Colaboradores: onde estão e para onde precisam ir?
Como identificar o nível de maturidade da equipe
* Por Martinelli
Uma pesquisa da Duomo Aprendizagem
Corporativa evidencia que aproximadamente 70% dos colaboradores admitem que não
se sentem autoconfiantes e/ou completamente preparados tecnicamente para
tomarem as decisões sobre seu perímetro de trabalho.
Isso é assustador, pois impede que a
empresa funcione como precisa para fazer frente aos desafios que o cenário
atual exige. Somando-se a outros fatores, como gestores excessivamente
sobrecarregados, ambiente pouco estimulante ao desenvolvimento, baixa
expectativa de crescimento profissional, a companhia fica em uma condição
contrária a ideia de antifragilidade.
É necessário promover uma mudança
estrutural, que reveja o modelo hierárquico, construído por décadas e décadas.
Todas as políticas de gestão de pessoas e de processos deveriam ser guiadas por
este objetivo. Sinceramente, vejo poucas diretorias e áreas de RH plenamente
cientes e engajadas nesse desafio. Então, sugiro que, você leitor, faça o que
está ao seu alcance, aja naquilo que pode influenciar, uma mudança dentro da
sua área.
Mapear a equipe para identificar qual é
o grau de autonomia é fundamental para que o gestor consiga desempenhar as suas
próprias atividades. Lembrando: uma pessoa empoderada é alguém que consegue
performar sem depender do outro para isso. Se a orientação do outro é
necessária, quer seja por falta de conhecimento técnico ou por insegurança, o
“poder está fora” do colaborador. Ou seja, nesta situação, ele está
desempoderado.
Uma boa técnica para mapeamento do
colaborador foi amplamente divulgada pelos autores Paul Hersey e Kenneth
Blanchard (1986). Esta teoria é considerada clássica, pois após tantos anos
ainda é oportuna por tratar a maturidade do profissional como “a capacidade e a
disposição das pessoas de assumir a responsabilidade de dirigir seu próprio
comportamento”. Não soa bem contemporâneo? Vou me basear nos conceitos
descritos pelos referidos autores, mas me permiti ampliá-los à luz da minha
experiência e do contexto atual.
Note que o conceito citado destaca duas
condições para a performance com autonomia: “capacidade” e “disposição”.
Geralmente, para alguém ser plenamente apto a realizar uma tarefa, precisa ter
dois tipos de “capacidade”: a técnica (hard skills) e a comportamental (soft
skills). Mas, ter a capacidade não garante que entregará o resultado esperado.
No aspecto “disposição” também devemos considerar duas óticas: a autoconfiança
e o engajamento.
Podemos avaliar o colaborador em quatro
níveis de maturidade: M1, M2, M3 e M4. Nem sempre a evolução será linear
passando por todos os níveis. Alguns colaboradores deverão ser considerados,
por exemplo, um M2, mesmo quando acabaram de assumir aquela responsabilidade.
Outros deixarão de ser M2 e passarão a ser um M4, sem que passem pelo estágio
M3. Os quatro níveis são então uma referência útil, mas não uma régua precisa,
como raramente é uma técnica aplicada à gestão de pessoas. É importante lembrar
que ao avaliar o nível de maturidade, sempre considere um resultado específico
esperado e não a performance geral. Isso porque o mesmo colaborador tem níveis
de maturidade diferentes para cada entrega que precisa fazer.
Consideramos um M1 quando o profissional
tem pouquíssima competência técnica e/ou comportamental para exercer aquela
tarefa. Quando isso geralmente ocorre? Quando a pessoa acaba de ser contratada,
ou é promovida, ou já está naquela função há um tempo, mas assume uma atividade
que é muito diferente das outras que executa. Considere que, mesmo que tenha
sido recém-contratado ou promovido, pode já ter razoáveis competências para
aquela tarefa e, nesse caso, deverá ser classificado como M2, 3 ou 4.
Se o profissional tem o perfil para
aquela tarefa e foi bem orientado, com o passar do tempo provavelmente ele se
torna um M2. Classificamos assim aquele que já tem boa parte das habilidades,
mas ainda não o suficiente para chegar ao resultado sem que seja
supervisionado. Algumas evidências ao atingir esse nível: realiza parte das
tarefas/processos necessários para se chegar ao resultado, geralmente as mais
simples; consegue trabalhar com certa autonomia, desde que não haja nenhuma
variação, nenhum obstáculo mais complexo, e se houver, ele precisará de
supervisão. Mesmo dominando mais a tarefa, um M2 geralmente necessita de apoio
para se sentir confiante em seu avanço e se preparar para andar com as próprias
pernas, pelo menos naquela entrega específica.
Lembre-se que ainda pertencemos a uma
cultura do medo ao erro. Todos se sentirão mais seguros se houver um gestor
orientando o passo a passo. Pessoas autoexigentes ou que foram muito punidas,
poderão ter mais dificuldades para seguirem sozinhas.
Digamos que o colaborador já realizou
aquela tarefa quantas vezes foram necessárias para que sua “musculatura”
técnica e comportamental se desenvolvesse. O aspecto “capacidade” está
resolvido. Nesse caso, ele poderá ser classificado como um M3 ou M4, dependendo
das evidências observadas.
A classificação é M3 se observar que,
mesmo dominando a tarefa, ele ainda o procura fazendo perguntas sobre como
agir. Ou ainda se a qualidade da entrega não atender o nível mínimo esperado,
embora você saiba que isso não tenha sido por falta de competência. A não ser
que haja fatores externos que impeçam o adequado desempenho, claramente aqui o
problema é o de “disposição”. Lembre-se de que esse item é composto de dois
aspectos: autoconfiança e engajamento.
Algumas pessoas têm dificuldade de
assumir a responsabilidade de andar com as próprias pernas. Isso não significa
que são colaboradores incorrigíveis (embora alguns talvez sejam). O problema
pode ser justamente o alto grau de compromisso com o resultado que possuem, o
que faz com que assumam zero risco de errar. Ou estão “condicionados” por um
gestor que sempre fez questão de dar a última palavra, de supervisionar aquilo
que não deveria mais ser checado, que quer saber em detalhes tudo o que está
acontecendo na operação ou que reage inadequadamente quando se cometem erros,
mesmo sendo esperados em um processo de aprendizagem.
Seja lá qual for a razão que está
impedindo-o de, com autonomia, entregar com qualidade, o gestor não pode, nesse
momento, se dedicar a falar sobre a tarefa. Não pode explicar mais uma vez o
“como” fazer. O problema não está aí. Agindo assim, só congelará a dependência.
O estímulo do gestor com um M3 deve ser socioemocional.
Se o profissional tem perfil para
executar a tarefa, compreendeu a expectativa do gestor de que ande com as
próprias pernas, se dedicou e foi conduzido por um processo de aprendizado com
um estilo de liderança adequado a cada nível de maturidade, chegará ao M4. É
alguém desenvolvido nas competências necessárias, seguro e comprometido em
obter o resultado esperado com aquela tarefa.
Nessa condição, o gestor precisa se
dedicar muito ao quê? Muito a nada! Ele precisará, para essa atividade, dar
alguma atenção à tarefa e ao socioemocional do colaborador. Não é zero atenção,
mas pouca. Entende o que isso significa para você e para a empresa? Só com
colaboradores nesse estágio é que você terá tempo para efetivamente fazer
gestão ambidestra. A operação está sendo executada sem depender tanto de você,
e aí haverá agenda para também cuidar da construção do futuro. Diminuir o tempo
de atuação na operação não é apenas uma decisão. Se não houver colaboradores
que deem conta, com autonomia, do dia a dia, você sempre será forçado a entrar
muito para garantir os resultados.
O mapeamento do nível de maturidade da equipe é um instrumento que permite desenvolver uma das maiores habilidades de liderança: a de adaptar o estilo de gestão à necessidade de cada colaborador. O bom médico sabe que cada paciente tem uma genética, um funcionamento, um biotipo específico. Embora às vezes os sintomas pareçam ser os mesmos, um bom olhar clínico, um bom diagnóstico, pode fazer com que o médico acerte o tratamento para cada um. Como diz Edgar H. Schein: “o gerente bem-sucedido deve ser um bom diagnosticador e saber valorizar o espírito observação”.
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