Operações Financeiras ESG e o Agronegócio
* Por Manoel Pereira de Queiroz
O mundo muda cada vez mais rapidamente e
os negócios também. Empresas e empreendedores se dão conta de que para atender
os clientes (que são também cidadãos e eleitores), não basta produzir bons
produtos a preço competitivo, é necessário fazer a coisa certa do ponto de
vista ético, social e ambiental. Estamos vivendo a transição do capitalismo de shareholder para o
capitalismo de stakeholder,
que engloba todas as partes interessadas além do acionista, como colaboradores,
consumidores e a sociedade como um todo. Com isso, as empresas precisam não só
fazer a coisa certa, mas também comprometer-se com ela. O termo ESG (Ambiental,
Social e Governança, em português), tem a ver com isso e foi criado em um
documento do Banco Mundial e do Pacto Global da ONU, denominado “Who Care Wins”
(Quem se Preocupa Ganha). O termo está ligado aos 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, que englobam, por exemplo:
erradicação da pobreza, fome zero, agricultura sustentável e ação contra a
mudança global do clima.
Quando falamos de operações financeiras
ESG, estamos falando de uma maneira das empresas comprometerem-se publicamente
com metas específicas ligadas a algum desses 17 Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável. Grosso modo, existem duas formas de se fazer operações ESG, a
primeira é emitir títulos ou tomar empréstimos específicos para financiar
alguma ação socioambiental, como, por exemplo, os chamados Títulos Verdes. A
segunda é emitir dívida ou tomar empréstimos sem utilizar o dinheiro para um
propósito específico, mas comprometendo-se com
metas socioambientais específicas. Esses papéis são conhecidos como
“Sustainable Linked” ou título de dívida atrelado a metas de sustentabilidade
.
Nos “títulos ou empréstimos verdes” os
recursos têm que ser obrigatoriamente utilizados em investimentos
socioambientais. Um bom exemplo é um Bond emitido por uma empresa brasileira de
papel e celulose em 2016, cujos recursos deveriam ser obrigatoriamente
utilizados em manejo florestal sustentável, preservação e gestão do uso da
água, eficiência energética e energia renovável. Cada investimento com esses
recursos possui metas específicas e mensuráveis definidas para serem atingidas
ano a ano e são acompanhadas sempre por um auditor externo.
Já nos “sustainable linked bonds”, os
recursos podem ser usados para qualquer coisa, mas a empresa se compromete
contratualmente com metas socioambientais específicas e fica sujeita a pagar
uma penalidade, na forma de aumento da taxa de juros, se essas metas não forem
atingidas. Um exemplo é um CRA, emitido por uma Usina de Açúcar em 2021, que
prevê um aumento de 0,25% na taxa de juros da operação, caso não sejam
atingidas metas de redução do consumo de água, redução de resíduos sólidos e
reintrodução de duas espécies nativas em extinção no ecossistema.
O número de emissões e empréstimos ESG
no Brasil saiu de apenas uma em 2015, no valor de US$ 454 milhões, para 103 em
2021, num total de US$ 15,3 bilhões. Das emissões de 2021, 38 delas (37%) foram
de empresas da cadeia do agronegócio (incluindo produtores rurais) e
totalizaram US$ 7,1 bilhões (47%). O mercado (fundos e outros investidores) têm
pago prêmios sobre esses títulos, o que significa que saem mais baratos para a
empresa emissora, quando comparado com uma emissão não ESG. É, portanto, uma
oportunidade de ganhar dinheiro fazendo a coisa certa. Como dizia o título
daquele documento, “who care wins”.
*Manoel Pereira de Queiroz é Superintendente de Agronegócio do Banco Alfa, membro do Conselho Superior do Agronegócio da FIESP e conselheiro da ADEALQ.
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