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Maio: como torná-lo um mês mais inclusivo?


*Por Samanta Lopes

 

O mês de maio tem várias datas importantes que merecem ser pensadas em ações internas das empresas. Vamos entender um pouco mais sobre cada uma?

 

Usarei uma alegoria africana chamada SANKOFA(1) (Sanko = voltar; fa = buscar, trazer), ou seja, temos de olhar o que passou para pensarmos no que se fez e conceber, pela semeadura, o que poderá ser melhor.

 

Uma das datas mais conhecidas é o dia 13 de maio de 1888, quando foi promulgada a libertação das pessoas escravizadas no Brasil, através da Lei n.º 3.353 ou Lei Áurea(2), um marco na história, pois foi o momento em que as pessoas negras receberam suas alforrias do ponto de vista institucional e perderam toda e qualquer referência de identidade e de pertencimento. Os “da Silva(3), os “de Oliveira”, entre tantos outros sobrenomes com preposições como “da”, “de” e “do”, referem-se às pessoas que pertenciam às famílias escravocratas. Os africanos escravizados tiveram suas identidades registradas nos livros de chegada ao Brasil, e elas foram literalmente queimadas por ordem do então ministro da Fazenda Rui Barbosa, para garantir que os donos destituídos não pudessem pedir ressarcimento pelo prejuízo que a lei havia imposto sobre suas finanças, ao liberar, sem nenhuma compensação, parte de “suas posses”.

 

Quem assumiu os filhos legados do período foram as mães(4),, que são homenageadas no mesmo mês e, uma nota importante, geram uma das maiores ondas de consumo anual por todo o país, só perdendo para o Natal.

 

Ainda sobre este tema, você sabia que, no Brasil, há um movimento do governo em prol de garantir que toda criança nasça com o registro dos nomes de seus pais biológicos? Trata-se de um reconhecimento necessário de pertencimento que virou o projeto “Meu Pai Tem Nome(5) e tem sido exercido em todos os estados brasileiros pela Defensoria Pública. O “abandono parental(6) é uma herança do período escravagista, em que as mulheres eram vistas apenas como parideiras e tinham os filhos sozinhas, sem que os pais fossem corresponsáveis pela criação. Em toda a sociedade contemporânea, inclusive nas empresas, há muitas mulheres que são chefes de família, e um estudo recente realizado pelo C.Lab da Nestlé e Studio Ideias(7) identificou, com apoio de dados do IBGE (2019), que há mais de 34 milhões de mulheres como chefes de família – e, aqui, vale lembrar que no Brasil “elas” são mais de 52% da população.

 

Nas famílias citadas, em sua grande maioria, a figura paterna não exerce nenhuma influência nas decisões e, geralmente, não colabora com a renda familiar. Essas mulheres aprendem na prática a gerir muito com poucos recursos, conseguem lidar com horários puxados de cuidados com a família e realizam verdadeiras jornadas “de resistência”, conciliando os cuidados da casa com algum tipo de atividade para gerar renda.

 

Se uma empresa quer valorizar o potencial desse grupo, principalmente no quesito de comprometimento e busca por melhoria contínua, ela pode ser patrocinadora de projetos que ensinam os componentes técnicos para que essas mulheres estejam aptas a trabalhar em frentes de produção e serviços, preferencialmente com horário flexível e sem precisar atuar fora de casa ou muito longe, garantindo que haja uma inclusão real através de ações educativas e profissionalizantes.

 

Em paralelo, é importante garantir uma curadoria cuidadosa para que pessoas com perfis mais seniores de sua empresa e do mercado possam auxiliar na formação dos perfis da organização para que mulheres que são mães sejam talentos na companhia. Algumas vezes, é necessário dar alguns passos para trás, providenciando cursos de alfabetização, por exemplo, em paralelo à capacitação. Em contrapartida, essas mulheres movem ecossistemas inteiros: são elas que garantem uma geração futura mais saudável e consciente e asseguram a permanência das crianças nas escolas desde a primeira infância até o estudo superior sem que haja evasão por necessidade de trabalhar antes da vida adulta para ajudar nas contas da casa ou para cuidar de outras crianças menores, entre outros fatores.

 

Quando alcançam uma renda melhor, essas chefes de família direcionam seu potencial de compra para escolhas mais qualitativas, melhorando, assim, o nível da qualidade de vida de todos e ampliando a sustentabilidade da cadeia local.

 

No dia 13 de maio, desde o final da década de 1990, também é comemorado o Dia Nacional de Denúncia Contra o Racismo,(8) uma ação de conscientização sobre a importância de sermos agentes ativos de mudança e apoiarmos ações de eliminação da violência e da exclusão social por vieses e preconceitos.

 

Essa data se conecta diretamente com o dia 17 de maio, Dia Internacional Contra a Homofobia,(9) reconhecido pela ONU para garantir o direito mais básico das pessoas LGBTQIA+: o direito individual à vida digna.

 

Atuar na área de contratação e retenção de talentos é ser uma pessoa que faz a curadoria do ativo que mais impacta em uma empresa: as pessoas. Essas datas podem promover conversas muito construtivas, que permitam pensar em atividades inclusivas e ampliar, assim, a segurança do ambiente para todas as pessoas.

 

A empresa é o lugar onde permanecemos mais horas depois da escola, então temas como racismo e homofobia, ou a nova construção do “ser mãe” e da parentalidade, devem ser pautas constantes, independentemente do peso de eventos. São assuntos que precisam fazer parte de uma gestão humanizada e capaz de promover curadorias para convidar os protagonistas da empresa e especialistas para trocas que gerem reflexões, abram espaços seguros para dúvidas e os coloquem no papel de coconstrutores de um grupo mais coeso, saudável e aberto a crescer e melhorar continuamente. Garantir a permanência e o pertencimento é tão importante quanto garantir o acesso.

 

Bibliografia

(1) https://www.dicionariodesimbolos.com.br/sankofa-significado-desse-simbolo-africano/

(2) https://brasildedireitos.org.br/atualidades/como-a-populao-negra-lutou-por-direitos-depois-da-abolio?utm_source=google&utm_medium=cpc&utm_campaign=aboli%C3%A7%C3%A3o&gclid=CjwKCAjwj42UBhAAEiwACIhADtQI1xjHx5RbA37B8t0sci4HmOpkYKLjvgERzBJzKao0GwIUK3gPKBoCOq0QAvD_BwE

(3) https://brasil.elpais.com/brasil/2019/11/15/politica/1573835859_935779.html

(4) https://epocanegocios.globo.com/Vida/noticia/2021/05/dia-das-maes-como-surgiu-comemoracao-no-brasil-e-por-que-data-varia-no-mundo.html

(5) https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2022-03/mutirao-busca-incluir-nome-do-pai-em-certidoes-de-nascimento

(6) https://www.anoregsp.org.br/noticias/73793/strongestadao-cresce-a-quantidade-de-registros-de-filhos-sem-o-nome-do-pai-durante-a-pandemiastrong

(7) https://gkpb.com.br/69057/estudo-maes-chefe-de-familia/

(8) https://justica.sp.gov.br/index.php/secretaria-da-justica-lembra-13-de-maio-dia-nacional-de-denuncia-contra-o-racismo/

(9) https://www.calendarr.com/brasil/dia-internacional-contra-a-homofobia/

 

*Samanta Lopes é coordenadora MDI da um.a #DiversidadeCriativa, agência delivemarketing – uma@nbpress.com.

 

Sobre a um.a

Com mais de 26 anos, a um.a #diversidadecriativa está entre as mais estruturadas agências de live marketing do Brasil especializadas em eventos, incentivos e trade. Entre seus principais clientes, estão Pearson, IBGC, SBT, ABRH-SP, entre outros. Ao longo de sua história, ganhou mais de 40 “jacarés” do Prêmio Caio, um dos mais importantes da área de eventos.

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