Líderes ESG são líderes dos negócios
* Por Luis Fernando Guggenberger
Desde que o tema ESG ganhou maior
notoriedade na imprensa, assim como nas mesas das diretorias e conselhos das
empresas, muito tem se falado sobre o papel dos líderes, em especial CEOs e
conselheiros de administração. Papel este que, sem dúvida alguma, é o de
colocar na pauta diária das discussões os assuntos ligados aos impactos
ambientais, sociais e de governança das organizações, tomando decisões não
apenas visando a criação de valor para os shareholders, mas para todos os
stakeholders e, com isso, criarmos cada vez mais ambientes saudáveis para os
negócios e para o planeta.
Tenho sido convidado para palestrar em
eventos, cursos, e é encantador ver o número de CEOs, C-Levels, Conselheiros e
Acionistas de empresas participando destes fóruns. Estão interessados em
aprender, em debater não só para entender melhor sobre a inserção do tema na
estratégia dos negócios, mas sim para conhecer o caminho das pedras e inserir a
agenda nas operações, na identidade da organização, e na disseminação com toda
a liderança, seja ela alta ou média. O objetivo é que ao final todos possam
entender sobre como devem colocar a pauta ESG no checklist diário para as
tomadas de decisão, sejam elas as mais simples ou complexas. Com isso, fica
cada vez mais claro o papel de todos os tomadores de decisão como responsáveis
por tornar real a agenda ESG nas corporações e não a cargo de uma única área.
Sinal de novos tempos para o mundo dos
negócios. Viva!!!
Mas hoje o que quero trazer para a
reflexão é sobre o papel mais específico de nós líderes das áreas de
Sustentabilidade nas empresas, que agora passam a ter maior importância para a
estratégia dos negócios. Parafraseando um programa de televisão para
entendermos sobres líderes: “Quem são eles? O que comem? O que bebem? Como se
vestem? Como vivem?”. Então, somos um grupo de pessoas altamente críticos e
inconformados com a realidade do mundo. Somos um tipo de gente que adora andar
em bando; já viram a quantidade de eventos que realizamos para o nosso próprio
clube, tentando catequizar os já convertidos? Nos enxergam nas empresas como os
bichos-grilos, que adoram abraçar árvores, aqueles que pedem por caridade. E
mais, falou sobre a cor verde a associação conosco é imediata (não que a cor
seja ruim, não é sobre isso).
Vejam só a quantidade de rótulos e
estereótipos colocados pelos profissionais de outras áreas das empresas sobre
nós. Se identificam? A intenção aqui não é fazer papel de vítima, mas sim
chamar a atenção dos meus pares em outras organizações, porque ao mesmo tempo
nós mesmos criamos este cenário. Quantos de nós estamos ocupando o board das
empresas semanalmente participando das discussões dos negócios como um todo e
não fazendo apenas participações pontuais para levar algum resultado de
pesquisa, diagnóstico, aprovação do plano da área ou de projetos? Quantos de
nós estamos reservando espaço nas agendas para entendermos as dores das demais
áreas, como, por exemplo, realizando visitas de campo com as equipes comerciais
e conversando com clientes? Ou ao irmos até as operações industriais, não
fazermos o papel de auditores, mas sim de uma agenda genuína para entender a
rotina da produção fabril? Como estamos incentivando essa prática nos membros
das nossas equipes também?
Sobre a criação dos estereótipos, já vi
e convivi com muita gente que acha a empresa, quem trabalha nos negócios, são
demônios capitalistas, enquanto às áreas de Sustentabilidade, Responsabilidade
Social, Institutos e Fundações empresariais são feitas por pessoas santas
preocupadas única e exclusivamente em salvar o mundo. E quando há uma troca no
comando destas áreas, trazendo uma pessoa do próprio negócio, causa aquele
pânico geral ativando inclusive o botão dos preconceitos, aliás, de ambos os
lados.
Assim como chegou aquele momento tão
desejado por nós, de que a área de Sustentabilidade não seja mais vista pelas
empresas como um patinho feio, eis a hora para a qual fomos chamados, a de
ocuparmos as cadeiras junto aos tomadores de decisão. O convite está feito.
Agora quantos de nós estamos de fato interessados em enfrentar os medos, as
vulnerabilidades e atravessar de vez esta ponte? Quantos de nós estamos com o
genuíno interesse em aprender e ajudar nossas empresas com um olhar sistêmico?
É o que tenho dito, mais do que nunca, agora o nosso papel é o de servir como
voz da consciência para os CEOs e conselheiros de administração e de ajudar a
mostrar para a sociedade de que o compromisso ESG é para valer.
* Luís Fernando Guggenberger é executivo de Marketing, Inovação e Sustentabilidade da Vedacit, responsável pela coordenação das iniciativas de Inovação Aberta e Sustentável e pelo Instituto Vedacit. Formado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Guarulhos e pós-graduado em Comunicação Empresarial pela Faculdade Cásper Líbero. Sua experiência profissional é marcada pela passagem em fundações empresariais como Fundação Telefônica e Instituto Vivo, além de organizações sociais na cidade de São Paulo. É membro do Comitê de Inovação do IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, também participa do Conselho de Governança do GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, do Conselho Consultivo da GRI Brasil e do Conselho Fiscal do ICE – Instituto de Cidadania Empresarial. Mentor de startups de impacto socioambiental.
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