Tecnologia na agricultura não é custo, é ganho em produtividade
Fernando Mendes Lamas
Pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste
O Brasil deixou de
ser importador de alimentos no início dos anos de 1970 para se tornar um
importante produtor e exportador de alimentos e fibra. Hoje, o Brasil é o maior
produtor mundial de soja, o quarto maior produtor de algodão e o maior produtor
de carnes. O Brasil ainda se destaca na produção de açúcar, de etanol, de papel
e celulose, de milho, de frutas, dentre outros produtos agrícolas. Dessa forma,
o Brasil garante a segurança alimentar de sua população e da população de vários
outros países ao redor do mundo, colocando-se numa posição de destaque quando o
assunto é produção agrícola.
As transformações verificadas na agricultura
brasileira a partir da década de 1970 devem-se fundamentalmente à incorporação
de tecnologias aos sistemas produtivos. Segundo dados publicados pelo IPEA, no
período de 2000 a 2016, a produtividade respondeu por 76,4% do crescimento da
produção. De acordo com a Embrapa, entre 1977 a 2017, a produção de grãos
passou de 47 milhões de toneladas para 237 milhões de toneladas, enquanto a
área cultivada foi de 37,3 milhões de hectares para 60,9 milhões de hectares.
Fica evidente que o aumento da produção foi principalmente devido à
incorporação de tecnologias nos sistemas de produção, aumentando assim, a
produtividade.
Muitas das tecnologias utilizadas na agricultura não
impactam no aumento dos custos de produção. Assim, não parece adequada a
expressão muito comum no momento: “vou reduzir a tecnologia para diminuir os
custos”. A produtividade de uma espécie vegetal qualquer depende de um conjunto
de fatores, além de insumos como fertilizantes, inseticidas, herbicidas,
fungicidas etc. Desta forma, luz, água e
solo são itens que exercem marcante efeito sobre a produtividade de qualquer
cultura. O emprego de tecnologia no uso e manejo dos fatores de produção
impacta muito mais na produtividade. Por exemplo: quando, antes da cultura do
milho, da soja, do algodão for cultivado a Crotalaria spectecabilis, na
maioria dos casos a produtividade dessas culturas é maior. Quando se cultiva
milho consorciado com braquiária, o controle de plantas daninhas é melhorado.
Com uma boa cobertura do solo, a incidência da planta daninha conhecida como buva,
por exemplo, é menor. Aqui se destaca a importância da cobertura do solo. C.
spectabilis também auxilia no controle de nematoides do gênero Meloidogyne.
Quando se observa a data de semeadura preconizada pelo
Zoneamento Agrícola de Risco Climático – ZARC, a probabilidade de sucesso com a
atividade aumenta. Com adequada população de plantas, a produtividade e
qualidade do produto podem ser melhores, além de, muitas vezes, implicar em
redução no gasto de sementes. Cabe destacar que as sementes, hoje, têm
participação muito forte no custo de produção, sendo de 10% para o algodão, 16%
para a soja e 20% para o milho, em relação ao total dos gastos com insumos.
Assim, é da maior relevância para a produtividade e para racionalização dos
custos de produção utilizar adequada população de plantas.
Com os exemplos acima, fica evidente que reduzir o emprego de tecnologia não contribui para redução de custos de produção, muito pelo contrário. Rotação de culturas, cobertura do solo, adubação considerando aquilo que é exportado pelas plantas, realizada no momento adequado, semeadura realizada na época correta, cultivar adequada ao sistema de produção, manejo integrado de pragas, de doenças são tecnologias que exercem efeito significativo sobre a produtividade, reduzindo proporcionalmente os custos de produção em relação à produtividade alcançada graças a essas tecnologias. Algumas tecnologias não têm custo algum para o produtor, como a época de semeadura, no entanto têm efeito marcante sobre a produtividade, sobre a incidência de pragas e doenças. Com época de semeadura inadequada, há redução de produtividade e aumento proporcional de custo de produção. Aplicação de inseticidas e fungicidas com base em calendário também é algo que não se recomenda. Aplicações realizadas dessa forma podem propiciar condições para que os insetos e fungos se tornem resistentes aos inseticidas e fungicidas, além de aumentar custos de produção. Não existem dúvidas que tecnologia é fundamental para a melhoria da produtividade vegetal e animal e, consequentemente, para a sustentabilidade da atividade agropecuária. Quando se confunde emprego de tecnologias com o uso de insumos que nem sempre refletem positivamente sobre a produtividade, mas, com certeza, nos custos de produção, a atividade deixa de ser sustentável. Desenvolver atividades integradas, como agricultura e pecuária, aportar matéria orgânica ao solo para que se aumente a sua capacidade de retenção de água, a disponibilidade de nutrientes, e permitir que as raízes cresçam sem encontrar impedimentos, é fundamental para a melhoria e constância das produtividades. A tecnologia é fundamental para a melhoria da produtividade, para mitigar efeitos de fatores adversos como temperaturas extremas, restrição de água, competição com plantas daninhas e prejuízos causados por pragas e doenças. O uso adequado de tecnologia contribui para a redução de custos e ganhos de produtividade.
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