É hora de aposentar a velha cartilha da inflação
Por Hugh MacArthur e Shawn O'Brie
Poucos
investidores e executivos de empresas já testemunharam uma escalada
inflacionária global como a que estamos vendo na esteira da pandemia da
Covid-19. Diante do aumento súbito de preços de insumos, mão de obra e outros
itens essenciais para gerir uma empresa, muitas estão recorrendo à velha
prática do corte de custos, elemento vital para atenuar o impacto inflacionário.
A
experiência limitada com uma pressão inflacionária como a atual pode, no
entanto, fazer o gestor ignorar oportunidades de agir de forma mais assertiva.
Reajustes de preços, quando feitos de forma estratégica e bem pensada, podem
não só ajudar a cobrir o aumento de custos como também a ampliar as margens dos
negócios.
Os
fundos de private equity mais efetivos estão ajudando suas companhias
investidas a desenvolver cartilhas de precificação que cumprem um duplo
propósito: identificar pressões de custos que a empresa vem sofrendo e preparar
a organização para ajustes de preços que reflitam melhor a proposta de valor
para o cliente como um todo. Isso envolve quatro medidas práticas.
A
primeira é analisar pressões gerais sobre os custos da empresa e buscar
entender mais a fundo que implicações isso terá para canais e produtos
específicos. É uma medida crucial para estabelecer um novo patamar de preços e
formular uma justificativa baseada em evidências concretas para eventuais
reajustes. Ao mesmo tempo, é importante definir um teto de preços aspiracional
e avaliar cuidadosamente até que ponto é possível subir os preços dado o
posicionamento competitivo e o relacionamento com clientes.
A
segunda medida é traduzir essa análise para a ação, definindo os reajustes
específicos que serão feitos por canal, por segmento e por geografia. Logo
depois passa-se para a terceira, e principal, medida: conseguir o apoio de
times de vendas e preparar a todos para o desafio do reajuste de preços.
É
natural que os executivos de vendas sejam relutantes por temerem estremecer a
relação com seus clientes, especialmente em um período de incerteza econômica.
Por isso, a liderança da companhia precisa ter argumentos sólidos para
convencer internamente a importância do aumento de preços e preparar o terreno
para o sucesso dos seus times, com uma estratégia de comunicação sucinta,
factual e focada. Mensagens fortes estabelecem rapidamente a lógica, do ponto
de vista de custos, para o aumento de preços, além de deixar claro como esse
aumento permitirá que a empresa siga garantindo uma experiência excepcional ao
cliente.
A
quarta medida é desenvolver ferramentas de controle e aprendizado contínuo. A
gestão precisa monitorar e entender o impacto contínuo do aumento de custos e o
impacto de mercado do aumento de preços. Isso significa definir métricas e
criar painéis de controle robustos para ver se ações em preços estão surtindo
efeito, se o churn de clientes está aumentando e se há necessidade de promoções
direcionadas. Significa, também, monitorar custos para determinar se a inflação continua a representar uma ameaça, para que a
empresa possa planejar medidas adicionais em um horizonte de 6 a 12 meses, se
necessário.
O
que está claro, até aqui, é que o primeiro reajuste de preços pode ser o de
maior impacto. Empresas — especialmente B2B — precisam agir de forma decisiva,
pois voltar a promover reajustes dentro de poucos meses, caso os custos sigam
subindo, talvez não seja viável (excetuando no caso de combustíveis). Agir de
forma proativa, com uma visão clara do que está por vir, é a melhor solução
para preservar margens em meio a um período de custos em ascensão. E, para quem
ocupa uma posição forte, pode ser uma oportunidade importante de instituir
novos patamares de preços
Hugh MacArthur é líder da prática de
Private Equity da Bain & Company.
Shawn O’Brie é líder na prática de Manufatura e Serviços da Bain & Company.
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