A gestão da água para as próximas décadas - O Brasil visto como player central desse recurso
Entrevista com Lineu Rodrigues aborda como a
disponibilidade e qualidade da água nos próximos anos dependem de uma gestão
eficiente
Dando sequência na
série “10 Minutos no Futuro”, o Instituto Fórum do Futuro conversa com o pesquisador da Embrapa Cerrado,
Lineu Rodrigues, considerado um dos mais notáveis especialistas nesta temática.
O pesquisador escreveu um artigo sobre a gestão da água no livro “As
Tecnologias Sustentáveis que Vem do Trópicos”, a ser publicado no dia 6 de
outubro
Fernando Barros,
diretor de comunicação estratégica do Fórum do Futuro, deu start na entrevista
dizendo que para limpar um litro de resíduo industrial e de esgoto urbano são
utilizados nove litros de água limpa, enquanto que a água da agricultura
praticamente volta intacta para a natureza, questionando o pesquisador da
Embrapa como eles têm procurado consubstanciar essas imagens diante da opinião
pública.
“Esse é um trabalho
intenso que a gente faz, a gente discute muito isso o tempo todo, em como se
comunicar melhor, principalmente com setor urbano. Eu acho que uns problemas
hoje é viver num mundo polarizado, então a gente tem que buscar formas de
melhor introduzir essas questões, que produzir alimento no público mais urbano.
Se a gente for pensar que 80, 85% da nossa população vive em 1% do nosso
território, como a gente se comunicar com essa população toda que tá vivendo
nessa área urbana? Não é tarefa fácil, cai nessa questão da polarização, mas a
gente tem trabalhado muito dessas questões”, argumenta Rodrigues em resposta ao
questionamento de Barros.
De acordo com Barros, o
Brasil será um player muito especial na questão da água, já que, atualmente, é
dono de 12% do total de água doce do planeta – o que torna esse recurso natural
um elemento estratégico. Para explicar o que tem em agenda até 2050, Rodrigues
ponderou que, se considerar a água que vem de fora, pode-se chegar a 18%, e que
o ponto-chave da questão é a distribuição irregular do bem natural.
“Nós temos muita água,
mas, nossa maior parte fica no Amazonas, e ali nós temos pouca gente. Então, a
água no Brasil tem essa distribuição espacial complicada – tem lugar que tem
muito, tem lugar que tem pouco. Temos também a questão temporal, onde se tem
muita água no período da chuva, e pouca água no período da seca. Com o aumento
da demanda de água até 2050 em torno de 40%, vamos ter que ser mais
eficiente no uso dela”.
Outro tópico debatido
foi quanto a irrigação, visto ainda como uma ferramenta de negócio na agricultura.
No entanto, a irrigação se coloca na perspectiva de eficiência e de gestão,
como uma ferramenta de economia do uso da água. Nesse contexto, o pesquisador
acrescenta que “pensando hoje na produção de alimentos, não vamos conseguir
atingir patamares de aumentar 60%, 100% sem a irrigação. Outro ponto
importante, que a agricultura irrigada utiliza uma parte da água, que a gente
chama de Água Azul – aquela água que a gente tira do rio para suprir
as necessidades da cultura quando não tem água da chuva. Mas, grande parte
dessa produção vem da chuva. A agricultura irrigada traz alguns benefícios em
relação à questão da água, ela ajuda a ciclar mais rápido E com isso vai gerar
riqueza e bem-estar social das populações rurais”.
Para efeito de comparação, Barros informou que 30% dos alimentos produzidos pelos EUA – que é o líder mundial – vem de irrigação, enquanto que no Brasil é de apenas 6%. Rodrigues enfatiza que no Brasil, são irrigadas menos de 3% da área, e para avançar nessa questão, o país precisa ter uma boa gestão de água. “A gente tem que monitorar mais para saber o quanto está gastando. Temos que ter ferramentas melhores para estimar o quanto de água que a cultura está utilizando para entender bem essa questão do balanço hídrico”, conclui.
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