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Para atrair atenção, golpe digital se utiliza de famosos

Vítimas caem em estelionato digital diante de curso com imagem de Maira Cardi e Arthur Aguiar em anúncio

Shutterstock

A cada semana surgem novos golpes digitais, a criatividade dos golpistas para o mal parece não ter limites. No Brasil, o balanço de 2021 indicou 4 milhões de fraudes registradas nas Secretarias de Seguranças Estaduais, com a estimativa de que o número real possa ser muito maior, dado que muitos casos não são comunicados pelas vítimas para as autoridades policiais.

Muitos dos golpes que continuam a fazer vítimas já são conhecidos, tais como aqueles que levam a pessoa a clicar em links duvidosos e ter seus dados subtraídos; aqueles em que se pede ajuda de algum parente ou conhecido por meio do WhatsApp para realizar algum pagamento ou depósito de emergência ou mesmo os que oferecem superofertas com descontos exagerados em site clonado de alguma loja conhecida e não entregam o produto. Isso sem falar em golpes que envolvem a violência, como o do PIX, onde muitas vezes se faz sequestro relâmpago que dura até que a conta bancária da vítima seja esvaziada e o de roubos de celulares com o objetivo de invadir aplicativos de bancos e redes sociais.

Nas últimas semanas surgiram ocorrências relatando golpes praticados utilizando-se a imagem de pessoas famosas. Como nos conta Francisco Gomes Júnior, especialista em direito digital e presidente da ADDP (Associação de Defesa de Dados Pessoais e Consumidor) são golpes sofisticados com estrutura profissional. “Em meu escritório atendo vítimas de um golpe que usa a imagem de Maira Cardi e Arthur Aguiar para vender um curso de como ganhar dinheiro por meio da internet. Como a imagem do casal é de sucesso e de uso das redes sociais, a imagem funciona como um atrativo que leva as pessoas a adquirirem o curso. E veja, você divulga o curso através do WhatsApp atingindo milhões de pessoas, ou seja, se um percentual pequeno de vítimas cair no golpe, já serão dezenas de milhares”.

Golpes vendendo cursos ou produtos que não existem não são propriamente uma novidade. Ao contrário, é bastante comum que se criem sites replicas de originais para vender itens que nunca serão entregues. “A diferença está na sofisticação. Não se trata de venda de curso inexistente, pois ele existe. Após a aquisição, a vítima faz o download e consegue assistir a uma palestra de duas horas explicando como ganhar dinheiro na internet. Ensinam o conceito de monetização, explicam que você investe um valor inicial de 50 reais, realiza uma série de tarefas e ao fim do dia recebe 93 reais em sua conta bancária. A vítima faz o investimento e no primeiro dia recebe o prometido. Isso vai acontecer também no segundo e terceiro dia, com os valores aumentando e os ganhos sendo depositados na conta ao fim do dia. Até que surge o dia do desafio, onde o investimento mínimo será de 5.000 reais, com a promessa de receber 9.300 reais no mesmo dia. É aí que o golpe se consuma, quando ocorre o maior investimento, os golpistas somem e a vítima fica no prejuízo. É um estelionato digital”, complementa Gomes Júnior.

Quem lê esse relato pensa que jamais cairá em um golpe assim. De fato, se torce para que ninguém seja vítima de um estelionato desses mas repare nos detalhes. Logo após a aquisição do curso, os bandidos colocam uma assessora “especial” para orientar o cliente e estabelece-se uma comunicação por WhatsApp perfeita, em que se transmite seriedade e ganha-se a confiança da vítima passo a passo. Não é golpe de uma tacada só, é golpe que leva dias, que se constrói o passo a passo. E a utilização da imagem de pessoas famosas (sem que elas sequer tenham conhecimento de que estejam sendo usadas) dá a credibilidade final ao produto.

“Não adquira produtos apenas confiando na imagem colocada no anúncio, faça uma checagem na internet. Veja se realmente o famoso que consta da imagem fez aquela publicidade, veja se o curso tem reconhecimento e comentários públicos. Uma boa pesquisa geralmente o fará escapar de golpes. Basta não agir por impulso e sim de forma ponderada. O gatilho psicológico para te forçar é justamente o de que a oferta é única, vale por pouco tempo e se você demorar irá perder. Fuja disso”, finaliza o especialista.

Francisco Gomes Júnior - Sócio da OGF Advogados. Presidente da Associação de Defesa de Dados Pessoais e do Consumidor (ADDP). Autor do livro Justiça Sem Limites. Instagram: https://www.instagram.com/franciscogomesadv/

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