A Governança de Riscos e Gestão em Fintechs
*por Luciano Carvalho
Em complemento às soluções e
instituições financeiras já existentes, o mercado de crédito ficou muito mais
democrático com a expansão das fintechs. Somente no Brasil, há mais de 1.200
empresas da categoria atuando - e o número só tende a crescer. Além disso, no
desafiador ano de 2020, as startups financeiras captaram US $1,9 bilhão em todo
o mundo, superando os números de 2019.
Como evolução dessas fintechs, aumentam
também as SCDs (Sociedades de Créditos Diretos), que fazem operações de crédito
com recursos próprios e trazem serviços adicionais, como análise e cobrança
para terceiros, além de emitirem moeda eletrônica e cartão de crédito. Segundo
o Banco Central do Brasil (Bacen), das 74 fintechs de crédito operando no
Brasil, 64 são SCDs.
Ao fomentar a inclusão de recursos na
economia, sem dúvida, temos uma grande oportunidade em dar acesso ao crédito à
população. Mas diante do alto volume de SCDs, surge também a discussão e a
necessidade da implementação de uma governança adequada aos regulamentos e boas
práticas regulatórias, como, por exemplo, as exigidas pelo Bacen.
Mais que em qualquer período da
história, vivemos em um ambiente com um grau de conhecimento e acesso à
informação muito elevado, o que torna ainda mais possíveis cooperações e
integrações entre os diversos reguladores. A atuação do Bacen tem criado um
ótimo alicerce para a evolução deste mercado e as novas regulamentações têm
proporcionado uma robustez a este cenário.
Estrutura interna, prevenção à lavagem
de dinheiro, compliance e gestão de riscos são só alguns dos pilares sobre os
quais uma fintech em processo de transição para SCD deve se consolidar. E para
auxiliar nesse desafio, compartilho um mapeamento dessas obrigações.
Ao estruturar uma área que envolve
Compliance, Prevenção a Fraudes, Prevenção à Lavagem de Dinheiro, Riscos,
Regulatório, Controles Internos, Segurança da Informação e Auditoria Interna,
podemos pensar em um modelo baseado em quatro pilares: Processos, Tecnologia,
Governança e Pessoas.
Automatização e valor agregado são a
base de uma área de governança, a fim de tornar os processos escaláveis e que,
ao final do dia, tragam maior segurança e eficiência à empresa. Com os avanços
em automatização relacionados às principais atribuições de gestão de
governança, as empresas podem ter abordagens mais inovadoras no processo de
prevenção e monitoramento. Exemplos como Inteligência Artificial, Machine
Learning e Big Data ilustram bem isso. Com isso, deixamos de ter áreas com um
custo de observância elevado para estruturas que geram valor agregado às
organizações.
Já em relação à tecnologia, o pano de
fundo é o ambiente em que as organizações e os profissionais relacionados com
Governança de Riscos vivem: a evolução da Transformação Digital, que está em
constante evolução seja nas questões de Fraudes, Dados, Monitoramentos
Velocidade das Informações, Inovação, Formas de Trabalho e Recursos Humanos,
afetando principalmente o modelo de atuação das próprias empresas. Diante
disso, quais os desafios que precisam ser mapeados dentro do seu contexto? A
companhia está preparada em termos de equipe e tecnologia?
Quando abordamos a gestão de pessoas, é
fundamental discutir o incentivo à formação e à capacitação dos profissionais.
Lembrando uma frase atribuída a Steve Jobs e que acho muito apropriada para
este tema, “tecnologia sozinha não é nada. O importante é ter fé nas pessoas e
acreditar que elas são boas, inteligentes e que se você der a elas ferramentas,
elas irão fazer coisas maravilhosas”. Pensando alto, como gestores de times e
de equipes multifuncionais, como estamos habilitados a explorar fatores assim?
E por fim, mas não menos importante,
temos a governança, com o envolvimento da Alta Direção e a criação de Comitês
de Gestão que permitam o gerenciamento das organizações. Como essa área está
sendo estruturada na SCD em que você atua?
Temos o desafio de trabalhar em
processos inovadores, permitindo uma melhor expansão de crédito e serviços
alinhados com uma governança regulatória e de riscos associados. Além disso,
possuir informações qualificadas, gestão de dados e processos formalizados e
testados ajudam no fortalecimento deste novo cenário que surge, requerimento
este, tanto regulatório, como por parte dos investidores, clientes e
fornecedores.
*Luciano Carvalho é diretor de gestão de risco da Provu
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