Comunicação Não Violenta: uma resposta para as questões empresariais
Divulgação - Literare Books International
Angela Vega (*)
“Quando os líderes assumem a
responsabilidade pelo bem-estar de seus trabalhadores, o resultado não é apenas
organizações produtivas, mas indivíduos, famílias e comunidades prósperas”
(Gallup, State of the Global
Workplace: 2022 Report).
O engajamento da força de trabalho
define o relacionamento entre a organização e seus empregados e vem sendo
acompanhado, principalmente porque pessoas engajadas contribuem mais, sendo
mais criativas e participativas.
Segundo a pesquisa “State of the Global Workplace - 2022
Report” da consultoria Gallup, em nível mundial, somente 21% dos
trabalhadores estão efetivamente engajados (na América Latina, esse índice é de
23%). Esse número estava aumentando e com a pandemia ficou estagnado. Na
pesquisa, a maioria dos empregados afirma que não considera seu trabalho significativo
e que não se sente esperançosa em relação ao seu futuro.
No mundo pós pandemia, as relações entre
a força de trabalho e as empresas vem mudando drasticamente. Nos EUA, mais de
15 milhões de trabalhadores deixaram seus empregos, entre abril e setembro de
2021 (dados da consultoria McKinsey).
O fenômeno ganhou o nome de “Great Resignation”, cunhado
pelo psicólogo Anthony Klotz, professor associado de Comportamento
Organizacional na Escola de Negócios da UCL (University College London). Em
português, a tradução tem sido “A Grande Resignação” ou “A Grande Renúncia” e
também no Brasil as demissões vêm sendo observadas (500 mil demissões por mês,
segundo a Você S/A). Seja por cansaço, por desmotivação, por desvalorização,
por falta de respeito, entre outros, está presente uma insatisfação com as
empresas e as relações estabelecidas.
No Brasil, a pesquisa anual Carreira dos
Sonhos, realizada pelo Grupo Cia dos Talentos, revela as empresas em que os
universitários e os profissionais sonham trabalhar. Em 2022, as 3 primeiras
colocadas foram Google, Ambev e Globo. Observando-se os rankings anteriores
percebe-se a ausência de algumas empresas que já fizeram parte da lista.
Segundo a mesma pesquisa, as razões para as escolhas foram as seguintes:
desenvolvimento, fazer o que gosta, boa imagem, segmento de atuação e inovação.
A empresa Google, primeiro lugar na
lista há pelo menos seis anos, desenvolveu internamente o Projeto Aristóteles,
o qual por meio de entrevista e observação, buscava descobrir como criar a
equipe perfeita (produtividade). O resultado indicou 5 características
presentes nas equipes bem-sucedidas: segurança psicológica (segurança para
assumir riscos e ser vulnerável); confiabilidade (realizar e atingir excelência
no que fazem); estrutura e clareza (papéis claros, planos e metas definidos);
significado (senso de propósito no trabalho feito e nos resultados); e impacto
(o trabalho de cada um é importante e cria mudança).
No contexto apresentado, pode-se dizer
que as relações desempenham um papel muito importante e a comunicação
estabelece a ponte entre as pessoas, contribuindo para reforçar ou criar a
conexão dos empregados com as organizações. Os líderes possuem um papel
fundamental nesta equação e precisam substituir crenças antigas e ideias ultrapassadas.
Exercitar a Comunicação Não Violenta
(CNV) pode ser uma das possibilidades para aumentar a efetividade da liderança.
A CNV foi desenvolvida pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, a partir de
suas experiências, lidando com conflitos e buscando relacionamentos pacíficos.
Possui 2 partes (honestidade e empatia) e 4 componentes (observações,
sentimentos, necessidades e pedidos. Na prática, podemos resumir da seguinte
forma: expressar com honestidade e ouvir com empatia; as observações, os
sentimentos, as necessidades e os pedidos.
As observações sem rótulos ou
pré-julgamentos permitem estabelecer uma conversação “limpa”, favorecendo o
ouvir da outra pessoa. “Palavras são janelas ou são muros. Elas nos condenam ou
nos libertam”, dizia a poeta Ruth Bebermeyer, amiga de Marshall Rosemberg.
Apesar da vulnerabilidade envolvida, a
expressão dos sentimentos e o reconhecimento das necessidades, torna possível
aumentar a conexão entre líder e liderado porque, como todos temos sentimentos
e necessidades, podemos reconhecê-las na outra pessoa. Segundo Marshall, existe
um conjunto de necessidades humanas básicas que são compartilhadas por todos os
seres humanos, quais sejam: autonomia, celebração, integridade,
interdependência, lazer, comunhão espiritual e necessidades físicas. Ainda
falando de vulnerabilidade, a pesquisadora Brené Brown em seu livro “A Coragem
para Liderar” nos lembra que “a vulnerabilidade é o berço das emoções e
experiências que almejamos e é nela que nascem o amor, o pertencimento e a
alegria”. Sem a vulnerabilidade não existe a criatividade ou inovação, tão
necessárias para lidarmos com os desafios do mundo contemporâneo.
O relatório Global Leadership Forecast 2021, da consultoria
DDI, resultado de uma pesquisa em mais de 50 países, 24 segmentos da indústria,
alcançando 2.102 profissionais de RH e 15.787 líderes, aponta que “o fator
número um que influencia o burnout
(esgotamento) é a capacidade dos líderes de demonstrar empatia – conectando-se
com suas equipes em um nível mais humano”.
Marshall Rosenberg, define empatia como
“a compreensão respeitosa do que os outros estão vivendo”. Não conseguiremos
“estar no lugar do outro” porque não somos o outro, não passamos por suas
vivências. Entretanto, podemos buscar compreender seus pontos de vista e suas
experiências, sem necessariamente concordar, aceitar ou simpatizar com o que é
ouvido.
A Comunicação Não Violenta (CNV) pode
oferecer possibilidades de autoconhecimento que levem ao exercício de uma
liderança corajosa, tão necessária para os tempos atuais.
(*) Angela Vega - Engenheira química, com MBA Executivo, Pós-graduação em Filosofia e Autoconhecimento e especializações na FDC, INSEAD, Adigo, Amana-Key e Presencing Institute. Facilitadora de processos de desenvolvimento individual, organizacional e de grupos. Em 33 anos de carreira empresarial, coordenou e desenvolveu projetos de gestão da mudança, desenvolvimento de equipes, ouvidoria e educação corporativa. Coach (executiva, de vida e de carreira) e qualificada como Coach TimetoThink Coach na metodologia Thinking Environment (Inglaterra). Atua como aconselhadora biográfica, formada pela Associação Sagres, reconhecida pela Seção Antroposófica Geral do Goetheanum (Suíça). Palestrante e docente em eventos de desenvolvimento de líderes
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