O desafio das marcas na era da hiperconexão
Por Fernando Moulin *
Em minhas palestras e demais atividades profissionais, costumo sorrir ao
observar a reação de surpresa da maioria das pessoas quando comento que a
internet comercial no Brasil tem aproximadamente 25 anos de idade, apenas.
Essa surpresa é amplamente justificável. É impressionante o poder
contido nessa singela inovação, que transformou radicalmente todas as
instituições, relações sociais, forma pela qual temos acesso à informação,
fazemos negócios e, de fato, as múltiplas dimensões que constituem a
maravilhosa experiência de viver.
Fato é que a quarta revolução da história da humanidade (a revolução
digital), caso não seja ainda mais importante para o desenvolvimento de nossa
sociedade que a revolução agrícola ocorrida há 10 mil anos, que definiu
praticamente todo o tecido social atual, certamente está ocorrendo de forma
muito mais acelerada – e é a primeira à qual temos que nos adaptar em um
intervalo de tempo inferior a uma única geração.
Essa incrível transformação digital diariamente nos desafia à própria
reinvenção, em um mundo “líquido” muito bem compreendido pelo saudoso Zygmunt
Bauman. Experimentamos, como num reality game do qual não conseguimos
sair, a era VUCA prevista nos anos 90 (ou até mesmo a era BANI, caso prefiram),
um ansioso contexto de mutabilidade contínua em que a impermanência é rainha.
E a pandemia de COVID-19, esse infeliz desastre sanitário que marca
nossa realidade atual, teve o efeito colateral de fazer qualquer indivíduo (a
despeito de faixa etária ou de eventual resistência a adotar ou não o digital
anteriormente) forçosamente migrar em algum grau para o virtual.
Esse novo contexto digital frenético e hiperconectado trouxe para as
empresas um desafio adicional: como ter relevância efetiva para o consumidor ao
longo de uma jornada do cliente cada vez mais fragmentada e repleta de
interações frequentes e múltiplos pontos de contato?
Em meu entender, a solução passa pela simplicidade e transmissão em
todos os esforços de comunicação e marketing de sua personalidade como marca,
com autenticidade.
Fico feliz ao ver quantas marcas importantes assumiram um papel
relevante de liderança, em busca de seu significado mais amplo (propósito
institucional) e de fortalecer as conexões com os consumidores imersos nos
desafios descritos acima, durante a pandemia.
Nunca anteriormente houve tantas empresas fazendo doações para tentar
mitigar de algum modo as imensas e variadas dores trazidas pela doença, que
afetam especialmente aos menos favorecidos.
Houve organizações que mudaram suas capacidades produtivas para produzir
álcool em gel em caráter emergencial; outras, que realizaram doações vultosas e
apoiaram causas sociais importantes para combater a miséria; aquelas que se
uniram, a despeito de rivalidades históricas, para parcerias em causas maiores
do que elas mesmas. Os exemplos são diversos.
Outro exemplo é a reação vigorosa de empresas e líderes de todas as
partes contra o abjeto PL 504/2020 da Assembleia Legislativa de SP, uma
excrescência medieval em pleno século XXI. Poucos anos atrás, esses
posicionamentos publicamente assumidos não ocorreriam. E isso é muito positivo.
As marcas líderes entenderam que na era da hiperconexão não basta
representar um produto ou serviço que comercializam. Elas precisam se conectar
como personas efetivas e de enorme impacto social para ampliar sua relevância
junto aos diferentes stakeholders com os quais interagem, dos externos
àqueles distantes milhares de quilômetros de seus escritórios administrativos.
Na era da tecnologia, as marcas que sobreviverão serão aquelas que
paradoxalmente souberem trabalhar no limite daquilo que nos faz, simplesmente,
humanos.
*Fernando
Moulin é Business Partner da Sponsorb, consultoria boutique de business
performance, professor e especialista em negócios, transformação digital e
experiência do cliente. E-mail: fernando.moulin@sponsorb.com.br
Sobre Fernando Moulin
Natural de Volta Redonda (RJ), Fernando Moulin é um dos principais especialistas em transformação digital e experiência do cliente, além de ser um dos pioneiros do Marketing Digital/CRM no Brasil. Graduado em Engenharia Química pela Unicamp, possui MBA Executivo Internacional pela FIA-USP e realizou cursos de marketing e negócios em diversas instituições internacionais, como Kellogg/NorthWestern (Estados Unidos), INSEAD (França), Cambridge (Reino Unido) e Lingnan University (China). Possui mais de 20 anos de experiência como executivo em grandes organizações, como Telefônica/Vivo, Cyrela, Nokia, Pão de Açúcar, Claro, Citibank, entre outros. Mentor de startups e advisor estratégico, também é palestrante e professor do Master em Gestão da Experiência do Consumidor, na ESPM, além d professor e conselheiro deliberativo do IBRAMERC da Live University. Atualmente, é Business Partner da Sponsorb, consultoria boutique de business performance. Mais informações, acesse: www.linkedin.com/in/fernandomoulin/
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