Mesmo com crises, Brasil deve estimular indústria e ampliar as relações comerciais em contraste aos movimentos protecionistas
- por Luciana Maria de Oliveira
Recentemente, o mundo tem enfrentado
tensões internacionais de grande impacto, como as restrições do governo de
Donald Trump, a saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) e episódios
como a guerra comercial entre EUA e China, a pandemia do novo coronavírus e a
guerra na Ucrânia. Em um mundo cada vez mais globalizado e em que as
interconexões e relações econômicas, políticas e comerciais se entrelaçam o
tempo todo, países desenvolvidos e em desenvolvimento têm sofrido grandes
dificuldades econômicas, como inflação alta, problemas na exportação de bens,
serviços e alimentos e o agravamento da insegurança alimentar.
Como reação a esses fenômenos, muitos
países têm apresentado movimentos de protecionismo em suas economias, por meio
da imposição de restrições comerciais e de barreiras tarifárias e não
tarifárias às importações e exportações. O movimento de fechamento das
economias é reflexo das crises que se desenrolam em cadeia. A ONU,
recentemente, pediu, expressamente, aos países da Organização Mundial do
Comércio para que as exportações não sofram mais restrições, a fim de evitar
uma grave crise internacional de alimentos. É imprescindível que o Brasil não
siga o caminho dos países que têm se fechado e siga aberto ao comércio
internacional apesar das dificuldades recentes.
O Brasil é o terceiro maior exportador
de commodities agrícolas do mundo e é altamente dependente da importação de
fertilizantes da Ucrânia e da Rússia. Ainda que o Brasil não tenha aplicado
sanções à Rússia, o país sofre com as consequências indiretas dessa crise,
assim como outros países em desenvolvimento. Mas, apesar disso, a situação não
deixa de apresentar boas oportunidades para o Brasil. Para isso, é preciso
fazer o dever de casa. É preciso investir na produção interna e no campo
tecnológico visando aumentar a competitividade e o valor agregado dos produtos.
Nesse sentido, a aprovação de reformas como a fiscal, administrativa e
trabalhista também podem impulsionar o agronegócio.
É muito importante investir internamente
visando ser mais competitivo e se abrir às exportações, mas também é preciso se
relacionar e estar aberto às cadeias de produção e cadeias globais de valor.
Não podemos nos fechar e apenas pensar na autossuficiência. É preciso
reestruturar a cadeia de alimentos, diminuindo a dependência em alguns setores
estratégicos, diversificando fornecedores e ampliando parcerias comerciais.
Hoje, o país vem celebrando contratos com o Canadá e iniciando conversas com o
Chile e o Emirados Árabes Unidos como alternativas para a importação de
fertilizantes. É importante mantermos firmes as relações com a União Europeia,
da China e dos EUA, para a celebração de acordos que possam trazer benefícios.
É possível, com um bom desenvolvimento
da indústria nacional, um crescimento sustentável do país e da população e o
estabelecimento de relacionamentos comerciais com mais países e regiões,
aproveitar a situação de crise e promover importantes avanços para o país. O
Brasil, por ser um player de importância no mercado mundial de alimentos, não
deve adotar medidas protecionistas e pode se beneficiar em um movimento
contrário a outros países.
* Luciana Maria de Oliveira é advogada
sênior associada do Cescon Barrieu Advogados, responsável pelas áreas de
Comércio Internacional e Comércio Exterior.
Sobre o Cescon Barrieu
O Cescon Barrieu é um dos principais escritórios de advocacia do Brasil, trabalhando de forma integrada em cinco escritórios no Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Brasília) e, também, em Toronto, Canadá. Seus advogados destacam-se pelo comprometimento com a defesa dos interesses de seus clientes e pela atuação em operações altamente sofisticadas e muitas vezes inéditas no mercado. O objetivo do escritório é ser sempre a primeira opção de seus clientes para suas questões jurídicas mais complexas e assuntos mais estratégicos. www.cesconbarrieu.com.br
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