de um momento crítico para Portugal, o espetáculo circula em quatro atos, por quatro espaços: uma repartição pública, um local em que a arquitetura contemporânea se confronta com a ruína, um espaço militar e o jardim do teatro. O trabalho com os participantes se dará a partir de um fragmento do texto do segundo ato e partindo de fotografias deles, que marquem momentos importantes tanto para suas vidas quanto para o país.
Onde: Espaço de Tecnologias e Artes
Quando: 8 e 9/6, quinta e sexta, às 19h
Quanto: Grátis / 20 vagas
Encontro
O Teatro Português e o Contexto Socioeconômico
Com Rui Vieira Nery
O encontro retoma o debate da conferência “Cultura e Neoliberalismo”, parte integrante de um ciclo mais vasto denominado “CASA/TERRITÓRIO: Sujeito, Democracia e Pertença”, desenvolvido a partir da produção “As Três Irmãs (Making Of)”. Neste encontro, serão debatidas questões acerca da contemporaneidade e a forma como a Arte pode criar brechas de discussão e alternativas a uma construção hegemônica do mundo.
Onde: Teatro
Quando: 11/6, domingo, às 15h
Quanto: Grátis
YESU LUSO – TEATRO EM LÍNGUA PORTUGUESA
De 2/06 a 11/06. Teatro (200 lugares)
Ingressos: R$ 9,00 a R$30,00
Sesc Ipiranga: Rua Bom Pastor, 822 – Ipiranga
Telefone – (11) 3340-2000 - www.sescsp.org.br/ipiranga
Acesso para deficientes físicos
Não temos estacionamento
Ingressos à venda pelo portal www.sescsp.org.br ou nas bilheterias das unidades
Bilheteria Sesc Ipiranga - Terça a sexta das 12h às 21h; sábados, das 10h às 21h30; domingos e feriados, das 10h às 18h
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