Permutas se expandem pelo País como alternativa para superar a pandemia
Empresas buscam as trocas multilaterais para movimentar estoques e tirar serviços da ociosidade. Parcerias entre Sebrae, universidades e plataforma de permutas buscam viabilizar novas formas de negociação. Poder público também busca incentivar a prática por meio de projetos de lei
Projeção da Sociedade de Propósito Específico
(SPE), a Biosphere
Projeção - imagem ilustrativa
A crise do novo
coronavírus impactou fortemente as empresas. De acordo com dados do Relatório
Global sobre a Situação de Pequenas Empresas, elaborado pelo Facebook com mais
de 35 mil líderes de pequenas e médias empresas (PMEs), 25% das empresas
relataram fechamento em fevereiro. Por sua vez, a pesquisa Sobrevivência das
Empresas, divulgada em junho pelo Sebrae, aponta que 41% dos entrevistados que
fecharam os negócios no último ano citaram explicitamente a pandemia como causa
do encerramento das atividades.
A difícil situação
das empresas durante a crise provocada pelo coronavírus, provocou uma
mobilização por parte de instituições e organizações dos setores público e
privado para proporcionar mais condições de sobrevivência das empresas e
possibilitar a retomada econômica no País Entre as soluções encontradas se
destaca a prática das permutas multilaterais, sistema em que empresas ou
profissionais liberais fazem trocas de produtos e serviços por meio de uma
plataforma digital, onde as trocas podem ser feitas com qualquer usuário e não
ficam restritas a apenas duas pessoas ou empresas.
Neste ano, por
exemplo, o Sebrae-SP firmou parceria com a plataforma de permutas multilaterais
XporY.com para fornecer aos micro e pequenos empresários novas possibilidades
de negociações. Segundo o edital da entidade, as permutas são uma forma de as
empresas reduzirem o custo de operações e uma possibilidade de empreendedores
movimentarem seus estoques parados e serviços ociosos. Ao se cadastrar gratuitamente
na plataforma, o usuário pode disponibilizar todo o seu portfólio de produtos
para atrair venda para novos clientes participantes da rede. A cada venda
receberá pagamento na moeda digital da XporY.com e poderá utilizar este crédito
para consumir os serviços e produtos de sua preferência de qualquer usuário da
rede, aumentando, assim, as oportunidades de conexões e networking, monetizando
a sua ociosidade e otimizando seu fluxo de caixa.
Segundo o
sócio-fundador da XporY.com, Rafael Barbosa, a parceria estimula novos negócios
e incentiva a inclusão digital de pequenos e médios empreendedores. “Nesse
processo, cada empresa ou profissional oferece gratuitamente seu produto na
plataforma digital e recebe pelo serviço ou produtos créditos em uma moeda digital,
por meio do qual poderá adquirir qualquer oferta disponível no sistema que
conta com mais de 10 mil usuário pelo País”, completa o empresário, que também
é especialista em economia colaborativa.
Outra iniciativa,
também em São Paulo, envolve o mercado de startups. Mesmo atuando com a
inovação, essas empresas apresentaram uma queda de faturamento durante o
período de pandemia da Covid-19 de 68%, ainda abaixo da queda de 87% registrada
pelos pequenos negócios, segundo pesquisa realizada pelo Sebrae. Diante desse
cenário, uma parceria desenhada entre o Sebrae, a Universidade Municipal de São
Caetano do Sul (USCS) e a XporY.com busca incentivar e acelerar o
desenvolvimento de negócios inovadores entre os universitários, usando as
permutas.
A parceria organizou
uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), a Biosphere, para atuar como
aceleradora no meio universitário na região do ABC Paulista. De acordo com o
coordenador do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e
Conjuntura (Conjuscs), Jefferson José da Conceição, o hub terá três eixos
prioritários, envolvendo saúde, indústria criativa e indústria 4.0. “As
startups nascem com muitas dificuldades em diversas áreas, como contábil,
financeira e jurídica. A economia colaborativa se torna importante nesse
cenário para apoiar essas empresas em um momento fundamental para o seu
crescimento e sustentação”, destaca o coordenador, um dos idealizadores do
projeto.
A sociedade terá uma
unidade dentro da universidade para acelerar cerca de 10 startups por ciclos de
seis meses a um ano. “É um projeto que une e integra o Sebrae, o meio acadêmico
e o ramo empresarial com o objetivo de despertar a cultura empreendedora já na
universidade, apostando, principalmente, na tecnologia como meio de alavancar
os negócios”, destaca Barbosa.
Para especialistas
da área, a economia colaborativa pode ser uma solução para que o mundo evite
crises sucessivas e consiga superar períodos de dificuldades, como o do
coronavírus. Para especialista em novas economias e futurista, Lala
Deheinzelin, é necessário a complementariedade entre a economia colaborativa e
a tradicional para que exista um equilíbrio no sistema. “Uma é a centralizada,
que vê o todo, tem tecnologia e padrão que, no caso do sistema econômico, são
as moedas fiduciárias, emitidas pelo governo. Por outro lado, uma economia
distribuída, que tem uma diversidade de elementos que atribuem valor a uma
moeda e que a permite circular. O centralizado é eficiente e o distribuído é
resiliente, por isso complementares”, destaca a especialista, considerada uma
das top 3 da América Central e Latina, além de já ter atuado como conselheira
especial de projetos relacionados à Economia Criativa, Cultura e
Desenvolvimento da ONU.
Projeto de Lei
As permutas
multilaterais já estão ganhando espaço no debate público em outros estados. Em
Goiás, por exemplo, tramita o Projeto de Lei nº 2039 que busca instituir uma
política estadual de estímulo, incentivo e promoção da economia colaborativa,
que vai fortalecer o uso das permutas com esse propósito. Atualmente, o Projeto
de Lei já conta com parecer favorável da Comissão de Constituição, Justiça e
Redação da Assembleia Legislativa e foi encaminhado para a Diretoria
Parlamentar pela Comissão de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia.
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