Perdão: como este sentimento pode te ajudar a crescer profissionalmente?
Por Heloísa Capelas - Mentora de líderes,
mestre na metodologia Hoffman, escritora, palestrante e especialista em
inteligência emocional
A palavra perdão está historicamente
associada à religião. É algo que sempre vigorou nos registros cristãos. Segundo
a bíblia, Jesus foi o primeiro a dizer que devemos perdoar setenta vezes
sete. A contraponto desse ensino, nos tempos antigos também era muito
pregada a Lei de Talião, que consiste em uma rigorosa reciprocidade de
crimes e que trouxe até os dias de hoje o ditado “olho por olho, dente por
dente”. Com todo esse contexto histórico, que está presente e enraizado na
construção de quem somos, ainda perdura nos nossos relacionamentos, com o outro
e conosco, a falta do amadurecimento sobre o perdão e o autoperdão. Inclusive,
ambos são indispensáveis quando falamos de vida profissional e carreira.
A saúde mental é advinda do
autoconhecimento e autorresponsabilidade, e traz resgates e desmistificações de
emoções como o perdão, que pode ser considerado o pai de algumas mágoas e
rigidez que afetam a nossa vida como um todo, em todas as áreas, e trazem
continuamente outros sentimentos e atitudes negativos que atrapalham a nossa
evolução profissional, como o pensamento “eu não sou capaz”.
Na minha vivência, o perdão revolucionou
a maneira com que eu me relacionava com todo o meu entorno. Quando eu perdoei a
mim mesma e as pessoas que me atingiram negativamente, consegui ter clareza
para fazer escolhas diferentes, tanto na vida pessoal quanto na profissional.
Por isso, inclusive, decidi escrever exclusivamente sobre o tema. No meu livro
“Perdão, a revolução que falta” eu falo sobre como é inteligente perdoar e
quais as maravilhas que isso traz para nossas vidas.
Curiosamente, o hábito de perdoar vem do
sentimento de compaixão, e compaixão é o profundo pesar pela dor ou sofrimento
de uma pessoa, acompanhado pelo sincero desejo de aliviar a causa desse
sofrimento. Muitas vezes, não conseguimos olhar para nossos colegas de trabalho
com esse sentimento e não compreendemos que tudo o que somos é resultado da
nossa história, e que não temos o menor controle e consciência disso, seja por
estarmos no modo compulsivo ou automático.
Afinal de contas, temos que ter em mente
que ninguém é o que é porque quer e ninguém faz algo ruim com plena consciência
dos atos. Com a busca pelo sucesso cada vez mais voraz, as pessoas estão num
esforço enorme para alcançar a felicidade, “dando certo” na vida. A maioria não
imagina que sem o perdão, continuamos a história de algoz e vítima.
No lugar de reclamar e tentar agir de
modo vingativo, a partir de uma situação que não agradou, seja um feedback
negativo, críticas ou palavras duras, é possível escolher perdoar e seguir em
frente. Importante frisar que escolher os pensamentos que norteiam nosso cotidiano
não é o mesmo que viver uma positividade tóxica. O que não podemos é deixar
fluir a contínua obsessão por remoer uma, duas ou infinitas vezes algo ruim,
como se tivesse acabado de acontecer, isso não é saudável, atrapalha as
relações interpessoais e o ciclo de carreira.
Muitos de nós carregamos esses padrões
e, veja bem, antes de vivermos esses comportamentos em relação ao outro, nós
vivemos em relação a nós mesmos. Já reparou nisso? Muitas vezes, a dor que
sentimos por não sermos perfeitos é tão profunda que exigimos demais de nós
mesmos, somos o nosso pior algoz: cobramos, exigimos, queremos de alguma sorte
completar aquilo que os nossos pais não deram conta. Uma bagagem que vem desde
o início da nossa história e começa a refletir agora, na vida adulta.
Lembrando que nascemos duais, com a
sombra e com a luz, e se pudéssemos compreender isso e parar de nos criticar
tanto, exigindo perfeição, usaríamos nosso tempo para inovar, criar, mudar de
ponto de vista, aprender, e, enfim, evoluir, tanto no âmbito pessoal, quanto
profissional. Existe um mundo de possibilidades e caminhos para seguir se
acabarmos com este excesso de cobrança e exigência inúteis. Quer uma verdade?
Nós continuaremos falíveis, seja lá o que a gente fizer conosco.
Deixo claro que não podemos viver
relações abusivas em hipótese nenhuma e presta atenção: a responsabilidade não
é de quem abusa apenas, é também da vítima. Sim, você tem obrigação de olhar
para o seu 50% de responsabilidade em um relacionamento. Qual é a sua parte? O
perdão e o autoperdão entram nessa questão.
Se você é abusivo, seja em um cargo de
chefia ou como colega de trabalho, cuide-se em relação a esse comportamento,
que é aprendido e absorvido pelas suas vivências desde a infância e que tem
como causa principal a falta do perdão e autoperdão. Além disso, pode trazer
para sua carreira uma rede de relações sofridas e desgastadas que atrapalharão
você em algum momento.
Em todos os casos, com o perdão, aprendemos a dizer não e ter posicionamento. Perdão é liberdade, é a revolução que falta! Liberte-se desse círculo vicioso da dor, da raiva e da vingança, entre no círculo virtuoso do perdão e caminhe com autonomia, consciência e clareza, observando cada passo e situação que você encontrará no caminho profissional, e saiba que o perdão é uma das ferramentas para o sucesso.
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