Banco de perfis genéticos ajuda a elucidar 3400 crimes
Rede nacional já tem 148 mil amostras de DNA
armazenadas; São Paulo e Minas são os estados com maior número de amostras
O Brasil tem
hoje quase 148 mil perfis genéticos armazenados na Rede Integrada de Bancos de
Perfis Genéticos (RIBPG). Essas amostras de DNA já foram utilizadas para ajudar
a esclarecer 3.400 investigações criminais e a identificar 50 pessoas
desaparecidas.
Ronaldo
Carneiro da Silva Junior, perito criminal federal e coordenador do comitê
gestor da RIBPG,
é um dos palestrantes do XXVI Congresso Nacional de Criminalística, promovido
pelo Sindicato dos Peritos Criminais do Estado de São Paulo (SINPCRESP), que
acontece entre 17 e 20 de Maio, na Expo D.Pedro, em Campinas.
Carneiro conta
que esse banco é alimentado por 22 laboratórios espalhados pelo Brasil. “Todas as melhores polícias do mundo
utilizam os bancos de perfis genéticos como uma poderosa ferramenta para
elucidar crimes e para buscar pessoas desaparecidas”, diz.
Apesar de
existir desde 2013, foi nos últimos quatro anos que o número de perfis
armazenados na rede cresceu: em 2017 havia sete mil cadastros, hoje são148 mil.
“Esse projeto é
fundamental não só para a elucidação de crimes, mas também para a prevenção,
pois a certeza de ser preso inibe a ação criminosa”, avalia
Eduardo Becker, presidente
do SINPCRESP e perito especialista em identificação humana por DNA.
Deficiência
Apesar
desse crescimento, ainda faltam profissionais para coletar amostras, alimentar
o banco nacional e analisar esses perfis. “A avaliação do Comitê Gestor da RIBPG é que nenhum
laboratório atualmente tem o quantitativo adequado de peritos para todos os
trabalhos que estão sendo realizados na rede. É importante dizer que hoje a
rede trabalha com análise de perfis genéticos de condenados; análise de
suspeitos para fins de identificação criminal; análise de vestígios de diversos
tipos criminais; temos também o projeto de desaparecidos, então temos que
analisar tanto amostras de familiares, quanto amostras de restos mortais não
identificados e de pessoas vivas. Tudo isso também faz parte do trabalho da
perícia criminal”, afirma Carneiro.
Crimes elucidados
Foi graças
ao trabalho desses peritos, por exemplo, que um crime que chocou o Brasil e
estava impune há 11 anos foi esclarecido. O estupro e assassinato da estudante
Rachel Genofre, de 9 anos, encontrada morta dentro de uma mala da Rodoferroviária
de Curitiba, em 2008, só foi solucionado graças à análise de DNA. “Na época a polícia científica do Paraná
coletou material genético, analisou, fez comparações com cerca de 170
suspeitos, mas não encontrou o autor. A amostra ficou armazenada no laboratório
estadual até ser encaminhado para o banco nacional. Em 2019 houve um mutirão
para coleta de material genético de condenados. Uma equipe foi ao presídio de
Sorocaba e coletou material de vários indivíduos. Quando as amostras foram para
o Banco Nacional, o cruzamento de dados com a amostra coletada em Curitiba há
11 anos revelou a compatibilidade. Com isso, um estupro e homicídio brutal que
chocou a sociedade foi elucidado 11 anos depois. Por meio do banco, um
indivíduo que não era suspeito, que nunca havia sido investigado por esse crime
foi identificado como o agressor de Raquel Genofre”,
comenta Carneiro.
Prêmio internacional
Outro caso
emblemático, e que rendeu ao RIBPG o prêmio internacional ‘DNA Hit of the
Year’, foi o do megaroubo da Prosegur, em 2017, em Ciudad del Este, na
fronteira com o Brasil. “Na
madrugada de 24 de abril de 2017, a cidade foi tomada por uma quadrilha muito
violenta, que sitiou a cidade para atacar a central de valores da empresa
Prosegur. Além da morte de um segurança, o assalto deixou um rastro de
destruição. Esse caso foi investigado com a colaboração da Polícia Federal,
porque a quadrilha fugiu em direção ao Brasil”, conta
Carneiro.
Graças a essa
colaboração foi encontrado um quartel general no Paraguai, de onde foram
coletados mais de 400 vestígios, analisados pela PF de Brasília. Foram feitas
centenas de análises, que deram origem a dezenas de perfis genéticos. Por meio
dessa investigação, a PF descobriu que 47 indivíduos participaram do assalto e
identificou 14 deles graças à análise de DNA.
Mudanças na legislação
O grande
desafio para a ampliação da RIBPG é a atualização da legislação. Hoje, a lei
brasileira permite armazenar perfis de condenados por crimes contra a vida e
crimes cometidos com grave violência. “É
preciso que nossa legislação acompanhe esse avanço tecnológico e dê
possibilidades para que ele seja utilizado em sua plenitude no Brasil”,
afirma.
O perito
federal entende que é preciso aumentar a quantidade de tipos penais que
permitem a coleta de DNA dos condenados. Desde abril do ano passado, a lei não
permite mais coletar amostras de condenados por crimes hediondos.
Raio-X
São Paulo
é o estado que mais envia amostras de DNA para o banco nacional, sendo
responsável por 14,4% de todas as amostras. Na sequência vem Minas Gerais
(13,8%), Pernambuco (12,36%) e Rio Grande do Sul (9,23%) e Goiás (7,93%).
A maioria
desses perfis (74,38%) se refere a amostras de condenados; 15,68% foram
extraídas de locais de crimes e 4,47% vêm de referências de pessoas
desaparecidas. Esses dados são coletados por 22 laboratórios, sendo 20
estaduais, um do Distrito Federal e um da Polícia Federal.
Destaques da Programação desta quarta-feira
-
Programas para análise de dados genéticos: uma visão geral com Paulo Bomfim
Chaves
- Redes
Sociais: Riscos e mecanismos essenciais à segurança com José Helano Matos
Nogueira
-
Cinotecnia Forense: Cães de auxílio ao trabalho policial com Luis Galvão Peres
- Estudo
de padrões balísticos para a instrução técnico-investigativa no caso Marielle
Franco com Márcia Mendes de Figueiredo Costa
- Simpósio
Cellebrite/Techbiz: Extração de dados de dispositivos móveis
- Simpósio
Griaule
SERVIÇO
XXVI
Congresso Nacional de Criminalística (CNC)
Quando: De 17 a 20 de maio
Local: Expo D. Pedro - Parque D. Pedro Shopping
- Campinas/SP
Endereço: Avenida Guilherme Campos, 500, Bloco II,
Jardim Santa Genebra
Mais
informações: https://app.virtualieventos.com.br/criminalistica2022
Evento vai reunir peritos criminais e
profissionais da Ciência
e Tecnologia do Brasil e do
Exterior
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