Clima afeta resultados da soja e estimativa de produção cai para 124,6 milhões de toneladas, quebra de 10,6% sobre a safra anterior
Rally da Safra encerra etapa de avaliação de
lavouras de soja em temporada marcada por grandes diferenças regionais
Técnico avalia lavoura de soja durante Rally da
Safra
Divulgação
A Etapa Soja do Rally da Safra 2022
termina com uma estimativa de produção de 124,6 milhões de toneladas, queda de
1,2 milhão de toneladas em relação à projeção anterior, divulgada em 15 de
fevereiro. É uma quebra de 10,6% sobre a safra 20/21 e 19,7 milhões de
toneladas a menos do que o previsto no início da safra, em setembro do ano
passado. Desde que as equipes começaram a percorrer as principais regiões
produtoras, foram confirmadas duas situações bastante distintas nesta
temporada, a depender da região. As lavouras de boa parte do Centro-Oeste,
Norte, Sudeste e Nordeste se desenvolveram sob condições adequadas e apresentam
resultados de bons a excelentes. Já no Sul (incluindo o Sul do Mato Grosso do
Sul, além de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), o clima seco e quente
de meados de dezembro até boa parte do primeiro trimestre de 2022 provocou uma
quebra significativa.
Foi uma safra em que o clima teve um
comportamento atípico, o que pode ser atribuído à influência do fenômeno La
Niña pelo segundo ano consecutivo. “Há muita disparidade na produtividade
dessas duas grandes regiões do país. Mais do que isso: a irregularidade
do clima gerou diferenças nos resultados das lavouras entre as regiões de um
mesmo estado e até mesmo entre as áreas de um mesmo município”, explica André
Debastiani, coordenador do Rally da Safra.
Safra difícil de projetar
Os desafios impostos pelo clima tornaram
mais difícil a tarefa de projetar o tamanho da safra. Nesse sentido, o Rally da
Safra contou com a metodologia de campo aprimorada em 19 edições e a base de
dados de milhares de lavouras avaliadas durante esse período – tanto em
temporadas de clima mais regular quanto em outras de clima mais complicado. Tem
sido, no entanto, um ano em que há projeções para todos os gostos. Diante da
dificuldade de determinar o tamanho da safra em condições tão irregulares,
diversas empresas e instituições aumentaram a frequência da divulgação de
estimativas para o mercado. O resultado foi uma grande disparidade entre os
números.
A produção projetada pelo Rally da
Safra, por exemplo, é maior do que mostram os números oficiais. Uma
das razões: há divergências na distribuição regional da área plantada. Os
números do Rally são pelo menos 200 mil hectares menores do que os da Conab
para o Rio Grande do Sul, onde a safra quebrou, mas superam bastante as
estimativas oficiais num estado como Goiás, onde a produtividade é recorde.
Considerando a área total do Brasil, a diferença é relativamente pequena (o Rally
da Safra trabalha com 40,8 milhões de hectares, uma expansão de 4,1% sobre a
safra anterior) e seria pouco significativa em termos de produção, não fossem
as situações regionais específicas desta temporada. “O efeito disso na produção
é muito grande e explica, em parte, as diferenças entre as estimativas.”,
esclarece o coordenador do Rally.
Diferenças regionais
Depois de percorrer mais de 30 mil
quilômetros e avaliar cerca de 1.000 amostras nas principais regiões
brasileiras, as condições da safra podem ser resumidas da seguinte forma:
SC/PR/RS/Sul do MS: Essa parte do país concentra os
principais problemas da safra. Em janeiro, as lavouras de soja precoce do Oeste
do Paraná sofriam com uma quebra consolidada, causada pela falta de chuva
iniciada em meados de dezembro. Em fevereiro, com a continuidade do clima
quente e seco, o potencial produtivo da soja do Rio Grande do Sul também já
havia sido comprometido. A estiagem e o calor também causaram perdas de
produtividade, ainda que em menor grau, em Santa Catarina e em regiões do
Paraná que dificilmente enfrentam problemas, como a dos Campos Gerais. Voltou a
chover no Sul do Brasil no início de março, o que ajudou a minimizar um pouco
do prejuízo das áreas mais tardias, nas quais a soja ainda está em enchimento
de grãos. “O Rally continuará acompanhando o desempenho dessas lavouras, pois
há espaço para novos ajustes nos números de produção”, diz Debastiani.
MT/Norte do MS/GO/MG: O desempenho das lavouras nessas
regiões foi de bom a excelente. As variedades precoces tiveram ótima
produtividade, afastando o temor, comum no início do ano, de que o excesso de
dias nublados poderia comprometer o peso de grão. Em Goiás, por exemplo, os
produtores vão colher um recorde de produtividade, o que fará do estado o
segundo maior produtor brasileiro, superando desta vez o Rio Grande do Sul e o
Paraná. No Mato Grosso, a safra só não foi melhor porque o desempenho da soja
tardia ficou abaixo do que esperava. “O final do ciclo foi muito chuvoso, o que
diminuiu as médias de produtividade, mas ainda assim o MT deve registrar um
novo recorde de produtividade”, afirma Debastiani.
MAPITO: A região tem resultados excelentes até
o momento. As lavouras se desenvolveram sob ótimas condições. Tanto no Maranhão
quanto no Tocantins, a produtividade deve ser recorde.
BA: O excesso de umidade no terço final da safra deve limitar
a produção na Bahia devido à redução de peso de grãos e ao surgimento de
doenças. O Rally prosseguirá acompanhando as últimas áreas a serem colhidas e
os números do estado poderão ser ajustados.
Produtividades nos estados
(sacas/hectare)
Produtividade Soja
- Rally da Safra (Março 2022) |
|||
UF |
2020/21 |
2021/22 |
Var. % |
RS |
57,9 |
25,4 |
-56,2% |
SC |
62,1 |
45,6 |
-26,6% |
PR |
61,0 |
37,4 |
-38,7% |
SP |
59,5 |
59,6 |
0,2% |
MG |
62,5 |
63,6 |
1,8% |
MS |
58,6 |
44,0 |
-24,9% |
MT |
57,9 |
60,7 |
4,8% |
GO |
61,4 |
66,3 |
8,0% |
BA |
67,0 |
62,0 |
-7,5% |
PI |
57,0 |
59,0 |
3,5% |
MA |
54,7 |
57,6 |
5,3% |
TO |
54,7 |
58,0 |
6,0% |
PA |
56,2 |
56,0 |
-0,4% |
RO |
58,5 |
58,0 |
-0,9% |
Outros |
53,5 |
56,8 |
6,1% |
BR |
59,3 |
50,9 |
-14,1% |
Milho segunda safra
As perspectivas para a segunda safra de
milho são positivas em razão do bom calendário de plantio no Centro-Oeste.
Existe uma preocupação: alguns modelos climáticos indicam o risco de que chova
menos no Paraná e no Mato Grosso do Sul em abril, num período crítico para a
definição de produtividade. Por ora, no entanto, o desenvolvimento das lavouras
é muito bom em praticamente todo o país.
A etapa de avaliação do milho segunda
safra começará em 15 de maio, com seis equipes – as duas primeiras percorrem o
Oeste e o Médio-Norte do Mato Grosso. Outras duas avaliarão lavouras no Sudeste
do Mato Grosso, Norte do Mato Grosso do Sul e a região Sudoeste de Goiás. As
últimas equipes visitarão áreas no Sul do Mato Grosso do Sul e Oeste do Paraná.
A projeção para esta temporada é de uma
área plantada 7% maior do que na safra anterior, chegando a 15,7 milhões de
hectares – segundo Debastiani, a expansão poderia ser ainda maior, não fossem
os gargalos na oferta de insumos. A estimativa de produção é de 92,2 milhões de
toneladas, 51,3% acima da safra passada.
Visitas a produtores
Em abril e maio, quatro equipes do Rally
serão dedicadas a visitas a produtores e a realização de eventos regionais,
inicialmente agendados para ocorrerem em Luis Eduardo Magalhães (em data
a ser definida), Não-Me-Toque/RS (12/04), Cascavel/PR (19/04) e Rio Verde/GO
(03/05).
Ao todo, 11 estados serão percorridos
durante a 19ª edição do Rally da Safra. A expectativa é coletar 1.600 amostras
em campo. A expedição técnica tem o patrocínio do Banco Santander, FMC, OCP
Fertilizantes e Serasa Experian e apoio nacional da Hidrovias do Brasil e
Unidas Agro.
O trabalho das equipes e o roteiro completo da expedição poderão ser acompanhados pelo http://bit.ly/RallyRedesSociais
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