BASTA DE MIOPIA E IGNORÂNCIA, SR. VEREADOR!
Na
Sessão Camarária de 25 de agosto de 2022, um vereador, após saudar
elegantemente seus pares, o público presente nas galerias do Plenário da Câmara
e o público que acompanhava essa sessão pelas redes sociais ou pela TV Câmara
de Piracicaba, propôs-se a comentar sobre o Projeto de Resolução 8/2022, em
trâmite nesta Casa de Leis, e que foi adiado por uma semana.
Sua
exposição contou com o apoio de projeção de slides elaborados em PowerPoint,
provavelmente preparados por sua assessoria parlamentar.
Aos
poucos a elegância inicial do nobre edil vai se perdendo dando lugar a sua
ideologia, enquanto um sistema de representações e de estruturas de modelos
mentais, construída pelos homens em suas relações sociais.
Com
sua ideologia reacionária, sua narrativa inverte a realidade para justificar
suas afirmações, ocultando, velando e justificando sua falsa consciência sobre
o requerimento assinado pelo Conespi, Sindicatos, Associações, G5 Comunidades,
Ipedd, Cidadãos e OCIPI Pira 21.
O
vereador começa dizendo que o Projeto de Resolução 08/22 “gerou uma polêmica
porque os opositores, os atingidos diretos é um projeto que regimenta
disciplinarmente a permanência do munícipe nessa casa de leis”.
O
que ele tenta comentar é a emenda substitutiva ao que já existe e está em
vigor. Em nenhum momento foi apresentado pelo vereador a insuficiência da
regulamentação existente. Sua omissão foi proposital, pois o Projeto de
Resolução pretende alterar o Regimento Interno da Câmara de Vereadores de
Piracicaba, estendendo o braço administrativo e punitivo ao recinto externo da
Câmara. Esse espaço compreende: as laterais, o calçamento ao entorno do prédio
principal, do prédio anexo e o estacionamento.
Continuando
sua narrativa, o referido vereador expõe a escala punitiva do Projeto de
Resolução e reafirma sua necessidade para combater o excesso ou ofensa contra
vereadores e servidores, através de uma leitura rápida que vai suprimindo
palavras e frases dos slides projetados.
Afirma
que não há vereadores cerceando a liberdade de ninguém, mas que vem acontecendo
assassinato de reputações de vereadores.
Os
subscritores do pedido de retirada e arquivamento do Projeto de Resolução
8/2022 alegam que o atual Regimento é mais do que suficiente para dar guarida à
Câmara contra quaisquer formas de desrespeito às atividades parlamentares e aos
parlamentares dentro do recinto interno desse espaço público, cabendo ao
Presidente que conduzir as sessões camarárias fazer valer as atribuições que
lhe cabem e que saiba exercê-las com autoridade e competência.
Como
ao Vereador em referência interessava uma pregação míope, e não a discussão da
suficiência ou insuficiência do que é mencionado no referido Projeto de
Resolução, o mesmo passou a dizer inverdades, valendo-se de uma narrativa
bolsonarista, atacando não só os que subscreveram o requerimento de retirada e
arquivamento, mas também os órgãos de imprensa que publicaram matéria sobre o
requerimento subscrito por diversas entidades.
Prosseguindo
com seu intento, o vereador projeta um slide e coloca no centro o PT e, ao seu
redor, várias organizações com finalidades diversas, posicionamentos políticos
diferenciados e que foram reduzidas, pela pobreza ideológica e negacionista do
seu discurso, aos puxadinhos do PT, tais como: Jornal de Piracicaba, A Tribuna,
Conespi, OCIPI Pira 21 e o IPEDD.
Nega
as finalidades de cada entidade citada, seus posicionamentos políticos
diversificados, porque quer atacar a todos (as) seus adversários como
socialistas e comunistas.
Como
dono da verdade, nivela a todos (as), reduzindo-os (as) a puxadinhos,
esquecendo e negando a História singular de cada entidade, suas respectivas
missões e objetivos.
É
extremamente grave, fantasiosa e demagógica a postura de um servidor público
eleito pelo povo.
Refere-se
aos sindicatos e sindicalistas como baderneiros e truculentos, esquecendo e
negando a história do movimento sindical na construção da civilização contra a
barbárie da exploração do trabalho humano, especialmente do trabalho feminino e
das crianças.
Os
slides apresentados pelo vereador reproduzem o que já foi feito no Brasil de
forma desastrosa, pois só faltou ao edil piracicabano explicitar o que carrega
no peito: não tenho provas, mas tenho a convicção.
Com
sua narrativa fantasiosa e com esse PowerPoint visando centralizar e focar no
seu adversário central, o PT, esse representante do poder legislativo municipal
abusa e ofende pessoas e entidades, com sua miopia, ignorância e má fé, citando
as entidades subscritoras do requerimento, que solicita a retirada e o
arquivamento do Projeto de Resolução, como puxadinhos do PT.
Essa
exposição abusiva, espetacularizada, com denúncias e acusações falsas é prova
suficiente da quebra de decoro parlamentar, pois como afirma a justificativa do
Projeto de Resolução 8/2022, assinado pela Mesa Diretora da Câmara Municipal,
em 20 de junho de 2022, embora a liberdade de expressão
tenha cunho constitucional, não é absoluta e deve ser exercitada com
consciência e responsabilidade, principalmente em relação a outros valores
igualmente importantes, garantidos pela Constituição Federal da República
Federativa do Brasil.
Se o
respeito ao voto e ao (a) candidato eleito é importante, o mesmo deve ocorrer
com relação ao eleitor, suas organizações representativas e ao desejo de
acompanhar e influenciar as políticas públicas, pois a democracia é,
inevitavelmente, um sistema de criação de direitos e de redefinição de
responsabilidades.
Em
função dos conflitos de interesses inexoráveis, estes, nas sociedades
democráticas e complexas, não são resolvidos, exclusivamente, pela ampliação do
poder normativo e repressivo, mas pela ampliação da esfera pública, e dos
espaços públicos, daí a necessidade crescente da democracia representativa
conviver em conjunto com a democracia participativa.
A
normatividade, como única fonte para combater eventuais excessos de
posicionamentos diferenciados, poderá gerar uma disfunção, conseguindo efeitos
diversos ao que é esperado. A norma, que é um meio, passa a ser um fim em si
mesma, pois quanto mais normatividade, maior poderá ser a criatividade para
driblá-la, o que exigirá, portanto, mais normas, criando um ciclo vicioso, sem
atingir os objetivos pretendidos.
Nesse
sentido, cumpre destacar que o Projeto de Resolução em tela, além de não
estimular o debate, com o propósito de combater o excesso, acaba optando por um
caminho de vigilância e de punição em espaços públicos.
Pelos
fatos aqui expostos, precisamos evitar uma guerra entre alguns vereadores e
representantes comunitários e sindicais a propósito de se combater a violência,
hostilidade e exageros.
Urge
o diálogo e o debate entre as partes para resolução desse conflito e a retirada
e arquivamento desse Projeto de Resolução.
Dorgival Henrique é Diretor Presidente e Jonas Tadeu Parisotto é Diretor Jurídico, ambos, do IPEDD
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