Ler e se divertir com a cultura popular brasileira
Por meio de livros e brincadeiras, escritora e
pesquisadora Graziela Barduco estimula contato com manifestações populares
Sempre
apaixonada por brasilidades e elementos da cultura nacional, a atriz e mestre
em Artes da Cena, Graziela Barduco, agora vai além do teatro para dialogar com
o público infantil sobre o tema. As obras A
menina e o pé e O
sapinho e o bumbum são a mais recente proposta da autora para
ler e se divertir em família.
Para Graziela, toda e qualquer forma de
abordagem acerca da cultura brasileira contribui para a formação intelectual e
cultural das crianças, além de incentivar a liberdade de escolha e expressão.
Somado a isso, garante que a interação entre adultos e crianças fortaleça a
conexão entre ambos, na medida em que estimula e reforça a criação de um
vínculo e construção de confiança.
Na entrevista abaixo, Graziela explica
mais sobre a experiência com o universo infantil, por meio do teatro, e
discorre em mais detalhes sobre como a literatura pode contribuir para o
desenvolvimento na infância. Confira:
1. Quando e como surgiu
sua paixão pela escrita?
Eu costumo dizer que me descobri
escritora em meio ao meu processo de pesquisa de mestrado. Na realidade eu
sempre tive o hábito de escrever poesias, desde muito pequena, mas era sempre como
uma espécie de desafogo perante as angústias com as quais me deparava. Durante
o desenrolar do mestrado, que é um período muito intenso e extremamente
estressante, passei a escrever quase que desenfreadamente, como forma de alívio
perante à ansiedade do momento em questão.
Como acabei ficando com uma produção
muito extensa (e intensa) ao final deste período, decidi publicar meu primeiro
livro, o “Na Rima da Menina” (editora Versejar), além de passar a publicar em
diversas antologias desde então. E, daí por diante, não mais parei.
2. Como surgiu a
oportunidade e motivação de escrever “A Menina e o Pé” e “O Sapinho e o
Bumbum”?
"O Sapinho e o Bumbum" surgiu
a partir de uma ideia que tive durante os cuidados com meu bebê, enquanto eu
lhe dava banho em seus primeiros meses de vida. Ele foi todo escrito em formato
de poesia, utilizando a métrica da embolada de coco, uma forma muito utilizada
na poesia popular brasileira, estilo pelo qual sou apaixonada.
Já "A Menina e o Pé" é uma
adaptação da dramaturgia do espetáculo infantil homônimo da minha companhia de
teatro, a Cia Cordiais; teve sua estreia em maio de 2019 e é fruto do meu
processo de pesquisa de mestrado. A obra aborda, de maneira bem lúdica,
diversos elementos da cultura popular brasileira.
3. Qual é a principal
mensagem que os seus livros trazem aos pequenos leitores?
Com relação ao "O Sapinho e o
Bumbum", a história aborda as divertidas constatações de um sapinho muito
curioso, que, ao cair sentado no chão, percebe uma nova forma de enxergar o
mundo. Desta forma, o livro faz uma metáfora com os mais variados pontos de
vista e perspectivas presentes no dia a dia.
Já com relação ao "A Menina e o
Pé", faz uma analogia entre o aprisionamento dos pés da protagonista e o
cerceamento das ideias, e da liberdade de expressão, que ainda hoje assola o
pensamento crítico e artístico.
4. Como surgiu a ideia
de utilizar a cultura popular brasileira na literatura para se comunicar com as
crianças?
Durante minha especialização em
Interpretação para Musical, através da Escola Superior de Artes Célia Helena,
tive a oportunidade de estrito contato com elementos de nossa cultura popular
brasileira, em algumas disciplinas do curso. Trabalhamos com a partitura da
música Mateus Embaixador, do artista Antônio Nóbrega, e essa música aguçou
minha curiosidade, já em meu primeiro contato com ela, ao cantá-la em coro,
acompanhando-a com percussão corporal.
Muito provavelmente foi ali, ao
vivenciá-la, por assim dizer, que me dei conta da complementariedade presente
naquilo que fazíamos, já que aquela obra nos abria um leque de possibilidades
de combinação de linguagens, tais como música, canto, dança, ritmo, poesia,
narrativa... permitindo um trânsito entre diversas formas de expressões
artísticas. Penso que foi naquele momento que percebi a enorme riqueza e
potência que carregam os elementos presentes na maioria das manifestações
populares brasileiras.
Daí veio meu desejo de mergulhar neste
universo, beber em suas raízes enquanto fonte de inspiração, para criação de
uma obra voltada para o público infantil, que passeasse por toda esta riqueza
de elementos. Primeiro veio o espetáculo "A Menina e o Pé" e, na
sequência, sua dramaturgia acabou virando livro infantil, carregando consigo
este passeio lúdico pelos elementos da cultura popular brasileira.
5. O livro “A Menina e
o Pé” conta com canções autorais e promove conexão das crianças com os ritmos
brasileiros. Você acredita que essa combinação pode despertar mais o interesse
dos pequenos pelas artes?
Eu acredito que ressaltar a importância
de uma abordagem mais maciça acerca da cultura tradicional brasileira - bem
como seus ritmos, danças, gêneros musicais, manifestações artísticas, etc - com
o público infantil, reflete diretamente na formação intelectual e cultural das
crianças, além de contribuir para que sejam integrantes de uma plateia com um
repertório artístico amplo o suficiente, para que haja possibilidade de
escolhas sobre o que contemplar e assistir.
6. Em “O Sapinho e o
Bumbum”, você dá dicas para pais e professores de como trabalhar a leitura com
os pequenos. De que forma essa experiência pode fortalecer a conexão entre
adultos e crianças?
A ideia é estimular, além da leitura, o
“brincar” em cada criança, já que o "brincar" é na realidade uma
forma de relação entre o "eu" e o "outro", bem como uma
forma de descobrimento de si próprio. Através do "brincar" a criança
exerce o seu próprio desenvolvimento, tanto emocional quanto cognitivo, de
forma criativa, estimulando sua autoconfiança, imaginação e espontaneidade.
Eu acredito que toda esta interação
entre adultos e crianças fortalece a conexão entre ambos na medida em que
estimula e reforça a criação de um vínculo. Além disso há a construção e
consolidação de uma relação afetiva e de confiança entre eles, o que gerará
segurança à criança para que ela realize plenamente suas atividades e, por
conseguinte, desenvolva suas habilidades da melhor forma possível.
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