Sobre Inteligência Artificial, Hype Cycle e Aldous Huxley
*Por Fernando Moulin, partner da Sponsorb, professor e especialista em negócios, transformação digital e experiência do cliente
Em uma sociedade que avança a passos largos na aplicação de novas
tecnologias, muitas plataformas se apresentam como “as” tendências essenciais para os negócios e depois,
repentinamente, cair no esquecimento.
É um ciclo denominado de hype cycle. Em 2022,
por exemplo, o metaverso invadiu os noticiários e as
conversas de 100 entre cada
100 executivos. Na prática, porém, houve avanços tímidos para a
realidade virtual dentro de governos e empresas. Em 2023, a
bola da vez é a Inteligência Artificial,
simbolizada pelo onipresente (e agora
também em voz e imagens)
ChatGPT.
Lançado pela OpenAI,
o chatbot conversador, que começou gerando textos e criando músicas, contratos e trabalhos escolares, acelerou o debate sobre como
o avanço da inteligência artificial (IA)
pode acontecer de maneira segura. Apesar do entusiasmo
global, de todas as vantagens para os negócios e as
facilidades para o cotidiano das pessoas, os riscos dessa evolução
desenfreada também tomaram conta do imaginário coletivo.
A verdade é que ainda não
sabemos quais serão todos os efeitos no
futuro, mas é necessário projetar em longo
prazo para prever os benefícios e os
perigos reais das tecnologias emergentes.
Em 1932, o escritor Aldous Huxley narrou em Admirável Mundo Novo a história de uma sociedade que se mostra em muitos momentos extremamente
atual, levantando questionamentos sobre a
vida contemporânea e os
desafios para o futuro da humanidade. Com personagens complexos, a narrativa envolve o leitor em um
universo hipotético, mas passível de diversas – e assombrosamente
atuais - comparações com
todas as mudanças pelas quais o mundo tem passado ao longo das últimas décadas.
Por meio de criatividade e observação profunda da ciência, Huxley conseguiu
prever tecnologias inimagináveis há 90 anos, como a internet, a
fertilização in vitro, o cinema 3D, os aplicativos de transportes,
a utilização em massa
de psicotrópicos para ansiedade, estresse e outros sentimentos negativos dos personagens, as pastilhas
de estimulação sexual, os anticoncepcionais e as
pílulas de rejuvenescimento.
O fato é que,
independentemente do cenário futurista ou atual, a resposta necessária para que
as histórias de ficção em que as
máquinas dominam o homem não se tornem realidade é a educação,
notoriamente o assim chamado “letramento digital” – responsabilidade de todas
as companhias que estão
desenvolvendo ou utilizando esses
sistemas.
É fundamental desenhar os
projetos com mecanismos de privacidade e segurança
como princípios gerais. É o caso do Google, da Microsoft e de
outras big techs, que vêm tentando criar ferramentas de educação sobre IA e modelos que explicam
os princípios da tecnologia de forma simplificada e acessível
para as pessoas em geral.
Com conhecimento e estruturas
de proteção, o ChatGPT tende a se incorporar ao cotidiano de forma mais
orgânica ou até mesmo entrar no hype cycle e ser substituído por outra novidade inovadora no ano que vem
(acho cada vez mais improvável essa
possibilidade)
Nesse cenário, a
inteligência artificial pode
ir além de entregar
um conteúdo pronto. Torço para uma realidade em que os
sistemas se integrem ao usuário e ajudem
as pessoas a partir de modelos de linguagem humana, mas que simplifiquem e facilitem nossas diversas esferas de existência – e não
que as substituam de maneira irreversível. Um trabalho colaborativo, mas com o
ser humano no controle, preservando sua individualidade e estimulando suas potencialidades, no sentido oposto do romance
profético de Huxley. Cabe a
cada um de nós fazer nossa parte para que esse
cenário – e não o oposto – se concretize.
*Fernando Moulin é partner da Sponsorb, empresa boutique de business performance,
professor e especialista em negócios, transformação digital e experiência do cliente. E-mail: fernando.moulin@sponsorb.com.br.
Sobre Fernando Moulin
Natural de Volta Redonda (RJ), Fernando Moulin é um dos principais especialistas brasileiros em transformação digital, inovação e gestão da experiência do cliente, além de ser um dos pioneiros do Marketing Digital/CRM no país. Graduado em Engenharia Química pela Unicamp, possui MBA Executivo Internacional pela FIA-USP e realizou cursos de marketing e negócios em diversas instituições internacionais, como Kellogg/NorthWestern (Estados Unidos), INSEAD (França), Cambridge (Reino Unido) e Lingnan University (China). Tem mais de 20 anos de experiência na função de executivo em grandes organizações, como Telefônica/Vivo, Cyrela, Nokia, Pão de Açúcar, Claro, Citibank, entre outros. Cofundador da Malbec Angels, mentor de startups e advisor estratégico, também é palestrante profissional e professor de disciplinas ligadas a suas áreas de expertise em instituições como a ESPM, o INSPER e a Live University, além de ser colunista de diversos veículos importantes de mídia e jurado de diversas premiações de mercado. Atualmente, é partner da Sponsorb, empresa boutique de business performance. Para mais informações, acesse: www.linkedin.com/in/fernandomoulin/, ou veja a palestra no TEDxSP: https://www.youtube.com/watch?v=6tUJuZopcsA.
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