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2022: um ano que promete crescimento tímido, mas indispensável


Por Rodolfo Fücher, Presidente da Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES)


Apesar das inúmeras variáveis que podem impactar negativamente a economia em 2022, o setor de TI deverá ter um crescimento acima do PIB brasileiro, como vem ocorrendo historicamente. Para este ano, são diversos os fatores que devem continuar a abalar a economia brasileira, tais como eleições, instabilidade político-econômica, déficit fiscal e desvalorização expressiva do Real, que acarretarão em pressão sobre os valores de commodities, como combustíveis, alimentos e insumos de TI. Também devemos considerar outros fatores que trazem instabilidade em nível mundial, como o fim incerto do período pandêmico e um possível conflito armado na Ucrânia. As consequências vão desde implicações na mobilidade e na capacidade produtiva em todos os cantos do planeta, principalmente na China, até uma nova escassez de produtos, um risco inflacionário mundial e um aumento no custo do dinheiro, afetando diretamente o potencial de investimentos do setor produtivo e de consumo. Em resumo, como uma vez disse o professor Roberto Rigobon, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), o qual tive o prazer de conhecer durante um curso sobre macroeconomia global, em momentos de crise, tudo depende da habilidade da área econômica em calibrar as medidas corretivas diante das expectativas políticas. Porque medidas que trazem resultados imediatos, normalmente impactam severamente o futuro da economia. E, em um ano eleitoral, cria-se um verdadeiro embate econômico-político.
 

Porém, por outro lado, este cenário exige uma maior eficiência em todos os sentidos, e a uma busca sem precedentes por descobertas de novos modelos e oportunidades de negócios disruptivos, reforçando a tese da dita Transformação Digital, na qual a tecnologia desempenha um papel central. Um forte indicador neste sentido é o volume de investimentos em startups ocorrido em 2021, na ordem de US$ 9,4 bilhões, quase o triplo a mais do que no ano anterior. Outro fator interessante é ver “open innovation” como uma das principais estratégias adotadas por empresas na busca por inovação – de acordo com o PwC’s Innovation Benchmark 2021, das 1.222 empresas analisadas, 61% usam open innovation, comparado com 34% utilizando tradicional centro de R&D. Vale lembrar que as startups usam a tecnologia de forma intensa.


Quando olhamos para o desempenho do setor de tecnologia, comparado com o PIB brasileiro, percebemos claramente este potencial. Em 2020, o crescimento do setor de TI foi de 23% se comparado ao PIB negativo de -4%, em 2021. Dados preliminares apontam um crescimento superior a 15% em 2021, enquanto o PIB deve demonstrar um crescimento de 4%. Essa tendência de alta deve ficar na faixa dos dois dígitos, algo próximo a 10% em 2022, enquanto especialistas apontam um crescimento pífio para a economia brasileira, próximo a zero, colocando o desempenho do Brasil entre os três piores do mundo, entre os 173 países analisados pelo Banco Mundial, perdendo apenas para Mianmar (-0,8%) e Guiné Equatorial (-0,6%). Já a média mundial de crescimento do PIB deverá ficar na faixa de 4%.


Nos próximos 10 anos, deveremos presenciar um impacto ainda maior no uso da tecnologia em todos os setores e aspectos da sociedade, devido à confluência de três principais vetores: 5G, Inteligência Artificial e Computação Quântica. Mas, a título de reflexão, vamos nos concentrar em algo mais palpável: as tendências que devem contribuir para o crescimento do setor de TI em 2022. São elas:


Expansão do uso da nuvem pública: informações preliminares indicam um crescimento na ordem de 45% em relação a 2020, fechando o ano de 2021 com US$ 3 bilhões. Este crescimento deve-se manter forte em 2022, onde SaaS deverá atingir a faixa de U$ 2,5 bilhões, PaaS US$ 1.3 bilhões e IaaS US$ 1,9 bilhão. Uma importante referência é o uso da nuvem pública, em aplicações de CRM, ainda na faixa do 60%, e ERM abaixo de 20%.


Segurança da informação: o mercado de soluções de segurança deve fechar o ano de 2021 em US$ 1.5 bilhão, com uma expectativa de crescimento na ordem de 30% no segmento de nuvem para 2022. Fatores como início das penalidades ligadas à LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), somados ao crescimento exponencial das plataformas digitais/aplicativos com uso intenso de dados devem levar o mercado a implementar soluções mais robustas de segurança, a fim de evitar possíveis vazamentos de dados e, consequentemente, multas e indenizações milionárias.


Fortes investimentos em IA, Big Data, BI: Pesquisa com CIOs apontam estes segmentos como o segundo mais importante em termos de prioridade de investimentos após segurança da informação. A IA deve gerar cerca de US$ 464 milhões em 2021, um crescimento de 30% que deve se manter em 2022, e Big Data e Analytics Software algo entorno de US$ 1.9 bilhões em 2022, crescendo 14%.


IoT – um mercado nada desprezível: Deve atingir US$ 9,5 bilhões em 2022, um crescimento de 20% comparado com 2021, sendo praticamente metade hardware, software ficando com cerca de US$ 2 bilhões e serviços próximo a US$ 3 bilhões.


Início da implementação de 5G: deve impulsionar ainda mais o uso de diversas tecnologias, como IA, VR, Robótica, IoT, Edge Computing, além de inúmeras outras aplicações, adicionando negócios na ordem de US$ 2,7 bilhões entre 2021 e 2022.


Apesar de todas as oportunidades ao redor do setor de TI, a falta de mão de obra qualificada continua sendo o principal gargalo para o seu crescimento. Ultimamente, em consequência da pandemia e a migração para o trabalho virtual, profissionais brasileiros passaram a ser assediados por empresas localizadas fora do Brasil, ocasionando uma verdadeira “migração virtual” de talentos, pressionando uma alta de salários, piorando ainda mais a escassez de mão de obra. Por esse motivo, a ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software defendeu a prorrogação da desoneração da folha de pagamento e celebrou a Lei 14.288/21, sancionada em 31 de dezembro de 2021 – um importante componente para assegurar a competitividade de 17 setores da economia e vital para a manutenção de mais de seis milhões de empregos. Firme em seu propósito de contribuir para a construção de um Brasil mais digital e menos desigual, no qual a tecnologia da informação desempenha um papel fundamental para a democratização do conhecimento e a criação de novas oportunidades para todas e todos, de forma inclusiva e igualitária. A ABES seguirá lutando em 2022 pelas pautas que asseguram um ambiente de negócios propício à inovação, ético, dinâmico e competitivo globalmente.

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