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Empresas goianas atingem maturidade e têm potencial para fazerem IPO ou captarem recursos no mercado de capitais

Bom desempenho da economia goiana é indicativo do amadurecimento das companhias que podem se tornar protagonistas no mercado de capitais brasileiro. Simpósio realizado em Goiânia compartilhou cases de sucesso para incentivar que mais empresas participem desse mercado

Marcus Inocêncio (Vertente Corretora de Seguros), Roland André Silva (Plateau D'Or), Geraldo Magela (Toctao), Allan Alvarenga Menezes (Toctao), Humberto Lemos (Toctao), Cleiton Araújo (Vertente Invest
Beto Nociti

Repetindo o desempenho positivo de anos anteriores, Goiás deve ter um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,1% este ano e 0,9% em 2023, acima das previsões para o Brasil, que são de 1,7% e 0,4%, respectivamente, conforme projeção da Tendências Consultoria. Por trás desses números está a boa performance das empresas goianas, que são potencialmente interessantes para o mercado financeiro, porém, ainda têm participação pequena quando se fala em abertura de capital [IPO, sigla do inglês] ou operações de captação de recursos no mercado de capitais. 

 

Despertar o setor corporativo goiano para introduzir seus negócios no mercado de capitais foi objetivo da Vertente, que realizou, em parceria com o Plateau D’Or, um simpósio para apresentar cases de sucesso de abertura de capitais e operações de captação de recursos executadas por empresas goianas. O evento ocorreu no K Hotel, em Goiânia.

 

Diretor de Investimentos da Vertente Capital, Rodrigo Borges, salienta que os goianos têm aumentado sua participação como investidores no mercado financeiro, conforme se percebe nos dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima): eles apontam que no segmento Private, o Centro-Oeste foi a região brasileira com o maior crescimento de investimentos no primeiro semestre de 2022, com alta de 16,19% e alcançando um volume de R$ 51,9 bilhões. 

 

Porém, a participação dos goianos é muito tímida quando se fala em operações no mercado de capitais: existem apenas duas empresas goianas que abriram capital na bolsa de valores, a Jalles Machado e a Boa Safra, e algumas outras poucas que captaram recursos por meio de Debêntures, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) ou Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA).

 

“Existem empresas listadas na bolsa de valores há 100 anos, e Goiás realizou seu primeiro IPO em 2021. Por que demoramos tanto?”, questiona, ao revelar o propósito do simpósio. “Não se trata de bairrismo, mas despertar o empresariado de que, além de alocar recursos no mercado financeiro, temos empresas fortes e atrativas para receberem esses investimentos também. Usamos esse encontro para mostrar que empresas de excelência no Centro-Oeste, em Goiás, especialmente, podem ser referência e opção para o público investidor”, diz ele, ao ressaltar que as empresas goianas vivem uma fase de amadurecimento. “Elas estão implantando mecanismos de governança corporativa, padrões de ESG, entre outras práticas de gestão necessárias para quem deseja ingressar no mercado de capitais”, complementa.

 

 

Cases goianos

 

De acordo com Rodrigo Borges, o evento foi importante para que os empresários compreendessem melhor os passos necessários para a abertura de capital, suas vantagens, e também como captar recursos, por meio das Debêntures, CRAs e CRIs. “Dentre outras vantagens, o prazo de pagamento muito maior do que o observado em operações de crédito bancárias, sem dúvida, é um diferencial”, ressalta. 

 

O ponto alto do simpósio foi uma mesa redonda  com a participação de Rodrigo Siqueira - CFO da Jalles Machado, a primeira empresa goiana a abrir capital na bolsa, e por CEO’s de companhias goianas que já fizeram operações de captação de recursos: Fernando Maia - CEO da Saga Malls e Maurício Menezes - diretor do Grupo Toctao. A mediação foi feita por Bruno Henriques, Head de Equity e Research do Banco BTG Pactual. 

 

Eles mostraram como o processo de governança se consolidou em cada companhia na medida em que elas se propuseram a fazer operações no mercado de capitais e como isso repercutiu na lucratividade de seus negócios, que foi compartilhada com o investidor do mercado de capitais.  “A cobrança do mercado [dos acionistas] é muito positiva porque  não nos deixa cair na zona de conforto. Os sócios nos levam a abrir a visão”, disse Rodrigo Siqueira, referindo-se aos 18 mil sócios que a Jalles Machado passou a ter após a abertura de capital em 2021. O Ebitda da companhia saltou de R$ 600 milhões para R$ 1,1 bilhão.

 

O diretor do Grupo Toctao, Maurício Menezes, compartilhou sobre a operação que a empresa de geração de energia do grupo, a Hy Brazil, está realizando no mercado de capitais. A companhia fez uma emissão de mais de R$ 200 milhões e criou um Fundo de Investimento em Participações de Infraestrutura (FIP-IE)  para realizar a  expansão da geração de energia limpa. “Hoje, 85% da matriz mundial de geração de energia continua sendo não renovável, o que coloca nosso negócio como estratégico”, considerou, apontando a importância da expansão, que reverbera positivamente na lucratividade dos investidores.

 

O CEO da Saga Malls, Fernando Maia, contou as experiências por que já passou no mercado de capitais, e ressaltou o potencial do Estado de Goiás. “Estamos na melhor região do País. Aqui, ainda vivemos a primeira onda do agronegócio, em que ainda vendemos o produto de baixo valor agregado. Ainda vamos crescer muito”, salientou.

 

A realização do simpósio aconteceu no momento em que a Vertente Capital  acaba de concluir seu processo de credenciamento junto à Comissão de Valores Mobiliários para atuar como gestora de recursos. A criação da gestora consolida ainda mais a participação do estado de Goiás no mercado de capitais. 

 

 

Cenário nacional 

 

No Brasil, já são 449 empresas presentes na B3, segundo dados de junho de 2022. Uma realidade mais avançada que no cenário goiano, mas igualmente tímida em relação ao comportamento das empresas no exterior.  Durante o evento, o diretor da Vertente  Invest, Cleiton Araújo, apontou que no Canadá, uma economia de PIB similar ao do Brasil, o número de empresas presentes na bolsa de valores: 2231. Os dados também são de junho de 2022.

 

“Temos um cenário que pode crescer muito na medida em que a cultura do mercado de capitais se consolida no Brasil, onde a população é 5,5 vezes maior que a do Canadá”, comentou. O número de brasileiros presentes na bolsa de valores vem aumentando ao longo dos anos, completou o especialista, passando de 500 mil em 2011 para 4,4 milhões em 2022. A contribuição da pessoa física para o valor total da B3 saltou de R$ 104 bilhões para R$ 453 bilhões.

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