Empresas goianas atingem maturidade e têm potencial para fazerem IPO ou captarem recursos no mercado de capitais
Bom desempenho da economia goiana é indicativo do amadurecimento das companhias que podem se tornar protagonistas no mercado de capitais brasileiro. Simpósio realizado em Goiânia compartilhou cases de sucesso para incentivar que mais empresas participem desse mercado
Repetindo o
desempenho positivo de anos anteriores, Goiás deve ter um crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB) de 3,1% este ano e 0,9% em 2023, acima das
previsões para o Brasil, que são de 1,7% e 0,4%, respectivamente, conforme
projeção da Tendências Consultoria. Por trás desses números está a boa
performance das empresas goianas, que são potencialmente interessantes para o
mercado financeiro, porém, ainda têm participação pequena quando se fala em
abertura de capital [IPO, sigla do inglês] ou operações de captação de recursos
no mercado de capitais.
Despertar o setor
corporativo goiano para introduzir seus negócios no mercado de capitais foi
objetivo da Vertente, que realizou, em parceria com o Plateau D’Or, um simpósio
para apresentar cases de sucesso de abertura de capitais e operações de
captação de recursos executadas por empresas goianas. O evento ocorreu no K
Hotel, em Goiânia.
Diretor de
Investimentos da Vertente Capital, Rodrigo Borges, salienta que os goianos têm
aumentado sua participação como investidores no mercado financeiro, conforme se
percebe nos dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro
e de Capitais (Anbima): eles apontam que no segmento Private, o Centro-Oeste
foi a região brasileira com o maior crescimento de investimentos no primeiro
semestre de 2022, com alta de 16,19% e alcançando um volume de R$ 51,9
bilhões.
Porém, a participação
dos goianos é muito tímida quando se fala em operações no mercado de capitais:
existem apenas duas empresas goianas que abriram capital na bolsa de valores, a
Jalles Machado e a Boa Safra, e algumas outras poucas que captaram recursos por
meio de Debêntures, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) ou
Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA).
“Existem empresas
listadas na bolsa de valores há 100 anos, e Goiás realizou seu primeiro IPO em
2021. Por que demoramos tanto?”, questiona, ao revelar o propósito do simpósio.
“Não se trata de bairrismo, mas despertar o empresariado de que, além de alocar
recursos no mercado financeiro, temos empresas fortes e atrativas para
receberem esses investimentos também. Usamos esse encontro para mostrar que
empresas de excelência no Centro-Oeste, em Goiás, especialmente, podem ser
referência e opção para o público investidor”, diz ele, ao ressaltar que as
empresas goianas vivem uma fase de amadurecimento. “Elas estão implantando
mecanismos de governança corporativa, padrões de ESG, entre outras práticas de
gestão necessárias para quem deseja ingressar no mercado de capitais”,
complementa.
Cases goianos
De acordo com
Rodrigo Borges, o evento foi importante para que os empresários compreendessem
melhor os passos necessários para a abertura de capital, suas vantagens, e
também como captar recursos, por meio das Debêntures, CRAs e CRIs. “Dentre
outras vantagens, o prazo de pagamento muito maior do que o observado em
operações de crédito bancárias, sem dúvida, é um diferencial”, ressalta.
O ponto alto do
simpósio foi uma mesa redonda com a participação de Rodrigo Siqueira -
CFO da Jalles Machado, a primeira empresa goiana a abrir capital na bolsa, e
por CEO’s de companhias goianas que já fizeram operações de captação de
recursos: Fernando Maia - CEO da Saga Malls e Maurício Menezes - diretor do
Grupo Toctao. A mediação foi feita por Bruno Henriques, Head de Equity e
Research do Banco BTG Pactual.
Eles mostraram como
o processo de governança se consolidou em cada companhia na medida em que elas
se propuseram a fazer operações no mercado de capitais e como isso repercutiu
na lucratividade de seus negócios, que foi compartilhada com o investidor do
mercado de capitais. “A cobrança do mercado [dos acionistas] é muito
positiva porque não nos deixa cair na zona de conforto. Os sócios nos
levam a abrir a visão”, disse Rodrigo Siqueira, referindo-se aos 18 mil sócios
que a Jalles Machado passou a ter após a abertura de capital em 2021. O Ebitda
da companhia saltou de R$ 600 milhões para R$ 1,1 bilhão.
O diretor do Grupo
Toctao, Maurício Menezes, compartilhou sobre a operação que a empresa de
geração de energia do grupo, a Hy Brazil, está realizando no mercado de
capitais. A companhia fez uma emissão de mais de R$ 200 milhões e criou um
Fundo de Investimento em Participações de Infraestrutura (FIP-IE) para
realizar a expansão da geração de energia limpa. “Hoje, 85% da matriz
mundial de geração de energia continua sendo não renovável, o que coloca nosso
negócio como estratégico”, considerou, apontando a importância da expansão, que
reverbera positivamente na lucratividade dos investidores.
O CEO da Saga Malls,
Fernando Maia, contou as experiências por que já passou no mercado de capitais,
e ressaltou o potencial do Estado de Goiás. “Estamos na melhor região do País.
Aqui, ainda vivemos a primeira onda do agronegócio, em que ainda vendemos o
produto de baixo valor agregado. Ainda vamos crescer muito”, salientou.
A realização do
simpósio aconteceu no momento em que a Vertente Capital acaba de concluir
seu processo de credenciamento junto à Comissão de Valores Mobiliários para
atuar como gestora de recursos. A criação da gestora consolida ainda mais a
participação do estado de Goiás no mercado de capitais.
Cenário nacional
No Brasil, já são
449 empresas presentes na B3, segundo dados de junho de 2022. Uma realidade
mais avançada que no cenário goiano, mas igualmente tímida em relação ao
comportamento das empresas no exterior. Durante o evento, o diretor da
Vertente Invest, Cleiton Araújo, apontou que no Canadá, uma economia de
PIB similar ao do Brasil, o número de empresas presentes na bolsa de valores:
2231. Os dados também são de junho de 2022.
“Temos um cenário que pode crescer muito na medida em que a cultura do mercado de capitais se consolida no Brasil, onde a população é 5,5 vezes maior que a do Canadá”, comentou. O número de brasileiros presentes na bolsa de valores vem aumentando ao longo dos anos, completou o especialista, passando de 500 mil em 2011 para 4,4 milhões em 2022. A contribuição da pessoa física para o valor total da B3 saltou de R$ 104 bilhões para R$ 453 bilhões.
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