Exposição reúne o Antropoceno, Patriarcado e Masculinidade, a Invisibilidade e as suas relações
Individual do artista Milton Blaser 'Em se
pisando tudo dá' será aberta no dia 26 de março, às 13h, na Galeria Casagaleria
Oficina de Arte
Tiranias simulação da instalação montada na galeria.
Milton Blaser.
Divulgação
O impacto da humanidade sobre a Terra, a
Masculinidade, o Patriarcado, a Invisibilidade das pessoas e a relação entre
eles se encontram na exposição Em
se pisando tudo dá individual do artista Milton Blaser, que
será aberta no dia 26 de março, às 13h, na Galeria Casagaleria Oficina de Arte,
em São Paulo. O título Em
se pisando tudo dá remete a Pero Vaz de Caminha que foi de
uma época com total prevalência do Patriarcado, época que se origina uma visão
de mundo que resultou no modernismo e antropoceno. E a expografia terá três
pilares: as instalações Prensa
e Tiranias,
as colagens digitais da série Antropogenias,
uma intervenção na parede lateral de tijolos entre as duas salas reforçando a
invisibilidade das pessoas e uma intervenção radical e ousada no teto da
galeria repercutindo na estrutura da galeria.
“A mostra foca na inter-relação das
questões do Antropoceno, o Patriarcado e a Masculinidade e na Invisibilidade
das pessoas, que atuam degradando tanto a natureza e o meio ambiente como
também e simultaneamente as relações entre homens e mulheres de todas as
etnias, idades e nacionalidades. São os invisíveis”, define o artista.
A mostra tem curadoria e texto crítico
de Loly Demercian com participação especial e texto do consultor em diversidade
e inclusão, Humberto Baltar, relatando a sua experiência pessoal como vítima
das consequências da ação combinada do antropoceno e da masculinidade apontadas
pelo artista. Baltar estará presente para uma conversa sobre o tema e as obras
junto ao artista e à curadora no dia 26 às 14h. Lives estão programadas para
acontecer durante o período da exposição.
Na intervenção no teto da galeria,
Blaser encena uma reconexão ousada com os elementos e ciclos da natureza,
quebrando-o e expondo as obras aos elementos naturais. Esta quebra do teto da
galeria exatamente sobre a obra propondo a entrada de um foco de luz natural e
permanente, iluminando naturalmente a obra, representa um rasgo de revolta do
ser humano urbano em direção ao cosmos, remetendo às questões das mudanças
climáticas que atravessam o planeta e que permeiam o Antropoceno, assim como as
relações da construção e destruição do entulho do teto presente na expografia,
que se relaciona com os pisos usados na obra.
A proposta da obra Prensa é trabalhar as
vertentes Antropoceno, o Patriarcado, a Masculinidade e a Invisibilidade das
pessoas. O Antropoceno está nos pisos usados e mostrados nos seus versos,
representação simbólica da destruição do ecossistema, mapas de áreas
devastadas, territórios invadidos, queimadas, mudanças climáticas, rios
poluídos, barragens que se rompem.
Essas questões remetem aos materiais
utilizados nos pisos como barro, vidro, areia, que também foram coletados na
natureza, trabalhados pelo homem e trazem a memória histórica do seu uso e a
própria devastação do meio ambiente para produzi-los.
O Patriarcado é exercido historicamente
e dominantemente por homens brancos, cis, héteros que determinaram e determinam
em escala mundial as ações que provocaram a predação voraz do meio ambiente há
décadas e que causou essa nova nomenclatura Antropoceno. Não há preocupação com
os bilhões de pessoas no planeta consideradas invisíveis aos seus olhos. É a
dominância masculina patriarcal em sua amplitude, agindo inconsequentemente,
devastando o planeta.
As pessoas invisíveis e anônimas estão
representadas na instalação com imagens em preto e branco, sombrias e sem
sorrisos, sinalizando o sofrimento advindo do Antropoceno. As três questões,
Antropoceno, Patriarcado e a Masculinidade e Invisibilidade permeiam a obra Prensa trazendo à reflexão
do espectador a sua posição no complexo sistema em que vive, se alimenta,
habita e consome.
Já a proposta da obra Tiranias é reforçar a
temática do Patriarcado e da dominância da masculinidade, aprofundando a
representação simbólica da potência masculina presentes no cotidiano das
decisões que afetam de forma danosa e nociva as mulheres, os próprios homens, a
população e o planeta, tendo como resultado o Antropoceno.
A simulação com colagens digitais da série
Antropogenias
transmuta em imagens como o capitalismo global levou o mundo à beira de uma
crise ambiental irreversível, inaugurando a era do Antropoceno, época geológica
marcada por profundas alterações na Terra devido à atividade humana, com
predominância histórica do Patriarcado, que impõe uma heteronormatividade, que
por sua vez é um comportamento catalisador da era do Antropoceno.
“As consequências do capitalismo global,
cuja força motriz foi o Patriarcado, levou o mundo à beira de uma crise ambiental
irreversível, inaugurando a era do Antropoceno, época geológica marcada por
profundas alterações na terra devido à atividade humana, repercutindo
vigorosamente sobre todos nós: os invisíveis, os desimportantes, os anônimos”,
enfatiza o artista. O projeto expositivo como um todo, busca envolver e
alertar o espectador sobre a relação entre esses dois conceitos para que juntos
possam ser combatidos.
“A possibilidade de se ver em obras de
arte ainda é raridade na vivência de homens pretos. Embora no Brasil o
Patriarcado seja a força motriz que impulsiona todas as esferas de poder, as
masculinidades e paternidades pretas permanecem à margem dessa realidade. O
apagamento e a invisibilização dos homens pretos os colocam num lugar de
constante busca por ressignificação e reconhecimento, passando muitas vezes até
mesmo pela reprodução de padrões nocivos, tóxicos e agressivos na busca por um
lugar social que os atribua o papel de dominantes, potentes ou poderosos”,
afirma Baltar.
Segundo o consultor, essa experiência de
invisibilização é também comum às mulheres, aos povos originários, ao meio
ambiente, às colônias e a tudo e todos que não são o marco zero do Patriarcado.
O trabalho do Milton aponta o que acontece com essa visão de mundo em que há um
ideal e todo resto é vítima”, garante.
Baltar aponta que as obras da
exposição Em se
pisando tudo dá abordam essa inquietude e anseio de
sujeitos marginalizados e invisibilizados de forma sutil e ainda assim
contundente. “Senti-me convidado pelo artista a me envolver ainda mais na luta
pelo mundo inclusivo, plural e diverso que eu quero deixar para o meu filho e
todos os que vierem depois”, afirmou.
Mostra individual O Homem, o Antropo, o Caos de Milton Blaser
Abertura: Dia 26 de março das 13h às 18h
Local: Casagaleria Oficina de Arte – Rua
Fradique Coutinho, 1.216, Vila Madalena, São Paulo. Telefone (11) 3841-9620
Horário de visitação: De 26/03/22 até o
dia 23/04/22, das 13h às 19h de terça a sexta, e aos sábados das 13h às
17h
Entrada gratuita
Sobre Milton Blaser
É artista visual graduado pelo Centro
Universitário Belas Artes, em licenciatura Desenho e Plástica. Participou por
mais de dois anos do grupo de acompanhamento de projetos com os artistas Carla
Chaim, Nino Cais e Marcelo Amorim no Hermes Artes Visuais e do grupo de estudos
de produção de arte contemporânea com o curador Paulo Miyada e o artista Pedro
França no Instituto Tomie Ohtake. Participou também da Clínica de Projetos do
Ateliê 397.
Já expos individualmente na Casagaleria
em 2019 e no Senac Jabaquara em 2018. Participou de vários salões e coletivas
na Oficina Cultural Oswald de Andrade, Galeria LAMB Arts/Hermes Artes Visuais,
Salão de Artes Plásticas Praia Grande, Salão de Arte Contemporânea de
Piracicaba, Clínica geral Gran Finale Ateliê 397.
Foi premiado com medalha de ouro em
Pintura com o trabalho Monge no VI Salão Internacional SINAP/AIAP. Fez cursos
de Antropoceno e Natureza no Paço da Artes, na Fundação Bienal durante a 34ª
Bienal, Laboratório de Aplicabilidades e palestras de Arte e Psicanálise no
Adelina Instituto. Participou do grupo de estudos Filosofia na Arte
Contemporânea com professores da PUC-SP e do curso de O Desenho e outros crimes
do desejo na Escola Entrópica do Instituto Tomie Ohtake, com Cadu.
Sobre a Casagaleria e Oficina de Arte
Loly Demercian
Desde 2004 estabeleceu-se como uma
alternativa comercial. Dedicada à arte contemporânea, vem se consolidando como
um espaço de exibição e produção de conteúdo, articulando exposições, projetos
culturais, workshops, revista digital e programas públicos gratuitos,
envolvendo artistas em diversos estágios da carreira. Incentivando e orientando
novas ideias e projetos desenvolvidos por artistas emergentes ou já
estabelecidos.
Sobre Loly Demercian
Graduada em Pedagogia pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie (1987), graduada em Artes Visuais pelo Centro
Universitário Belas Artes de São Paulo (2003), especializada no Museu de Arte
Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP) em 2004 e mestre em
Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
(2010).
Doutora em Comunicação e Semiótica pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é membro do Grupo de Pesquisa em
Comunicação e Criação nas Mídias (CCM) da PUC/SP, coordenado pela Prof. Dra.
Lúcia Leão. É curadora independente e proprietária do Centro cultural
Casagaleria e Oficina de Arte Loly Demercian. Tem experiência na área de
arte/educação, história da arte e curadoria, atuando principalmente nos temas:
curadoria de arte, processos artísticos, arte contemporânea, novas mídias e
filosofia contemporânea.
Realizou mais de 32 exposições em artes visuais e projetos culturais. Autora dos livros: “Arte/Educação no Ensino Médio: Um estudo sobre a utilização das novas mídias”, 2014; “Diálogos Possíveis: o tempo e a duração na videoinstalação” (Coord. Regina Giora), 2010.
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