A evolução da educação bilíngue no cenário pós-pandemia
Por Rone Costa
Em um mundo cada vez mais pluricultural e
globalizado, a educação bilíngue tem conquistado um
importante espaço no cenário educacional. Segundo dados do Ministério da
Educação (MEC) divulgados em 2021, o Brasil conta, atualmente, com mais de 1,2
mil escolas bilíngues. Além disto, a Associação Brasileira do Ensino Bilíngue
(Abebi) aponta um aumento entre 6% e 10% no número de escolas deste segmento nos últimos seis anos no país.
Diversos fatores foram
responsáveis por este crescimento, como a necessidade do uso de uma língua
adicional no dia a dia, os avanços tecnológicos que nos colocam em contato com
pessoas de diversos países; o mercado de trabalho cada vez mais competitivo; a
preocupação das instituições de ensino em formar alunos preparados para o
mercado e para a vida; a cobrança de pais, mais exigentes por uma educação em
duas línguas e de qualidade; e, ainda, a concorrência entre as escolas que
oferecem programas bilíngues.
O impacto da pandemia para a
educação bilíngue
No entanto, nos últimos dois
anos, a pandemia de Covid-19 impactou fortemente diferentes setores, em
especial, a área educacional e, consequentemente, a educação bilíngue. Com o
distanciamento social, as instituições precisaram adaptar-se à uma nova realidade,
em que a tecnologia ganhou um papel fundamental e indispensável, tanto para os alunos quanto para as escolas e docentes. A utilização de recursos tecnológicos possibilitou a
realização das aulas remotas, tornando-as mais interativas e dinâmicas.
O fato é que o uso da tecnologia auxilia
todo o ecossistema educacional e uma das maneiras mais efetivas para promover o
engajamento e a aquisição da língua com naturalidade é a utilização de recursos
multimídia, que possibilitam um fácil acesso à linguagem autêntica do nativo da
língua, variedade de gêneros, estilos e situações diversas, tornando o processo
mais fluido para os alunos. Neste contexto, as escolas tradicionais tiveram que
investir em plataformas para transmissão das aulas, bem como em equipamentos
para o ensino no modelo híbrido. Enquanto os programas bilíngues, precisaram
aprimorar suas plataformas digitais ou desenvolvê-las para quem ainda não as
utilizava.
Com este rápido desenvolvimento
tecnológico, surgiram incontáveis soluções para auxiliar o ensino online, mas nem
todos sabiam utilizá-las da melhor forma, inclusive o corpo docente.
Neste sentido, a formação dos educadores tornou-se prioritária a fim de
aprimorar o uso e a familiaridade com as ferramentas digitais, transformando a
maneira com que os docentes ministrassem suas aulas.
Outro fator que influencia
diretamente a educação bilíngue é a interação entre os alunos, bem como entre
aluno-professor. Este é um processo feito de vivências, de práticas, de
exposição à língua e de encorajamento para o uso do idioma. Desta forma, o
professor precisou capacitar-se para trazer o dinamismo necessário para a tela
do computador, já que não tinha mais o contato presencial com os alunos, e com
a tarefa adicional de motivá-los.
Formação de bilíngues: educando
em dois idiomas
Embora o Brasil tenha avançado
e conquistado um importante espaço no desenvolvimento de soluções bilíngues, é
preciso ampliar os olhares e investir em algo ainda maior: a formação de bilíngues.
É importante ressaltar que,
mais do que ensinar um idioma adicional aos alunos, a educação bilíngue
consiste em educar em duas línguas, com dois idiomas de instrução transitando
na base curricular, desenvolvendo, assim, um sujeito integral - independente da
língua de instrução -, com habilidades e competências e trabalhando as funções
executivas e cognitivas.
Assim, a educação bilíngue,
mais do que nunca, torna-se intrínseca às principais necessidades demandadas
para o desenvolvimento profissional e pessoal. Seguindo essa tendência, as
escolas têm se mostrado mais preparadas tecnologicamente e os professores cada
vez mais aptos digitalmente. E este é o caminho.
Ao passo que a língua é vista como um meio
de instrução dentro de uma educação global e significativa para o aluno, mais do que ensinar um idioma adicional, é preciso
dedicar-se à formação de bilíngues, com metodologias que desenvolvam
integralmente o aprendizado do aluno para que ele não aprenda apenas “outra
língua”, mas que absorva e compreenda tudo também “em outra língua”.
Rone Costa é Gerente de Desenvolvimento e Relacionamento do Systemic Bilingual, programa pioneiro de educação bilíngue no Brasil.
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