As eleições passaram, e agora? Recomendações de uma advogada para Conselhos e Comitês empresariais
Por Lavinia Junqueira*
Muitos têm me perguntado também o que
muda com as eleições. O cenário internacional é igual: o crescimento mundial
esperado é pequeno, alguns veem risco de estagnação, com inflação alta e com
cenário político ainda conturbado. Isso não ajuda o Brasil a crescer. Sabe-se
pouco sobre a agenda econômica do Brasil 2023, mas já está na mesa uma proposta
de emenda constitucional para manter o Auxílio Brasil e um rombo nas contas
públicas em cerca de R$ 200 bilhões. Em campanha, o presidente eleito chegou a
falar de isentar do imposto de renda quem ganha até R$ 5 mil.
As medidas querem preservar a renda nas
faixas mais baixas, mas se o governo segue gastando mais do que ganha, isso
gera ainda mais inflação. A inflação pega o populismo na curva e corrói o poder
de compra das famílias, afetando os mais pobres. Parece um ciclo vicioso
para o qual existem poucos remédios, todos amargos.
Um deles é a redistribuição da carga
tributária nas chamadas “reformas tributárias”, dentre as quais já estavam em
banho maria a tributação de dividendos, a extinção dos juros sobre capital
próprio, a tributação de fundos fechados, a “reforma” na tributação indireta,
de PIS/COFINS/IPI. Outro remédio amargo é a manutenção dos juros altos, por
mais tempo. Como reagir? As empresas podem rever a estratégia de caixa e
financiamento, modelos de negócios, produtos e serviços.
Na tesouraria, podem rever o estoque de
lucros e a conveniência de distribuí-los, alterar a forma de financiar suas
atividades como capital ou dívida, rever sua projeção de investimentos e caixa.
No modelo de negócios podem verificar como uma alteração de tributos indiretos
afeta a cadeia de fornecimento, estrutura de custos e vendas e se há modelos de
negócios mais eficientes, qual o custo e a viabilidade da transição. Na parte
de produtos e serviços, será um desafio proteger a demanda e a margem da onda
inflacionária que certamente virá.
É necessário entender o impacto no
consumidor e a preferência do consumidor a fundo, ter mapeado o ecossistema no
qual a empresa se insere, para, com uma boa dose de inovação e criatividade,
maximizar a captura de oportunidades dentro desse ecossistema, diferenciar
produtos e serviços ou canais de venda, explorar novas oportunidades de
mercado, fazer substituições inteligentes para reduzir custos, dentre outros.
Para isso, ter um planejamento estratégico ordenado e conhecer muito bem a
posição da empresa no mercado e as oportunidades é essencial.
Como o Conselho deve atuar? O Conselho
deve garantir que a administração da empresa tem mapeados os riscos e as
oportunidades desse cenário, que tem as competências e os incentivos
necessários para surfar essa onda. Deve estar junto na escuta ativa de
stakeholders e inspirar a administração a olhar mercado e pensar dentro e fora
da caixa. A agenda de reuniões deve dedicar tempo adequado a cada um desses
temas.
*Lavinia Junqueira é advogada, fundadora do Junqueira Ie Advogados. É reconhecida por sua experiência na estruturação de operações financeiras e de mercado de capitais, bem como por sua atuação em reestruturações societárias no Brasil e no exterior. Sua trajetória profissional também inclui ampla experiência em M&A, acompanhamento e coordenação de gestão tributária e societária de conglomerados financeiros e não financeiros nacionais e globais e operações de reestruturação de dívidas judiciais e extrajudiciais. É membro de Comitê de Auditoria da Totvs e do Comitê de Investimento do FIP Parques; bem como do Conselho Fiscal do Instituto Natura. Esteve por 10 anos no comitê de auditoria da Natura, também com passagem por comitê do Banco Pine.
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