Não faltou dinheiro, mas 2022 não foi fácil para empreendedores
Por
Fernando Oshima*
2022 vai se despedindo com o sentimento
de que foram dias rápidos demais, ma non troppo. No mercado de venture capital,
2022 foi um ano repleto de acontecimentos, infelizmente, nem sempre tão
bons (M&A's, demissões em massa, queda de crypto…). Enquanto em 2021
super rodadas de captação eram diariamente anunciadas, ao longo de 2022 o
mercado se provou olhando para o outro lado da moeda, ou melhor, o lado de quem
assina o cheque.
Mas, diferentemente do que se acreditou
por um período, não faltou dinheiro em 2022. Na verdade, só no primeiro
trimestre do ano os fundos de venture capital já tinham levantado mais de
US$151 bilhões, mais que o total de 2021 inteiro, segundo dados da consultoria
PitchBook. Mas, então, para onde foi este capital? Eis o dry powder: a
diferença entre os valores captados e efetivamente alocados pelos fundos. Com a
queda abrupta das ações das empresas de tecnologia listadas na bolsa de Nova
Iorque, iniciou-se o inverno das startups, como ficou conhecido esse período, o
qual deve se estender em 2023. Houve uma mudança feroz na forma como os
investimentos são feitos, e isso não é necessariamente ruim.
No meio do boom das soluções inovadoras
das startups e a velocidade como tudo aconteceu nos últimos anos, e em especial
em 2021, os fundos de venture capital precisaram trabalhar com agilidade e
assertividade para não perder possibilidades de investimento. Ao mesmo tempo, o
cenário não possibilitava uma análise e diligência profunda sobre os negócios
aptos a receberem um aporte. Nesse movimento, métricas como crescimento
sustentável, viabilidade e potencial de escalabilidade das startups foram pouco
estudadas, o que em um médio/longo prazo significa que esse negócio podia não
ganhar raízes e se manter de pé. 2021, portanto, foi um ano de mercado muito
favorável para os empreendedores.
Já em 2022, mesmo com o dinheiro
disponível, esses mesmos fundos voltaram a operar no “back to basics”, isto é,
resgataram suas métricas e formas de avaliação de um novo negócio, além de se
permitirem mais tempo de estudo e validação antes de assinarem o cheque. Esse
movimento de mercado pró investidor refletiu de diversas formas no ecossistema
de venture capital, e representou, especialmente, uma considerável diminuição
de oferta de dinheiro para as startups. Também causou uma onda de extensões de
aportes, no lugar de rounds completos - fenômeno que impactou principalmente
empreendedores em busca de rodadas em estágio mais maduros, que acabaram
virando uma ponte da rodada anterior.
O que deve acontecer daqui pra frente é
um equilíbrio entre os dois cenários. Dificilmente teremos um replay do que foi
2021, mas também não devemos ficar paralisados no suposto inverno de 2022. O
dry powder deve ser, de fato, utilizado nas startups que têm potencial, mas de
forma mais controlada e responsável. O foco agora é o crescimento sustentável
desses negócios, é criar estratégias que permitam maior retorno financeiro para
os investidores a longo prazo.
O olhar para o futuro não é, nem de
longe, pessimista. A plataforma CB Insights, por exemplo, projeta que 2022
termine com quase US$440 bilhões de investimentos, 30% menor que em 2021, mas
muito acima de 2020 (quase 50%). Além disso, o mercado de inovação brasileiro é
exemplo no mundo e atrai investidores de todas as partes, mas será preciso,
sim, uma readequação na composição dos negócios. Não faltou dinheiro em 2022 e
não faltará em 2023, mas a forma como o empreendedor apresenta sua startup
definitivamente mudou (talvez para sempre) depois deste ano.
*Fernando Oshima é Head of Venture Operation na Grão, Venture Capital
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