Nova Lei Cambial e os verdadeiros desafios para instituições financeiras
Por Célia Pizzi, Chief Compliance Officer (CCO)
do Grupo Travelex no Brasil
São Paulo, março de 2022 - A atual legislação cambial
brasileira começou a ser arranjada em 1920. Isso mesmo, há mais de cem anos –
em outro século, em um contexto de escassez de moeda estrangeira que não é
condizente com uma economia globalizada como a que temos hoje. Nada mais
natural do que uma robusta revisão. Após longas discussões com o mercado e
operadores, no fim de 2021, foi publicada a Nova Lei Cambial (Lei 14.286), com
o objetivo de modernizar, simplificar e consolidar a norma existente. O texto
evidencia a fundamentação nos princípios da livre movimentação de capitais e da
realização das operações no mercado de câmbio de forma mais simples, transparente
e menos burocrática.
Uma vez em vigor, a lei traz diversas
mudanças, entre elas: concede um novo limite para viajantes declararem valores
de entrada e saída de dinheiro em espécie (o teto passa a ser de US$ 10 mil e
não mais R$ 10 mil); permite que instituições financeiras ofereçam, de forma
direta, a opção de conta corrente em outras moedas, como dólar e euro; e
assente negociações de moeda estrangeira entre pessoas físicas (com limite de
US$ 500, de forma eventual e não profissional).
Parece promissor. E é! Mas, por trás
dessa brisa fresca de renovação, o mercado se agita, ansioso pelas próximas
decisões do Banco Central que devem regulamentar a matéria, criando regras de
declaração e fiscalização. Há diversos pontos que corroboram a expectativa das
partes interessadas nessa história. Ainda pendente de definição do Banco
Central do Brasil, entre outros assuntos, como será o tratamento para a
abertura e manutenção de contas em reais por não residentes, ou ainda a
manutenção de conta em moeda estrangeira e a questão do endividamento de não
residentes no País.
Trabalho há mais de 30 anos no setor e
hoje lidero o time de Compliance do Grupo Travelex Confidence. Posso
afirmar que a revisão desta legislação, que está em andamento, é esperada há
muitos anos e colocará o mercado financeiro brasileiro em outro patamar, mas há
outros pontos a serem considerados. Enquanto restam questões de riscos a serem
esclarecidas, tais como a manutenção da estabilidade financeira, podendo
estimular uma especulação não saudável para o estoque de reservas cambiais do
país; a possibilidade de pagamentos em moeda estrangeira, também pode trazer a
diminuição do risco cambial para os negócios, aumentando a eficiência.
Acredito que teremos discussões
calorosas pela frente, com relação à maneira de organizar processos e
controles, a nova lei traz uma imensidão de possibilidades. Em um país de
dimensões continentais, o desafio cresce na mesma proporção. E as incógnitas
são das mais variadas. Veja só, já consigo elencar algumas: quais serão
as taxas de conversão utilizadas? Como serão os controles e monitoramentos
destas contas no que tange a Prevenção a Lavagem de Dinheiro e do Financiamento
ao Terrorismo? Quais riscos adicionais estas mudanças trazem para as
instituições financeiras e para o mercado cambial como um todo? Quais os
mitigadores? Entre várias outras questões possíveis que ainda virão.
A verdade incontestável é que a Nova
lei Cambial é carregada de melhorias, adequações, sim, mas, principalmente,
simplificação para o cliente final. E encurtar caminhos nessa seara implica,
necessariamente, em complexidade de desenvolvimento. A oferta de uma transação
simplificada é somente o front de uma série de procedimentos enredados que
exigem monitoramento e vigilância. Nesse momento, a importância do Compliance
salta aos olhos – é ela que vai costurar os pontos para que menos burocracia
também signifique mitigar o risco de fraudes e dar ampla cobertura na prevenção
à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo, por exemplo. Se faz
necessário recolher dados, criar regras e acompanhar de perto. Por outro lado,
temos o respaldo de um Banco Central extremamente regulado e presente na rotina
das instituições, sempre cobrando supervisão.
Por enquanto, precisamos apenas
entender que há muito trabalho pela frente e adaptações terão de ser feitas.
Podemos esperar certa pressão do mercado para que a engrenagem comece a rodar o
quanto antes. Espera-se que a regulamentação suplementar necessária, ainda
devida pelo Branco Central, chegue rapidamente em 2022. Estamos atentos e
dispostos a colocar em prática todas as melhorias que a nova Lei Cambial
dispõe.
Sobre a autora
Profissional com
mais de 30 anos de experiência, atualmente, Célia Pizzi é Chief Compliance Officer do Grupo
Travelex Confidence. Formada em administração de empresas pela FASP e com MBA
Executivo em Finanças pela IBMEC. Certificada pela CAMS e PQO, Célia já atuou como diretora de afiliação do
ACAMS CHAPTER SP e também como mentora, no programa de mentoria para graduandos,
do INSPER, tem amplo conhecimento em AML, AFC, ABC, GDPR e outros assuntos
relacionados à governança e área de risco.
Célia já passou por bancos nacionais e
internacionais, tais como Credit Suisse; GMF (Banco GMAC); Safra; Itaú e
Santander. Nessas instituições, Célia teve oportunidade de interagir com
reguladores nacionais e internacionais, atuar em projetos de implantação de
agências off shore, implantar e reestruturar as áreas de Compliance e otimizar
diversas outras atividades.
Sobre o Grupo Travelex
Confidence
A Travelex é hoje uma
especialista em câmbio reconhecida mundialmente, marcando presença em mais de
20 países. No Brasil, o Grupo é formado pela corretora Travelex Confidence, com
mais de 20 anos de experiência no setor, e pelo Travelex Bank, primeiro banco
exclusivo para operações de câmbio regulamentado pelo Banco Central no País.
Dentre as operações realizadas pelo Grupo, estão as operações cross-borders
como transferências e pagamentos internacionais, importação, exportação, Mass
Payments, banknotes, compra e venda de mais de 20 tipos de moedas estrangeiras,
troca de cheques internacionais, venda de cartões pré-pagos, seguro viagem,
chip internacional para celular, entre outros. Clientes do Grupo Travelex
Confidence contam ainda com atendimento omnichannel incluindo loja online,
aplicativo exclusivo, internet banking, mesas de operações com atendimento por
telefone ou WhatsApp e mais de 100 pontos de atendimento espalhados por todo
território nacional.
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