Crimes financeiros na era dos dados
* Luiz Ohara é Head of Financial Markets na
Semantix
Na era digital, não há dúvida de que os
dados são um dos ativos mais valiosos que as empresas podem ter. Como
consumidores dessa nova era, estamos em constante produção de dados, os quais
as empresas aproveitam para entender as necessidades, gostos, padrões de compra
e comportamentos financeiros em geral.
Produzimos tantos dados, que estes se
tornam uma mina de ouro para empresas que querem chamar nossa atenção, mas
também para os cibercriminosos. As brechas de segurança possibilitam o
vazamento de dados proveniente de diferentes interações que tenhamos. Quando as
práticas de segurança são suscetíveis a invasões, a captura de informações por
parte de criminosos é facilitada, abrindo assim a possibilidade de diversos
tipos de golpes.
A quantidade de informações que tratamos
em formatos digitais torna empresas, governos, entidades financeiras e
instituições do Estado, alvos para que hackers tenham acesso a informações
sigilosas. Não precisamos ir tão longe: uma das maiores falhas de
cibersegurança registradas até o momento no Brasil ocorreu em agosto de 2021,
quando 27 milhões de brasileiros tiveram algum tipo de dado confidencial
exposto.
Os tipos de fraude
O vazamento de dados deixa os
consumidores vulneráveis a diferentes tipos de fraudes. No setor financeiro, os
clientes podem acabar sendo expostos a diversas formas de golpes, como:
extorsão, roubo, roubo de identidade, aquisição de empréstimos por criminosos
em seu nome, e transferência de capital para outras contas, que acabam sendo
indetectáveis em muitas ocasiões.
Phishing, smishing e typosquatting, por
exemplo, são modelos de golpes que usam e-mails falsos, mensagens de texto e
links direcionados para que os clientes, clicando em determinados endereços da
web, compartilhem suas informações e fiquem suscetíveis aos golpes. Os recursos
são mensagens chamativas em links encurtados, impossibilitando que os usuários
vejam o conteúdo da URL antes de clicar.
Fraudes envolvendo cartão de crédito, ou
até mesmo extorsão para que a pessoa não tenha os dados roubados, podem ser
acometidas nas vítimas. A venda não autorizada de dados também está sendo
encontrada na dark web, setor da internet onde não há fiscalização.
Outra prática comum é a engenharia
social, que consiste na manipulação das pessoas, seja por ingenuidade ou por
eventual descuido para que sejam realizados atos ilícitos como vazamento de
dados, senhas ou operações fraudulentas. Um exemplo são os boletos bancários
falsos, geralmente enviados em formato de contas do cotidiano como água, luz,
plano de saúde, escolas e universidades. Porém, os recursos são direcionados
para contas dos fraudadores.
Outro exemplo de engenharia social são
os golpes realizados em redes sociais, que acontecem quando os criminosos
conseguem ativar as contas dos usuários em seus próprios dispositivos, e assim
manter contato com a rede de relacionamento. Os invasores assumem a identidade
das vítimas e, utilizando novamente habilidades de manipulação, conseguem obter
montantes financeiros das vítimas.
Reduzindo a vulnerabilidade
As práticas e tecnologias de fraude
estão em constante evolução, porém algumas ações são sempre bem-vindas e evitam
grande parte das situações de risco. Utilizar aplicativos oficiais das
instituições e conectar-se a redes seguras são exemplos fundamentais de ações
de segurança. A autenticação em duas etapas, senhas fortes, o constante
monitoramento das movimentações financeiras, e o não compartilhamento de
senhas, também são práticas importantes na era dos dados.
Caso ocorra a infelicidade de
envolvimento em um golpe financeiro, é preciso notificar as instituições para
solicitar o cancelamento das movimentações e bloqueio dos meios de pagamento).
É importante registrar boletim de ocorrência para notificação do crime e
realização de investigação para identificar a rede de criminosos. Para os delitos
de engenharia social em redes de relacionamento, os contatos devem ser
notificados e os procedimentos previstos para recuperação da conta podem ser
adotados.
Para reduzir as chances de exposição e
golpe, é possível checar os dados do receptor no caso de transferências e
pagamento de boletos. Ao entrar em sites desconhecidos, o cliente deve buscar o
símbolo do cadeado na barra de endereço - a figura representa um selo de
segurança. Os links recebidos por e-mail devem ser conferidos antes do click, para
confirmação de que a mensagem é confiável. Erros de ortografia nos e-mails e
sites podem auxiliar nessa tarefa.
Contas online que não são mais
utilizadas devem ser desativadas. O uso de antivírus e a atualização constante
de softwares também são ferramentas poderosas contra os golpes.
O senso de urgência é uma das
ferramentas psicológicas implementadas pelos golpistas. Portanto, mensagens
chamativas, que requerem quantias monetárias, ou ações que devem ser realizadas
imediatamente, devem ser analisadas com cautela redobrada.
A era da informação traz inúmeros benefícios para empresas e consumidores. Conhecer as práticas e entender as atitudes que podem contribuir para o melhor uso das ferramentas é fundamental para a preservação da própria segurança, enquanto usufruindo do melhor que o digital pode oferecer.
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