Fidelidade no mercado financeiro: É preciso identificar a dor e a alegria dos clientes
* Por Roberto Azevedo
Em um mercado cada vez
mais competitivo, com o crescimento veloz dos e-commerces e transações
digitais, não basta satisfazer o cliente. É preciso conhecê-lo, encantá-lo e,
principalmente, fidelizá-lo. Ao entregar um produto ou um serviço, se você
tiver a percepção de que as necessidades e expectativas foram alcançadas ou
superadas, você terá um cliente satisfeito. No entanto, a satisfação sozinha
não garante a fidelidade desse consumidor, ou seja, estar satisfeito não é suficiente
para assegurar que o cliente não seja seduzido por ofertas da concorrência.
No mercado financeiro,
esse cenário não é diferente. Principalmente depois de 2020, quando foi lançado
o Pix, pelo Banco Central, as transações financeiras caíram nas graças de
milhares de pessoas, pois podem ser realizadas pela palma da mão via um
smartphone. E, recentemente, com a chegada do Open Banking, o que leva as
pessoas a se manterem fiéis a instituições - bancos ou empresas que oferecem
crédito pessoal, por exemplo?
Muitas pesquisas têm
sido divulgadas, indicando que uma parcela da população – principalmente das
gerações Millennials (nascidos entre 1980 e 1995) e Z (1995-2010) – tem buscado
prestadores de serviços financeiros que ofertem em suas transações, via cartão
de crédito, por exemplo, o cashback
(modelo que oferece um retorno percentual do valor pago em uma compra), cashback investimento, que
reverte determinado percentual para o cliente investir ou cupons de
desconto.
Com isso, as
instituições deixaram de ofertar apenas um conta para as pessoas movimentarem
seu dinheiro, um cartão de débito/crédito para transações como saque e compras
parceladas e serviços de orientação de como investir seus recursos. Elas
precisam ofertar também experiências para fidelizar esse cliente. “Estou apertado, precisando de um
empréstimo, vou conseguir onde?” ou “Preciso financiar a festa de 15 anos que minha filha
sempre sonhou, quem vai me ajudar?”. Entender as dores e alegrias
do consumidor é fundamental.
Além disso, a demanda
por novidades é diária, principalmente as que envolvem as transações digitais -
que vão desde entender e poder investir sozinho em fundos; aplicar sozinho no
Tesouro Direto; ou seja, soluções fáceis, sem grande consumo de tempo, e sem
intermediários. E para atender esse novo jeito de consumir, as instituições
precisam se conectar a ele, acompanhar essa nova jornada.
Nesse sentido,
as necessidades dos usuários devem
estar no radar dos profissionais que trabalham com fidelização de clientes nas
instituições financeiras, pois na prática temos visto aumentar um desejo do
consumidor por mais vantagens nessas relações – sou cliente da sua instituição de crédito, certo? Quais
benefícios você vai me dar? Pode ser um cartão com limite
maior; prazos diferenciados de financiamento; amortização de dívida de forma
irregular, de acordo com o meu fluxo de caixa; benefícios com a minha
pontualidade, agilidade quando em momentos de emergência. Este consumidor quer
atenção.
Fato é que fidelizar um
cliente é tão importante quanto conquistar novos. A diferença é que o custo
para reter uma pessoa que já compra ou contrata seus serviços é muito inferior
do investimento necessário para “adquirir” um novo cliente. Segundo o professor
norte-americano Philip Kotler, considerado “pai do marketing”, o custo de
retenção de um cliente pode ser até sete vezes menor do que o investimento para
atrair um novo cliente.
Acredito que o Open
Banking, sistema financeiro aberto, como mesmo define o Banco Central do Brasil
(BCB), veio para tirar muitas instituições, grandes e pequenas, da zona de
conforto, a partir do momento em que promove mais competição no mercado. O Open
Banking, a partir da permissão do cliente, pode compartilhar informações dessa
pessoa entre diferentes instituições financeiras, para que elas ofertem
produtos e serviços diferenciados, de forma segura, ágil e conveniente, com
benefícios para o consumidor, que poderá obter tarifas mais baixas e condições
mais vantajosas.
Os desafios e
oportunidades estão aí e, mais: vem chegando uma nova geração, de jovens com
menos de 20 anos, que já tem acesso a cartões de débito/crédito para iniciarem
sua vida financeira de forma totalmente diferente do que há 30 anos atrás. Eles
são desta era, convivem com algoritmos, dados, com a inteligência artificial e
o digital 24 horas por dia. E nossas soluções para todo esse amplo espectro de
consumidores devem estar à altura de tantas demandas diferenciadas. E quem não
se atualizar, está fadado a morrer, e ainda sem entender a mudança na
mentalidade dos clientes.
Roberto
Azevedo é CEO do Banco Semear.
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