Ative os sentidos dos clientes em sua próxima venda
Por Fernando
Ranschburg*
O varejo não está para brincadeira. Mas está bem perto de provocar nos
consumidores sensações múltiplas, despertando os cinco sentidos de maneira
milimetricamente planejada a fim de tornar ímpar a experiência no ponto de
venda. Gestores que minimizam os impactos do marketing sensorial para aumento
das vendas não se deram conta ainda do que estão perdendo, mas saberão em pouco
tempo. Bastará olhar os avanços da concorrência para entender o quanto o seu
próprio caixa poderia fechar substancialmente mais encorpado ao final do dia.
O abalo provocado mundialmente pela pandemia, quando os consumidores até
então pouco familiarizados ao mundo digital se viram obrigados a surfar nas
compras online, moveu a balança do varejo. No isolamento social, o
mundo virtual salvou muitas empresas, principalmente aquelas que já tinham dado
os primeiros passos num e-commerce de qualidade. Elas estavam,
certamente, melhor preparadas para atender a essa nova demanda.
Mais do que nunca, experiência virou palavra-chave para voltar a atrair
o consumidor para as lojas físicas. O varejo que conhecíamos até ontem está,
neste momento, precisando oferecer algo muito mais vantajoso aos seus clientes
- e não é somente preço. Basta olhar para a recém-lançada Meta Store, nos
Estados Unidos: uma loja física da dona do Facebook, com espaço de demonstração
de realidade virtual.
Nesse contexto, vale lembrar de pesquisa da Universidade de Harvard,
mostrando que 95% das nossas decisões de compra são emocionais. Outro expoente
que endossa o poder do marketing sensorial é Daniel Kahneman, psicólogo
ganhador do Prêmio Nobel de Economia. Segundo ele, empresas que criam memórias
no consumidor podem vender até 25% mais. E não para por aí.
Pesquisa da Entertainment Media Research aponta que 87% dos consumidores
aceitam pagar mais por uma experiência de consumo melhor. Já 82% deles afirmam
que a música e os aromas têm o poder de transformar o humor. No entanto,
implantar esse tipo de ação requer o desenvolvimento de um projeto sério e bem
elaborado. De nada vai adiantar simplesmente ligar o som em uma playlist
aleatória, sem conexão com o branding. Afinal, todos nós já
entramos, algum dia, em uma loja em que o som ou o cheiro incomodavam
insuportavelmente.
Música é extensão da marca. Precisa estar alinhada com o propósito e o
posicionamento da empresa. Uma marca com campanhas inclusivas, engajada em
questões sociais, precisa escolher artistas alinhados com essa maneira de
encarar o mundo. E não se incomode se o cliente não reparar que a loja tem uma
rádio própria, com músicas selecionadas a dedo, a partir de uma minuciosa
curadoria. Ele provavelmente também não reparou no piso escolhido com critério,
na exposição dos produtos na vitrine feita com esmero, no layout
acolhedor. Ele simplesmente se sentiu bem nesse ambiente acolhedor e reconheceu
esse cenário como a esperada expressão da marca. Ali o cliente passou mais
tempo, aumentou a intenção de compra e saiu com a certeza de que voltará.
A criação de uma rádio indoor serve, em paralelo, ao
treinamento de equipes e a uma comunicação eficiente com os franqueados.
Adicionalmente, a implementação desse sistema tem alguns efeitos imediatos. Um
deles é manter a loja física pulsante em todos os momentos. Além disso, a
trilha sonora torna a equipe de vendas mais animada. Nesse sentido, os
resultados vão muito além da melhora do humor, pois se refletem diretamente no sell- out.
Uma rede de drogarias, por exemplo, conseguiu aumentar
significativamente a venda de uma revista própria, simplesmente com mensagens
direcionadas pela rádio interna aos funcionários, estimulando-os a oferecer a
publicação aos clientes da loja.
Grande ou pequeno, adunco ou romano, o nariz é capaz de detectar um
trilhão de cheiros, apontam estudos publicados na revista Science,
sugerindo que o nariz humano supera olhos e ouvidos em relação ao número de
estímulos capazes de serem distinguidos. Os cheiros provocam reações
neurológicas em nossa memória e algumas marcas querem que essa sensação saia
das lojas e se mantenha presente em outros momentos da vida do consumidor.
O autor dinamarquês Martin Lindstrom, sócio fundador e presidente do board
da Buyology Inc. e diretor da Brand Sense Agency, assegurou em um dos seus
livros que o marketing olfativo aumenta em 16% o tempo de permanência do
cliente no local. A ambientação olfativa em um comércio aumenta em 15% a
probabilidade de compra e proporciona retorno de 20% a 40% nas vendas de
produtos ou serviços.
A experiência será proporcionada ao cliente, porém, a atitude é sua. Os
sentidos do ser humano constituem a porta de entrada definitiva da experiência
de marca. Para as pessoas, essa ativação acontece de forma natural e
inconsciente, em uma resposta instintiva a gatilhos que os varejistas podem
estimular. Que tal despertar o melhor shopper em cada visitante da sua loja?
*Fernando Ranschburg é CEO da RDS
Nenhum comentário