As lições de liderança no esporte para o mundo corporativo
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Nas madrugadas, acompanhando os Jogos
Olímpicos de Tóquio, vibrei com a medalha de prata conquistada no skate pela
“fadinha” Rayssa Leal. Com Rebeca Andrade, na ginástica artística, Ítalo
Ferreira, primeiro campeão olímpico no surfe, e tantos outros atletas, vivi a
emoção dos que chegaram ao tão sonhado pódio. Enquanto torcia pelo show de
altas performances atléticas, que tornaria o meu dia seguinte mais vibrante, eu
pensava no esporte como minha primeira grande escola de liderança.
Por quase nove anos fui jogadora de
voleibol em um clube na cidade de São Paulo. O vôlei, justamente, me estimulou
não apenas a competir, como também a liderar.
As lições de liderança que o esporte
ensina são surpreendentes. Quando saio das quatro linhas da quadra e me lanço
no mundo corporativo, vejo inúmeras conexões entre as modalidades esportivas e
o ofício de liderar.
No esporte, as regras são claras e a
competição é baseada em alta performance. No ambiente corporativo, as normas do
jogo podem variar de acordo com a atuação do juiz, que no caso é o gestor.
Os “atletas” corporativos deveriam jogar
no mesmo time. A realidade, porém, se mostra diferente. Em muitas situações,
estes jogadores se transformam em adversários, esquecendo que estão disputando
o mesmo campeonato.
Embora este comportamento não seja via
de regra no time empresarial, reúno aqui algumas lições de liderança que o
esporte pode proporcionar.
Sete lições de liderança inspiradas no
esporte
- 1.
Treine diariamente com disciplina para ter eficiência e atingir
resultados:
Exercitar a alta performance é
compromisso diário no mundo corporativo. Mas o que fazer quando não nos
sentimos plenos para desempenhar nossas tarefas? O profissional precisa saber
que sempre tem a alternativa de “ficar no banco”. Fora das “quatro linhas”,
este é um lugar para reflexão e mudança de atitude. Vale lembrar que em uma
empresa o jogo é para valer, com placares positivos a atingir. E que nunca nos
esqueçamos: há uma imensa plateia sempre atenta à nossa atuação.
- Competição colaborativa
valoriza habilidades individuais e a somatória do todo:
Sem disciplina, persistência e
determinação, qualquer treino é inútil para aprimorar a técnica profissional.
Por isso, dar prioridade aos compromissos laborais é fundamental. A maneira
como encaramos as exigências, as regras e os desafios nos impactam como
pessoas, mas reflete, decisivamente, no desempenho de nossa equipe.
- Resiliência para seguir em
frente, mesmo quando não vencemos o jogo ou a negociação:
Qualquer time, por mais preparado e
coeso que seja, está sujeito a sofrer uma derrota. Mas independentemente da
tristeza e da frustração, a dignidade deve ocupar sempre o topo do pódio de uma
equipe. E cumprimentar nossos rivais, de cabeça erguida, é uma atitude esperada
de nossa parte.
- Competição comigo mesmo para
ser melhor hoje do que ontem:
O aprimoramento deve ser o nosso norte.
Um profissional não deve se furtar a competir consigo mesmo sempre em busca da
melhor gestão e dos bons resultados. Ao mesmo tempo, é preciso ter consciência
de que individualmente não se ganha o jogo. Em uma equipe, é fundamental
reconhecer, compreender e respeitar as forças e fraquezas de cada jogador. Um
time é a somatória de habilidades e talentos. Quanto mais sinergia mais vitórias
somamos.
- Respeito às individualidades:
No universo corporativo, todos são
nossos concorrentes, inclusive as pessoas com quem mantemos laços de amizade.
Jogo é jogo. Mas fora do campo, deve haver espaço para as semelhanças. E mesmo
não existindo afinidade, é preciso respeitar cada pessoa em suas peculiaridades
e entendimentos do mundo.
- Celebre a impermanência do
momento presente:
É fundamental comemorarmos todas as
vitórias, respeitando sempre o time perdedor. Além de celebrar, devemos
agradecer e ao mesmo tempo estar preparados para lidar com frustrações e
perdas.
- Um jogo é só um jogo:
Perder uma partida não é o fim do mundo.
Afinal, um jogo é apenas um jogo. Precisamos, sim, ter em mente que haverá
oportunidade para treinar, aprimorar as técnicas e táticas e transformar as
situações para vencer a competição.
No esporte, aprendi a viver sob
estresse, submetendo-me à pressão da arquibancada, dos técnicos e do parceiro
de jogo, que torcia pelo erro para ocupar a minha titularidade na quadra.
No universo do trabalho, especialmente
quando se fala do comportamento de alguns parceiros laborais, não há diferença.
Nem todos torcem por você e muitos almejam sua posição e seu cargo.
Em minha atividade profissional, a
concentração, o foco e o simples respirar, pausado e consciente, sempre foram
meus aliados no momento de assumir riscos, pensar diferente e surpreender o
time adversário. Mas lembre-se: o tamanho do risco será sempre seu e as jogadas
rápidas e inusitadas podem trazer a vitória, assim como a derrota.
Como contei antes, por alguns anos
joguei vôlei. E também fui, por muito tempo, capitã do time. Tecnicamente, eu
não era a melhor, a mais alta, a mais ágil. Mas me destaquei por saber lidar
com as pessoas, pela facilidade no relacionamento interpessoal e por ajudar na
mediação de conflitos. Mesmo diante de um placar de 10x0, minha disposição para
liderar e incentivar o time a nunca desistir sempre fez a diferença para a
equipe.
Esta escola de liderança esportiva
também me leva a sonhar. Penso no dia em que seja obrigatório a todos os
líderes terem vivência em esportes coletivos competitivos. Certamente, a
conquista do pódio irá além da vitória. Estaremos, sim, diante de uma
experiência transformadora disputada nas quatro linhas do mundo corporativo.
* Ligia Costa: Escritora, palestrante e pesquisadora.
Fundadora do Thank God it’s Today,
agência dedicada a desenvolvimento humano e promoção de Inteligência Emocional
e Mindfulness para equidade de gênero, diversidade e inclusão, é precursora no
Brasil do Movimento “Liderar com Amor Gera Lucros”. Graduada em Marketing pela
Universidade Mackenzie, com pós-graduação em Gestão Organizacional e Relações
Públicas pela ECA-USP. Também é certificada em Mindfulness pelo Centro de
Felicidade do Butão. Professora na Escola de Economia de São Paulo da Fundação
Getúlio Vargas (FGV/ESSP), tem no currículo certificação em Neurociências,
Inteligência Emocional e Mindfulness pelo instituto SIYLI, criado no Google, na
Califórnia, e reconhecido em mais de 50 países com programas e eventos
direcionados a dezenas de milhares de profissionais.
Com atuações destacadas na LucasArts, de
George Lucas, no Vale do Silício, Estados Unidos, trabalhou durante 18 anos
como executiva em multinacionais. Teve passagens por grandes empresas, como
Ogilvy Mather, Neogama BBH e Brasil Telecom. Dirigiu o marketing do Yahoo para
a América Latina, liderando equipes em oito países.
Em 2012, Ligia Costa foi eleita
executiva em tecnologia destaque pelo jornal Valor Econômico.
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