Últimas

O que o investidor pode esperar para o 2º semestre de 2022?

Com a forte alta dos juros, a renda fixa tem se tornado cada vez mais atrativa e pode ser uma boa opção de investimento no período, apontam especialistas do TC

São Paulo, setembro de 2022 – A proximidade das eleições, o ritmo agressivo de alta de juros, a guerra na Ucrânia e a inflação alta tornaram o primeiro semestre de 2022 bastante desafiador, e assim deve ser na segunda metade do ano. Dessa forma, o cenário macroeconômico do Brasil apresentou menor previsibilidade nos último mês, conforme sugere o “Indicador de Incerteza”, ferramenta de análise do TC, plataforma de educação financeira, análise de dados e inteligência do mercado de capitais.

Nesse contexto, o investidor brasileiro deve estar se perguntando: “O que devo esperar para o 2º semestre e como posso me planejar?”. Para isso, procuramos ouvir os analistas do TC Matrix, casa de análise do TC, para nos dar um panorama geral do mercado nacional.

Inflação em alta

Os economistas Fabrício Silvestre e Elizabeth Farias acreditam que a inflação ficará em torno de 7% até o final do ano, em conjunto com uma taxa Selic próxima aos 13,75% ao ano (a.a.). 

O impulso fiscal promovido pelas desonerações do ICMS e tributos federais, além do aumento do valor do Auxílio Brasil e outras transferências de renda, contribuem para elevar a renda da população, sustentando o consumo das famílias. Não apenas isso, a recuperação do mercado de trabalho tem surpreendido, ampliando a massa salarial e fornecendo condições mais robustas para o crescimento econômico no segundo semestre.  

Se, por um lado, os incentivos fiscais recentemente anunciados pelo governo ajudam a estimular a atividade econômica via expansão da renda, por outro, o acirramento do risco fiscal e o cenário externo menos favorável acionam dúvidas sobre a evolução macroeconômica para 2023.

“No front inflacionário, o investidor pode esperar uma desaceleração do índice de preços ao consumidor no segundo semestre. Porém a inflação deve fechar o ano em patamar elevado, ainda que em nível menor do que o projetado ao longo do primeiro semestre, por conta das desonerações fiscais, medida que também contribui para a manutenção de patamar elevado de juros por mais tempo”, comenta Silvestre.

Sob esse cenário, as condições são menos favoráveis principalmente para as companhias com condições financeiras mais apertadas, que dependem de mais crédito para financiar suas operações.

Dólar

Os economistas acreditam em um cenário volátil para o dólar. “A volatilidade acima da usual deve marcar a trajetória de curto prazo do dólar, movimento que pode se intensificar com a aproximação das eleições”, explica Elizabeth. “Entendemos que os movimentos de curto prazo da divisa cambial têm refletido em maior grau o comportamento de fatores externos – perspectivas desfavoráveis para o desempenho econômico global aliado à subida de juros em economias desenvolvidas – do que, mais especificamente, fundamentos internos", complementa a economista.

Nesse contexto, o aumento da incerteza global contribui para a migração de investimentos para ativos menos arriscados, considerados como “safe haven” dos investidores, acarretando em uma possível desvalorização do real frente ao dólar.

Oportunidades na renda fixa

Já do ponto de vista do investidor, a renda fixa tem se tornado cada vez mais atrativa, com ótimas oportunidades de rentabilidades superiores a 1% ao mês, aponta a analista de renda fixa do TC, Jaqueline Benevides.

“Os ativos indexados ao CDI e a maioria dos pós-fixados são primordiais na carteira do investidor para os rendimentos surfarem essa taxa tão elevada. Além disso, temos os ativos prefixados. Selic alta é igual a prêmios prefixados mais altos, e o investidor deve aproveitar esse cenário para, quando o ciclo de queda na taxa de juros se iniciar, estar com um rendimento acima da Selic”, explica.

A analista acredita que não é preciso ignorar os ativos indexados à inflação, pois ainda proporcionam uma rentabilidade bastante atrativa nesses períodos. “O aumento dos juros serve para controlar a inflação. Então se o investidor tiver que escolher em qual classe investir, a ordem a seguir seria: ativos pós-fixados, com vencimentos de até dois anos e meio; ativos prefixados, com vencimentos máximos de até 4 anos; e, por último, indexados à inflação, de até seis anos”, alerta.

Renda variável e a volatilidade do mercado

Do outro lado, a renda variável deve sofrer um pouco mais com a volatilidade. O cenário internacional somado às eleições presidenciais no Brasil influenciam bastante na renda fixa e, consequentemente, no custo de oportunidade utilizado na precificação dos ativos, explica o analista de equity research do TC, Arlindo Souza.

“Em um cenário de inflação persistente, o ciclo atual de juros mais elevados tende a deixar os valuations das empresas em crescimento reprimidos por mais tempo. No entanto, é possível ainda encontrar boas oportunidades no mercado de ações. Para os investidores mais arrojados, exposição às empresas de menor capitalização na bolsa podem gerar significativos ganhos de capital, na medida em que o ciclo de juros mais altos chegar ao seu fim”, explica.

Com os preços das commodities elevados, a tendência é que as companhias exportadoras apresentem um desempenho mais interessante no curto prazo, além dos bancos e outras companhias do setor financeiro, que se beneficiam do patamar elevado da taxa de juros. Para o investidor com perfil de risco menos exposto à renda variável, este é um momento interessante para montar posições de longo prazo, devido ao desconto que o índice Ibovespa apresenta atualmente.

Ainda em renda variável, os fundos de recebíveis indexados ao CDI tendem a continuar entregando um rendimento satisfatório diante do contexto macroeconômico, o que não deve acontecer com aqueles fundos que tenham títulos indexados ao IPCA. O analista de fundos imobiliários do TC, Ivan Eugênio, explica o cenário:

“Historicamente, o IFIX anda na contramão da taxa Selic. Contudo, até o dia 6 de junho de 2022, o índice apresentava um retorno positivo no ano, mesmo com a alta da taxa. Isso porque, atualmente, cerca de 44% do IFIX é composto por fundos de recebíveis que se beneficiam com a alta da Selic ou com a inflação em patamares altos, como temos observado”, destaca.

Disciplina financeira é fundamental

Ainda é possível encontrar ativos atrativos na renda variável. Inclusive, investimentos com maior volatilidade costumam oferecer boas oportunidades historicamente. Nesse sentido, a palavra-chave para a segunda metade do ano deve ser “disciplina”.

“O investidor deve ter disciplina na capacidade de poupar para os aportes e disciplina em manter um asset allocation (alocação de ativos) alinhado com o perfil de investidor, fator que tende a render os melhores frutos no longo prazo. É fundamental que o investidor respeite seu perfil e, caso deseje operar algum evento específico, separe uma pequena parcela do patrimônio para não comprometer os objetivos financeiros traçados no planejamento financeiro”, pontua o planejador financeiro chefe, Pedro Lafraia.

Lafraia ainda relembra a importância de realizar investimentos que sejam capazes de refletir as variações da moeda norte-americana: “Não devemos nos esquecer da importância de dolarizar uma parcela do patrimônio em corretoras internacionais via ETFs e Treasuries, o que pode ajudar na defesa do portfólio”. Entretanto, ressalta que, neste momento de alta de juros no mercado internacional e com o câmbio mais elevado, é necessário ter parcimônia e aguardar um momento mais oportuno para o fluxo de recursos. Uma alternativa é realizar o envio de remessas via tranches. “Se o investidor possuir objetivos que envolvem recursos em moeda forte, essa necessidade é ainda mais destacada, sobretudo se ele se sente inseguro com uma eventual promoção de um governo que seja menos simpático ao mercado e aos investimentos em geral”, diz.

Por fim, não deixe de montar posições mais líquidas e que paguem o retorno do CDI. “Essa ainda é uma das formas mais tradicionais de se proteger da alta volatilidade dos mercados”, pontua Lafraia.

 

Sobre o TC:

O TC é uma das plataformas mais inovadoras e tecnológicas de educação financeira, análise de dados e inteligência de mercado do Brasil. Com aproximadamente 700 mil membros cadastrados, o TC tem a missão de democratizar o acesso a informações do mercado de capitais, conectando e promovendo networking entre milhares de investidores brasileiros. Além de oferecer um produto com conteúdo e serviços de qualidade, o TC está criando a mais moderna plataforma de análise fundamentalista para pessoas físicas. O aplicativo TC pode ser baixado gratuitamente na App Store e no Google Play. Para mais informações, acesse www.tc.com.br.

Nenhum comentário