Recém-formados em medicina que precisam trabalhar como PJs enfrentam várias dificuldades, a começar pela falta de informação sobre o assunto
Na maioria das faculdades do País, estudantes não têm nenhuma disciplina sobre como abrir seu próprio consultório.
Em 2020, o Brasil
passou a contar com mais de 500 mil médicos. A informação é proveniente do
estudo “Demografia Médica no Brasil”, coordenado pelo professor Dr. Mário
Scheffer, do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo – FMUSP. Esse marco vem acompanhado da persistência
de desigualdades na distribuição dos profissionais, do aumento desenfreado de
cursos e vagas de graduação e da ociosidade de vagas de Residência Médica.
Com o aumento da oferta
de médicos e a escassez de vagas no Sistema Único de Saúde, sobra para a
maioria dos profissionais recém-formados se tornar um “pejota” (Pessoa Jurídica
– PJ), prática que ocorre quando o profissional é contratado como pessoa
jurídica, ou abrir a própria empresa médica como prestador de serviço. Com
imensa adesão por parte de quem se forma na área, 93% dos médicos brasileiros
afirmam exercer apenas ou se dedicar exclusivamente à profissão, exercendo-a em
vários campos de atuação, meios e funções, como assistência, gestão, docência,
pesquisa e empreendedorismo.
A maioria dos médicos
trabalha para mais de um empregador e exerce, ao longo de sua jornada de
trabalho, mais de uma atividade, atuando em mais de um serviço ou ocupando mais
de um posto ou local de trabalho. Sendo assim, segundo o estudo coordenado por
Scheffer, a maioria dos médicos possui quatro fontes de renda que podem vir da
iniciativa privada, dos postos e hospitais públicos ou do empreendedorismo. Só
que, neste último, antes mesmo deles pensarem em se aventurar no universo do
empreendedorismo, acabam se deparando com um obstáculo: nas faculdades não é
ensinado nada a respeito de gestão empresarial, tributos, administração,
contratações e recursos humanos.
No livro
“Empreendedorismo”, Idalberto Chiavenato, reconhecido internacionalmente por
fornecer informações que podem ser aplicadas na área acadêmica e na educação
corporativa, garante que, para ser bem-sucedido, o empresário não deve apenas
saber como criar seu próprio empreendimento. “Deve também saber gerir o seu
negócio para mantê-lo e sustentá-lo em um ciclo de vida prolongado e obter
retornos significativos de seus investimentos”.
Dessa forma, é mister
que um médico empreendedor tenha que se especializar em planejar, organizar,
controlar e otimizar todos os processos do consultório, inclusive a gestão de
pessoas e do caixa, legislação e tributos. “Ocorre que, como se não bastasse o
emaranhado de leis, instruções normativas, decretos, atos declaratórios que há
no Brasil, e a carga tributária altíssima, trata-se de um processo extremamente
burocrático. Burocracia que começa no ato de abrir a empresa, ter um CNPJ, na
elaboração do contrato social, na escolha do regime fiscal, no cálculo das
alíquotas dos impostos, taxas e contribuições, se definir pela constituição de
um consultório ou clínica médica, no processo de contratação e demissão de
funcionários...”, comenta Júlia Lázaro, CEO da Mitfokus.
Júlia Lázaro, da Mitfokus Soluções Financeiras.
Outra dificuldade,
segundo ela, está no fato de os médicos PJs, principalmente os “marinheiros de
primeira viagem”, estarem sendo submetidos constantemente ao pagamento de taxas
absurdas de juros com as linhas de crédito especiais dos bancos. Na visão da especialista,
“esses são fatores que contribuem para que os médicos fiquem expostos a ralos
financeiros ao longo de sua trajetória médica ou a passivos tributários e
trabalhistas”.
Sendo uma empresa
médica uma necessidade pelo novo formato de contratação, que é a pejotização,
tornando-se, assim, um investimento em potencial, para que se mantenha
eficiente no mercado, faz-se necessário que as decisões sejam certeiras. Isso
significa que elas devem ser baseadas em dados concretos, incluindo o histórico
da empresa. “É importante saber navegar no oceano azul – frase que é uma
alegoria que simboliza o oceano azul como um mercado ainda pouco ou nada
explorado, no qual o empreendedor pode ‘nadar livremente’. Por outro lado, o
‘oceano vermelho’ é um mar revolto, em fúria, e diz respeito a um cenário já
impregnado”.
Então, para que os recém-formados em Medicina “nadem no oceano azul”, Júlia aconselha que contem com fornecedores especializados nos ramos empresarial, tributário, trabalhista e previdenciário e que, de preferência, se utilizem dos recursos tecnológicos para entregar as melhores soluções, que foquem em uma contabilidade especializada e em um ágil atendimento às pessoas que vão em busca de saúde e bem-estar, fazendo com que a relação médico-paciente seja organizada e conectada, englobando ainda as informações sobre a organização, o mercado, a concorrência e as últimas novidades na área de atuação. “Na verdade, essa é a principal matéria-prima para médicos prestadores de serviços terem a oportunidade de colocar em prática ideias inovadoras de forma compatível à sua realidade e às viabilidades do público-alvo”.
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