Gestor ou Psicólogo: O papel dos líderes na pós-pandemia
Mariane Guerra, vice-presidente de Recursos Humanos da ADP na América Latina/Divulgação |
*Mariane Guerra
Após um ano e meio de pandemia e com o
avanço da vacinação, já é possível olhar em perspectiva as principais mudanças
experimentadas pelas empresas e, também, listar processos e experiências que
dificilmente retrocederão. Se por um lado foi extremamente desafiador para as
companhias implementarem rotinas que viabilizassem a continuidade de suas
operações, por outro foi igualmente estressante para os profissionais de RH
liderarem todo este processo em um cenário cheio de incertezas.
E não chega a ser uma novidade para os
gestores que as desigualdades existentes em nossa sociedade, como a
distribuição por vezes injusta de responsabilidades no seio familiar entre
homens e mulheres ou a falta de acesso a infraestrutura básica de comunicação
em muitos bairros, mesmo nos grandes centros, impactam fortemente a performance
do profissional no ambiente corporativo.
Contudo, ainda que exista uma
conscientização muito maior dos líderes quanto à importância de atuar para
mitigar estas situações - e verdade seja dita, existem iniciativas empresariais
muito interessantes neste sentido -, é fato que ao se direcionar fisicamente ao
trabalho as pessoas acabam centralizando estes problemas e tratando como
questões particulares. Mas com muitos profissionais atuando em home office
durante a pandemia, estas situações foram escancaradas e deixaram de ser uma
questão particular do trabalhador ou do gestor de RH e precisaram ser
enfrentadas pela alta liderança das companhias.
Neste cenário, adiciona-se questões
trazidas pela própria pandemia, como o aumento da ansiedade e da depressão
entre os trabalhadores. Para se ter uma ideia, um estudo realizado pelo Centers
for Disease Control and Prevention (CDC), em dezembro, nos EUA, mostrou que 42%
dos entrevistados afirmaram ter sintomas das enfermidades, o que significa um
incremento de mais de 200% em relação à média de 2019. E no Brasil o cenário
não é diferente, pois os dados de um levantamento realizado pela Universidade
de São Paulo (USP), em onze países, mostrou que os brasileiros são os que mais
tiveram casos de ansiedade (63%) e depressão (59%) durante a pandemia.
Assim, com este cenário precisando ser
enfrentado pela alta liderança das empresas, a busca de soluções voltou-se
novamente para os gestores de RH, que neste cenário acabou tendo a sua atuação
confundida com a de um psicólogo. Mas apesar de parecer uma situação difícil
ser superada pelas companhias, a solução é simples e se resume a uma palavra:
Empatia.
Apesar dos avanços que observamos nos
últimos anos no que diz respeito aos benefícios direcionados aos funcionários
por parte das empresas, é fato que ainda existe uma certa resistência de alguns
líderes - principalmente em corporações mais tradicionais - em implementar
ações como, por exemplo, a possibilidade de flexibilizar o horário de entrada e
saída dos colaboradores; ou a ampliação de programas voltados à saúde
específica da mulher e a promoção da diversidade.
Por isso, a capacidade de exercitar a
empatia é o ponto chave para que as empresas consigam superar tanto os desafios
trazidos pela pandemia, quanto situações que já estavam postas antes deste
período. Na área de gestão do capital humano não existe uma fórmula padrão,
pois cada companhia tem suas peculiaridades, mas quando a alta liderança está
comprometida em implementar programas e ações que extrapolam os muros da
empresa e colaborem para a solução de um problema do funcionário todos saem
ganhando. No cenário pós-pandemia, os líderes que resistirem em praticar a
empatia, sem dúvida, estarão fadados ao fracasso.
Mariane Guerra é vice-presidente de Recursos Humanos
da ADP na América Latina
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