Como as fraudes online afetam o mercado brasileiro
Por Giovanni Bassi
O famoso jeitinho
brasileiro - resultado da resiliência e criatividade de uma sociedade que
utiliza do improviso para superar as adversidades - é cultural. No mundo
virtual, muitas vezes, a conduta não é diferente.
E o resultado disso é
uma infinidade de golpes que impactam consumidores que ainda assimilam um mundo
de possibilidades das compras on-line.
Em 2021, o Brasil
registrou uma média de 3,7 tentativas de fraude por minuto entre 9h e 20h,
período em que ocorrem 70% das tentativas de fraude no país. Os dados são do
levantamento Device Fraud Scan 2022, concluído recentemente pelo AllowMe.
É fato que as fraudes
acontecem no mundo todo e não são uma exclusividade brasileira. Mas, ainda
assim, o que faz o Brasil ser líder mundial no ranking de fraudes online? Para
responder a essa pergunta, primeiro precisamos considerar o lado cultural,
afinal, muitos usuários ainda não sabem o que precisam fazer para se proteger e
desconhecem como funcionam os mecanismos de crimes virtuais. A segunda razão é
a falha nos softwares, desde bugs até a ausência de funcionalidades para
proteger o consumidor.
O estudo mostrou que os
segmentos financeiros estão no topo da lista daqueles que mais sofrem fraudes
on-line no Brasil. Programas de fidelidade, instituições financeiras, fintechs,
avaliações virtuais e criptomoedas, nesta ordem, são os que mais registraram
tentativas fraudulentas ao longo de 2021.
Existem muitas
modalidades de fraudes, sendo que a mais comum delas é enganar o usuário
induzindo-o a fazer algo que não faria normalmente, como passar um número de
cartão de crédito, ou fazer um PIX para uma pessoa. Mas, também, são comuns as
clonagens do cartão e do número de telefone celular para, em seguida, roubar o
WhatsApp e se passar pela pessoa, além do roubo de contas de lojas online para
realização de compras que são entregues a laranjas. O roubo da conta do
aplicativo de mensagens é muito comum, nesse caso o criminoso liga para a
vítima e tenta obter o código de confirmação para transferência, que é enviado
por SMS.
Em meio a tantos
perigos, vale o questionamento: é possível evitar ser vítima de uma ação
fraudulenta? O segredo é desconfiar sempre. A pessoa nunca deve confiar que
quem está do outro lado da comunicação é quem ela diz ser. Se alguém manda uma
mensagem dizendo ser um familiar, com outro número, desconfie. Se a pessoa te
liga dizendo ser parte de uma empresa e pede seus dados, não informe. Se ela te
ligou, ela tem que ter os dados, se for da empresa de verdade, ela saberá com
quem está falando, então, você só precisa confirmar quem é quando se inicia o
contato (por telefone ou mensagem).
Se a dor de cabeça já é
grande para uma pessoa física, quando se trata de uma empresa o prejuízo pode
ser ainda maior. Isso porque, além de ter um rombo financeiro, ela também perde
em credibilidade para com os seus clientes.
É justamente por isso
que, atualmente, uma das preocupações comuns que uma empresa deve ter ao
disponibilizar um software é considerar a segurança dos usuários do começo ao
fim de todos os processos. Ele (software) precisa ser seguro por padrão e não
atribuir ao usuário a responsabilidade de descobrir como tornar o aplicativo
seguro.
Também é importante que
as empresas orientem os usuários, informando-os sobre como se proteger. Isso
pode ser feito pelos próprios aplicativos, mas também com mensagens, por
diversos canais diferentes.
As empresas que fazem
software devem ter profissionais capacitados para executar projetos seguros de
software, desde sua concepção até a escrita do código em si. É tudo uma questão
de formação, ferramentas e processos.
Com usuários mais
atentos e empresas cada vez mais comprometidas com a segurança de seus
clientes, o jeitinho brasileiro vai perdendo espaço e dando lugar a um ambiente
virtual cada dia mais seguro.
Giovanni Bassi é Chief Software Architect (CSA) da Lambda3
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