As mudanças na interação entre consumidores e empresas e o reflexo na gestão das áreas de CX
Empresas que tiverem uma gestão focada no processamento de dados com propósito terão mais chances de agradar o cliente, defende especialista
* Por Elda Di Donato
Uma pesquisa do Grupo Sercom realizada
com 1081 brasileiros em 2020 mostrou que o WhatsApp é o canal preferido pelos
consumidores (49%) quando precisam contatar o serviço de atendimento das
empresas, independentemente do motivo de contato, ficando à frente do email
(47%) e do telefone (43%), que vem perdendo espaço. Ainda segundo o estudo, 64%
dos participantes preferem falar com as empresas por canais digitais (WhatsApp,
Telegram, aplicativo da empresa, redes sociais) em vez do atendimento
tradicional (email, telefone, SMS). Desses, 28% preferem WhatsApp/Telegram, 28%
preferem chat / bate-papo e 8% têm preferência pelas redes sociais (Facebook,
Instagram, Twitter, etc.).
Em abril de 2021, uma outra pesquisa da
Opinion Box, com 1.992 pessoas, apontou que cerca de 76% já se
comunicavam com empresas por meio do WhatsApp e 52% já compravam produtos ou
serviços pelo aplicativo.
Os números não mentem. Os consumidores
estão cada vez mais se comunicando com as marcas por canais digitais, redes
sociais e aplicativos, o que chamamos de social care, e adotando o WhatsApp
como canal preferido de contato com as empresas. Além de buscarem conveniência
e resolutividade, não aceitam esperas demoradas, ligações perdidas, repetições
de informações. Essa migração para o digital cresceu de forma exponencial
durante o período de isolamento social. E isso está mudando substancialmente a
dinâmica de interação entre empresas e consumidores.
Quando nós atendemos pelo WhatsApp, por
se tratar de uma comunicação via texto, usamos atendimentos por bots (robôs) e,
além da parte automática, conseguimos colocar um analista para atender 4 ou
mais telas abertas simultaneamente, e não mais uma de cada vez, como acontece
com o telefone. O atendente dá prioridade ao atendimento de quem está naquele
momento interagindo e pode colocar em stand by os atendimentos nos quais o
consumidor demora para interagir. Ou seja, o cliente conversa no WhastApp de
acordo com sua comodidade e conveniência, e o sistema tem inteligência para
controlar esse fluxo, direcionando ao atendimento humano somente as interações
mais específicas, e valorizando o potencial especialista dos profissionais.
Não só o mercado brasileiro de
atendimento ao cliente, mas no mundo todo, as empresas estão repensando o
modelo de negócio e gestão que vinham praticando até então. Muitos gestores perceberam que nos
dias de hoje é imprescindível usar tecnologias para melhorar processos internos,
podendo fornecer experiências excelentes aos consumidores com equipes mais
enxutas e redução de custos, e usar também o analytics (análise qualitativa dos
atendimentos) para entenderem em quais serviços e pontos de contato podem
melhorar.
Olhando esse ponto, vejo que muitas
empresas já estão fazendo bom uso de soluções e ferramentas que auxiliam na
gestão do atendimento ao cliente, como softwares que centralizam todos os
canais de comunicação, permitindo um maior controle e agilidade na resolução
das demandas. Pesquisas globais indicam que 80% das companhias que registraram
crescimento em 2020 reportaram também o aumento no uso de soluções de
inteligência analítica durante o ano. Já o Gartner, principal instituto de
pesquisa do mundo, prevê que as empresas
que estão, agora, investindo em inteligência artificial e analytics para os
processos de Customer Experience (CX) se destacarão como líderes de mercado nos
próximos anos.
Aquela velha concepção de serviço de
atendimento ao consumidor, quer seja realizado pela própria empresa ou
terceirizado por call centers, que muitas vezes bombardeia o consumidor com
procedimentos, questionamentos repetitivos e transferências de ligação, sem ter
o problema resolvido, atualmente, não tem mais espaço.
É importante esclarecer que não adianta
pensar em redução de custos sem resolver eficazmente os problemas dos
consumidores. A tecnologia permite, sim, um atendimento em escala, mas precisa
estar apoiada por analytics e atrelada a profissionais bem-preparados e
valorizados do call center ou da área de customer
experience, que vão ouvir verdadeiramente os consumidores, entender
o que eles desejam, o motivo do contato, e resolver a necessidade.
Por manterem cotidianamente ligações
diretas com os consumidores, essas áreas podem levar insights valiosos para
outros departamentos das empresas, para a área de inovação, participando até da
geração de novos produtos e serviços, por captarem as necessidades diretamente
do consumidor.
Por outro lado, existe um pilar
fundamental para o sucesso da gestão mais enxuta que ainda precisa ser mais bem
difundido no Brasil: a coleta de dados com propósito. Muitas empresas ainda
agem solicitando uma grande quantidade de respostas, muitas redundantes, e não
esclarecem para os envolvidos qual é o sentido do que estão fazendo. Isso faz
parte de uma gestão ultrapassada, que não ocorre apenas nos call centers, mas
em muitas áreas de uma grande empresa com gestão tradicional.
Me pergunto: será que pelo fato da
tecnologia digital estar cada vez mais acessível, as pessoas acham que coletar
informação “não custa nada”? Pelo contrário, coletar um monte de dados sem
saber o que fazer com eles tem um custo alto, representado pelo tempo dos
consumidores e dos funcionários alocados no atendimento.
Então, que estes dados se transformem em
informação de valor para contribuir verdadeiramente com o processo de tomadas
de decisões estratégicas pelas empresas. E que os funcionários usem as
informações de maneira inteligente, entendendo claramente qual é o propósito
maior, o que a empresa busca, como ela usa isso para atender melhor os clientes
e ter melhores resultados.
Que a área de customer experience possa
ser um meio para que as empresas consigam motivar cada vez mais seus
funcionários, munindo-os de informações para que possam entender como anda seu
processo em relação aos objetivos, às necessidades dos clientes, para que
possam ser, de fato, resolvidas.
* Elda Di Donato é diretora de transformação digital do Grupo Sercom, provedor de soluções de CX e tecnologias para gestão de contact center.
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