Burnout como doença ocupacional exige das empresas maior atenção à saúde e ao bem-estar dos profissionais
Angelina Assis - Psicóloga e Gerente de
Relacionamento do Grupo Soulan
Divulgação Soulan RH
Com a pandemia, as empresas passaram a
lidar com muitas questões relacionadas à preservação e manutenção da saúde de
seus funcionários, incluindo a saúde mental, que foi bastante colocada à prova
nesse período.
A saúde mental ganhou tanto destaque e
relevância dentro das estratégias de gestão de pessoas das empresas que a
Organização Mundial de Saúde, numa iniciativa inovadora, decidiu incluir o
burnout na lista de doenças ocupacionais, fazendo com que as companhias se
movimentem no sentido de prevenir esse diagnóstico, bem como para que saibam
como lidar no caso dele atingir seus profissionais.
A síndrome de burnout está relacionada a
um distúrbio psíquico que afeta a saúde mental e física, provocando um
esgotamento profissional que pode levar a um stress severo. É
desencadeada fundamentalmente por condições recorrentes do ambiente de
trabalho, tais como assédio moral, cobranças sistemáticas por metas, jornada
estendidas, grande volume de tarefas, clima organizacional, gestão tóxica, etc.
O fato de a OMS ter incluído o burnout
no rol de doenças ocupacionais é bastante positivo, pois sabemos que é preciso
combater o preconceito e acabar com o tabu relacionado ao diagnóstico. É fato
que dedicamos uma grande parte do tempo de nossas vidas ao trabalho
institucional e nem sempre o ambiente corporativo é adequado ou saudável.
Por isso, é preciso que as empresas
pensem formas de convivências mais equilibradas para garantir a
saúde mental e física de suas equipes, apoiando a qualidade de vida e o
bem-estar dos colaboradores, bem como desenvolvendo um ambiente aberto e sem
julgamento, no qual as pessoas possam falar com tranquilidade e segurança sobre
seus transtornos psicológicos, sem que tenham receio de discriminação ou, até
mesmo, de dispensa. Afinal, o agravamento do estado emocional é maior quando o
assunto não é tratado abertamente ou considerado um tabu entre as pessoas.
Com muita alegria tenho percebido um
movimento crescente por parte de empresas que estão incluindo ações no dia a
dia de seus funcionários que visam provocar mudanças positivas. Esse esforço
acontece em conjunto com a área de Recursos Humanos e as lideranças, que,
unidos, implementam práticas para melhorar o clima organizacional e aumentar a
felicidade e o engajamento dos colaboradores. E, claro, é muito importante que
colaboradores também estejam sensíveis à importância do autocuidado e do
autodesenvolvimento.
Alguns exemplos de programas ou
iniciativas que aumentaram nos últimos dois anos são: práticas de meditação, quick massages, incentivo
a exercícios físicos, palestras sobre dietas saudáveis, campanhas específicas sobre
saúde mental, sessões de terapia on-line,
happy hours, etc. Do meu ponto de vista, a implementação ou
dedicação ao tema tem possibilitado às empresas trazer para dentro do ambiente
corporativo a integralidade do ser humano, e entendo que isso é um ganho enorme
para as instituições e principalmente para as pessoas, que mais do que nunca
devem estar no centro das decisões empresariais.
Além dessas novidades em termos de
atenção com o profissional, existem outras ações que devem fazer parte da
gestão e que acabam refletindo o cuidado com o colaborador. Entre elas estão
evitar que as férias planejadas sejam adiadas frente ao volume de trabalho e
oferecer feedbacks construtivos e com foco no autodesenvolvimento. Nesse último
caso específico, a utilização de uma ferramenta de avaliação comportamental
certamente apoiará com maior objetividade cada necessidade dos gestores e
funcionários, já que é capaz de promover um maior nível de autoconsciência,
permitindo que cada profissional tenha uma escuta ativa e dedicada. Por trás do
uso de ferramentas psicométricas está a possibilidade e o interesse de criar
uma comunicação mais descontraída e um entendimento maior sobre prioridades, o
que leva os líderes a serem capazes de organizar as tarefas e evitar que tudo
se torne urgente. Esse imediatismo nas empresas, principalmente nas que estão
em trabalho remoto, acaba gerando muita pressão. Esses são apenas alguns dos
benefícios proporcionados por essas novas ferramentas, que podem contribuir
muito para criar e manter um ambiente corporativo saudável e respeitoso para
todos.
Como especialista na área e trabalhando
com gestão de pessoas há anos, entendo que o caminho ideal para as empresas é
agir de forma preventiva em relação a problemas de saúde mental, e isso só e
viável quando elas criam um ambiente em que os profissionais se sintam
valorizados. Mas sabemos que, muitas vezes, apesar de toda e qualquer ação, as
pessoas podem desenvolver burnout, e nesse caso o que resta aos gestores é
ficarem alertas para não piorar a situação. Como toda doença ocupacional do
trabalho, a postura das empresas deve ser isenta de preconceitos e oferecer
empatia, sensibilidade e apoio para direcionar os funcionários aos tratamentos
adequados no período de afastamento.
Quando ocorre um caso de burnout, a
organização precisa, em primeiro lugar, investigar as causas que desencadearam
o esgotamento do colaborador e verificar quais pontos devem ser alinhados em
sua área e/ou gestão. Muitas vezes é necessário um treinamento com
os gestores e equipes para reforçar os princípios éticos da empresa,
enfatizando as estratégias com foco nas pessoas. Isso deve ser feito com o
apoio e a participação da área de Recursos Humanos, adotando uma postura
acolhedora, sem estigmas e preconceitos. Acima de tudo, é fundamental adotar
medidas para evitar novas ocorrências, de forma que o colaborador se sinta mais
seguro e confortável para voltar a trabalhar com alegria e motivação.
Angelina Assis é psicóloga e gerente de relacionamento com clientes do Grupo Soulan.
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