Clonagem de cartões: como usar a tecnologia para prever e inibir riscos
*Por Mauro Souza
Mesmo após o período mais
intenso da pandemia, é exponencial o aumento do número de pessoas que continuam
a fazer compras ou acessar serviços financeiros diversos por meio de sites e
aplicativos. A Pesquisa FEBRABAN de Tecnologia Bancária 2022 revela que os
canais digitais somaram cerca de 80 bilhões de transações bancárias no ano
passado - ante 68,5 bilhões em 2020 -, o que representa 70% do total de 119
bilhões pagamentos realizados em 2021. O relatório aponta também que pela
primeira vez o número de contas abertas em serviços digitais superou o de
contas abertas em canais físicos.
Entretanto, a maior
conveniência do online fez que as fraudes identificadas também aumentassem.
Para os bancos, esse crescimento resultou em diversos custos operacionais, tais
como: gastos com a geração de uma nova via do cartão para substituir os
fraudados, dispêndios para estorno dos débitos indevidos e a consequente queda
no faturamento, já que o cliente fica sem o plástico até que ele seja
substituído. Isso sem falar em uma possível perda de prioridade (Top of Wallet), ou seja,
quando o consumidor deixa de utilizar determinado cartão preferencialmente.
Nesse cenário, os bancos
dependem dos softwares e especialistas em prevenção a fraudes para classificar
casos suspeitos e tratar aqueles que necessitem de uma análise mais
estratégica. É necessária, então, o uso de recursos humanos, para análise
investigativa, além de recursos tecnológicos capazes de agregar e processar
grande volume de dados. Usando técnicas analíticas, é possível mitigar os
riscos de fraude e auxiliar na tomada de decisão.
Embora existam muitas
empresas especializadas na identificação e no tratamento de casos como esses, o
principal diferencial é a capacidade de prever e inibir os riscos antes mesmo
que aconteçam. Para isso, são aplicadas abordagens estatísticas, como
aprendizado de máquinas, mineração de dados, redes de relacionamentos e regras
de anomalias, consultando as mais diversas fontes de dados para maximizar a
identificação de casos.
Mas, quando essas
estratégias não são implementadas de maneira efetiva, os esforços acabam sendo
empregados incorretamente, e os resultados são negativos. A utilização da
modelagem analítica é uma das maneiras mais eficazes para identificar não
apenas um, mas diversos cartões que possivelmente estejam comprometidos,
avaliando a probabilidade de seus cartões estarem em risco de fraude e
identificando o ponto de comprometimento (POC).
O POC é o local onde os
dados dos cartões estão em risco, o que usualmente significa o local da
clonagem das informações do plástico. As plataformas de identificação de ponto
de comprometimento são ferramentas completas que fazem uso das bases
transacionais com as devidas marcações de fraude das instituições financeiras
para fornecer os resultados dessas análises e as probabilidades dos estabelecimentos
que podem estar comprometidos e os clientes que utilizaram cartões nesses
estabelecimentos.
Nesse contexto, para avaliar
se os resultados da plataforma escolhida estão sendo satisfatórios, é possível
aplicar uma das métricas mais utilizadas pelas instituições financeiras, o
processo de chargeback,
que pode ser considerado uma versão prática e monetária do falso-negativo, ou
seja, quando uma transação é marcada como fraude, mas erroneamente é
classificada como legítima e tem aprovação. O índice de chargeback é a razão entre o
faturamento total do estabelecimento no período e o volume financeiro envolvido
no processo de chargeback.
Espera-se que esse índice tenha sempre um valor baixo.
Por fim, é indicada a
utilização de diversas técnicas para se conectar a fontes de dados, aplicar
técnicas para obter qualidade das informações, removendo possíveis dados que
podem enviesar as decisões finais. Além disso, é preciso aplicar diversas
técnicas de classificação de transações, para comparar os melhores modelos de
atuação e escolher os que mais se encaixam com as estratégias da instituição
financeira, atuando de maneira a estancar os problemas, proativamente tomando
ações preventivas a eles.
Nesse contexto, são
derivados os casos com score intermediário para uma fila de tratamento manual,
na qual os analistas vão avaliar todas as informações disponibilizadas e tomar
a melhor decisão, aumentando o nível de detecção e minimizando os índices de
falso-positivo e falso-negativo. Dessa forma, é possível barrar os casos
fraudulentos e evitar o impacto negativo com os clientes e, finalmente,
elaborar dashboards
objetivos que vão apresentar cenários para acompanhamento das estratégias
aplicadas e acertar, caso necessário, os pontos para continuar seguindo aumentando
os índices de detecção.
Todas essas técnicas
aplicadas de maneira conjunta formam uma perfeita armadura para as instituições
financeiras no sentido de prevenir fraudes, lavagem de dinheiro e financiamento
do terrorismo.
As transformações digitais
continuarão ocorrendo de maneira acelerada. E este momento de saída da reclusão
e do distanciamento social exige que o mercado digital esteja em constante
inovação.
*Mauro Souza, especialista em prevenção a riscos financeiros do SAS Brasil
Nenhum comentário