O sistema de franchising está sofrendo com o etarismo?
Melitha Novoa Prado
Segundo dados do
Sebrae, a idade média do empreendedor brasileiro é de 44,7 anos. Ainda segundo
a entidade, o empreendedor brasileiro da 3ª idade é o que mais gera empregos no
país.
Muitas vezes sofrendo
preconceito no mercado de trabalho, profissionais com experiência decidem
empreender – e, não raro, optam por franquias. Eles trazem para seus novos
negócios a expertise que obtiveram no mercado de trabalho, desempenhando com
desenvoltura o papel de gestores das unidades franqueadas. Não raro, tornam-se
multifranqueados – aqueles com várias franquias de uma ou mais bandeiras.
Também marcam presença
no franchising os franqueados que já estão há muitos anos com suas parcerias
estabelecidas com as marcas e amadureceram com elas.
Algumas redes – a
exemplo do Yázigi, O Boticário, Bob´s, CCAA, Fisk, Localiza e Kumon – datam do
final dos anos 80 e têm franqueados daquela época ainda na ativa, embora a
maioria das unidades antigas já esteja na segunda ou terceira geração de
franqueados. Marcas mais novas mas, ainda assim veteranas, têm franqueados com
mais de 20 anos de operação – como Casa do Construtor, The Kids Club, Divino
Fogão, China in Box, Spoleto e tantas outras – o que mostra que franqueadores e
franqueados constroem a marca juntos.
Até hoje, não se
percebe uma predileção das marcas por franqueados de determinada faixa etária.
Nos processos de seleção, mais valem outras características – como ter o
capital necessário para o investimento, claro; perfil adequado para aquela
operação; facilidade com vendas e comunicação; conhecimento da região na qual a
franquia será implantada, dentre outros aspectos. Então, nesse sentido, não se
percebe o chamado etarismo nos processos seletivos.
Porém, podem-se
considerar delicadas algumas relações que se apresentam dentro do dia a dia das
franqueadoras – e para as quais é preciso ter uma atenção especial, antes que o
relacionamento entre franqueadores e franqueados se deteriore.
As equipes da
franqueadora são responsáveis por tornar a marca dinâmica e competitiva,
garantindo sua manutenção e perenidade no mercado. Cada vez mais, as redes
contratam jovens para suas equipes, com finalidades diversas: oxigenar ideias,
ampliar a inovação, baratear custos com mão de obra, enfim, motivos não faltam
para ter times compostos por profissionais cheios de energia e juventude – que
lidarão com a experiência dos franqueados que estão na rede há 20 anos.
Não quero entrar, aqui,
num discurso ou discussão de conflito de gerações, mas é importante que haja
uma harmonização nesse relacionamento. E é o franqueador e seus diretores quem
devem liderar essa harmonia, para que o franqueado aceite os profissionais jovens
e suas ideias, no sentido de atualizar a marca, e os novos colaboradores da
franqueadora valorizem toda a vivência de quem fez essa rede prosperar.
É importante lembrar
que profissionais 50+ não necessariamente têm ideias tradicionais e
ultrapassadas. É possível manter-se atualizado, até mesmo diante dos recursos
tecnológicos, porque a expectativa de vida produtiva aumentou consideravelmente
nos últimos anos.
Uma ação interessante é
mesclar profissionais sêniores e juniores nas franqueadoras. Colocá-los
trabalhando lado a lado trará equilíbrio na unidade gestora. E promover a
integração entre eles, por meio de campanhas de endomarketing e capacitações
constantes, é fundamental para que as equipes não pratiquem o etarismo e todos
se vejam como profissionais, algo que vai além de qualquer data de nascimento.
Do outro lado,
franqueados com muita experiência também precisam valorizar ideias novas,
buscar atualização e entender que o mercado muda constantemente, sendo
necessário evoluir com os anseios do consumidor. O que se praticava há dois
anos é completamente diferente do que é preciso fazer hoje – quem dirá se o
comparativo ocorrer com o que era feito há 20 anos! Então, antes de imaginar
que os jovens não têm o que oferecer, além da falta de experiência, vale a pena
ouvi-los com atenção.
As relações humanas são
complexas e o franchising é justamente um emaranhado de relacionamentos. Cabe
aos seus interlocutores aprender a ouvir e entender o outro – até mesmo nas
entrelinhas. Independentemente da idade, todos podem garantir seu lugar de
fala.
*Melitha Novoa Prado é
advogada especializada em Franchising e Varejo.
Sobre o
escritório Novoa Prado Advogados – Especialistas em Franchising
O escritório Novoa
Prado Advogados está no mercado há 32 anos, prestando serviços de Direito
Empresarial, especificamente em Varejo e Franchising. Atua nas áreas de
Franquia (com expertise em relacionamento de redes e contencioso); Direito
Empresarial, Imobiliário e Societário; Tributário e Contencioso Cível;
Contratos, Compliance e Varejo e Propriedade Intelectual.
Foi fundado por Melitha Novoa Prado, e tem como sócia a advogada Thaís Kurita. Juntas, elas coordenam uma equipe dinâmica, comprometida e capacitada para oferecer aos clientes as melhores soluções jurídicas para seus negócios.
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