Crédito mais caro reforça papel das fintechs no crescimento da economia
Por Gabriel
Nascimento, CEO da Ulend *
É um remédio amargo que, infelizmente,
já é conhecido por grande parte dos empresários brasileiros.
No primeiro sinal de instabilidade econômica e descontrole da inflação, o
governo aumenta o percentual da Selic, considerada a taxa básica de juros. A
medida freia o consumo e limita o aumento de preços, mas traz como efeito
colateral a dificuldade de obter crédito.
Sem esse importante insumo, que é o
capital operacional, as empresas não possuem verba para sustentarem suas
operações e desenvolverem novos projetos, como bens, serviços ou até expansão.
Cria-se a bola de neve, que passa por cima do crescimento econômico de todo
mundo. Contudo, é possível evitar esse cenário com o apoio das fintechs, que podem oferecer uma ampla gama de investimentos e
empréstimos bem mais eficientes e com condições mais vantajosas.
É uma necessidade cada vez mais latente,
comum entre as pequenas empresas, mas que em
cenário de juros altos já afeta também as médias grandes. Um levantamento da
Fundação Getúlio Vargas com o Sebrae em 2021 mostra que um terço desses
empresários (33%) considera que o grau de exigência para obter crédito nas
instituições financeiras tradicionais é muito elevado. Em momentos de aperto
monetário, créditos de montantes maiores (comuns no universo das empresas
médias e grandes) ficam ainda mais restritos, e o processo que já era
burocrático se torna praticamente um IPO (o nível de morosidade e exigência de
documentos é tão elevado que parece que o banco está fazendo uma transação de
abertura de capital).
Não bastasse isso, o aumento na taxa de
juros ao longo dos últimos meses atrapalhou ainda mais a concessão de recursos
financeiros. Em julho, por exemplo, houve um recuo de 11,9% nessa demanda em
relação ao mesmo mês de 2021, segundo o Indicador de Demanda das Empresas por
Crédito, da Serasa Experian.
Os dados comprovam justamente o desafio
encontrado pelas companhias no mercado nacional atualmente. Um crédito PJ na
modalidade conta garantida, por exemplo, está com taxa média 50% maior do que
há 1 ano atrás, enquanto a inflação é de aproximadamente 10%. Outro fator é que
a Taxa Selic sobe continuamente desde março de 2021 para tentar controlar a
inflação. Como resultado, as instituições financeiras também sobem os juros
cobrados em suas modalidades de crédito e de financiamento. Em suma: ficou bem
mais caro obter recursos financeiros no país.
Isso é um problema grave porque sem o
capital de giro à custos razoáveis, as companhias precisam readequar suas estratégias. Algumas
até podem utilizar recursos próprios, ainda que essa estratégia represente um
risco à rentabilidade do negócio. A grande maioria, contudo, precisa abortar
seus objetivos. Sem dinheiro disponível, as empresas não inovam, não investem
em processos e nem expandem sua atuação.
Um outro estudo conduzido pela Fundação
Getúlio Vargas mostra que, somente para as micro e pequenas empresas seriam
necessários R$ 514 bilhões para atender toda a demanda de crédito –
convenhamos, um número elevado demais mesmo em um cenário de bonança na realidade
brasileira. Mas se não há quantidade de dinheiro disponível no mercado
tradicional, é
necessário que alternativas sejam exploradas.
A transformação digital, que já
revolucionou o mercado financeiro, novamente surge como aliada nesse processo
graças às fintechs. As startups que utilizam a tecnologia para resolver dores
específicas das finanças e da economia como um todo também podem atuar na
concessão de crédito para PMEs no Brasil. Nos últimos anos, diversas empresas
do tipo surgiram para desburocratizar e agilizar essa demanda reprimida.
No caso, trata-se de uma ideia bem
simples: conectar investidores, que já buscam massivamente sair dos
investimentos bancários tradicionais nos últimos anos, a empresas que precisam
de capital de giro. Entretanto, ao invés de contar com intermediários e uma
pesada estrutura por trás, esse financiamento é feito de forma direta, com
taxas menos abusivas, parcelas flexíveis e
rentabilidade mais alta, fechando o circuito,
de uma ponta a outra com o apoio de plataformas online.
Dessa forma, a empresa realiza
pagamentos mensais, da mesma forma que faria em uma operação de crédito
bancário, com a diferença que ao invés desse capital ir para os bancos eles vão
direto para o bolso de investidores. Tudo feito digitalmente, em questão de
pouco tempo e muitas vezes até com taxas melhores. Uma opção viável para quem
historicamente sempre encontrou obstáculos na hora de solicitar crédito aos
grandes bancos e investidores.
O crédito pode até estar mais caro, mas
diferentemente de outras épocas, o empreendedor tem à disposição outros
caminhos para encontrar os recursos financeiros necessários. Há duas décadas,
restava apenas fazer as contas e contar com o humor do “bancão”. Hoje, basta
olhar em volta para encontrar fintechs dispostas a fazer tudo funcionar melhor, e muitas crescendo
com qualidade mesmo diante das mais diversas instabilidades.
* Gabriel
Nascimento é CEO da Ulend, fintech de crédito privado que conecta empresas e
investidores – e-mail: ulend@nbpress.com
Sobre a Ulend:
O mercado de capitais busca ativos para
alocar e as empresas saudáveis buscam capital para crescer. A Ulend é a conexão
entre os dois. Criada em 2019, a plataforma financia empresas de médio porte
por meio de fontes de capital alternativas aos grandes bancos (investidores,
fundos de investimento, bancos de pequeno e médio porte, e até capital
próprio). www.ulend.com.br
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