Adoção do ágil nas empresas e o desafio das mudanças culturais
*Por Deyvid Washington de Magalhães,
gerente de Fábrica de Software da SONDA
As mudanças rápidas e desafiadoras com
as quais as organizações estão se deparando nos tempos atuais, muito em razão
da mudança do ambiente competitivo e do comportamento dos consumidores, tem
levado muitas delas a se reinventar. E isso requer a agilidade necessária para
alcançar todos os objetivos de negócios. Isso passa, invariavelmente, pela
adoção maciça de inovação e tecnologia, seja para desenvolver ou aperfeiçoar
produtos, seja para oferecer serviços. Um grande ponto de inflexão, porém, é
que, para ser ágil, não basta contar com as ferramentas adequadas. É preciso ir
além, modificar processos e adaptar a mentalidade da cultura corporativa.
Esse ponto da mudança cultural já tem
sido apontado como a principal lacuna a ser preenchida nas organizações. Uma
pesquisa divulgada recentemente pela Robert Half, em parceria com o Núcleo de
Estudos de Comportamento Organizacional e Gestão de Pessoas do Insper, indicou
que a falta de investimentos em capital humano e a dificuldade de promover
mudanças de cultura e modelos de gestão de trabalho são os principais entraves
no processo de transformação digital das empresas brasileiras.
O mesmo estudo diz que, para os
executivos, mudar a cultura é o desafio organizacional que 37% das empresas de
médio porte estão menos preparadas para enfrentar. Adequar o modelo de gestão e
trabalho é o desafio que mais preocupa 32% das empresas de pequeno porte e 35%
das empresas de grande porte. Percebe-se que é um desafio que independe do
porte da companhia, e que precisa ser ampliado como uma nova forma de pensar em
agilidade nas companhias.
É justamente esse o papel do método ágil
na transformação da cultura das organizações. Deixar de ter a mentalidade de
comando e controle, para implementar um ambiente colaborativo, de
experimentação e rápidas mudanças, é o que definirá o sucesso nas estratégias
de negócios. Só assim será possível ter entregas rápidas, com melhorias
contínuas, sempre alinhadas às necessidades do mercado e dos consumidores. Pois
quem define o que é bom para a empresa é o cliente. E ele exige experiências
satisfatórias cada vez mais rápido.
O desafio não é fácil. Descentralizar o
modelo de gestão, especialmente em empresas que possuem o que chamamos de
“silos”, está longe de ser trivial. Muito pelo contrário. Mas o ponto que deve
ser ressaltado é que essa transformação deve ser feita com base na mudança do
ideal de construção do propósito de negócio para o futuro.
Como exploraram Darrell Rigby, Sarah Elk
e Steve Berez, líderes das práticas de Inovação, Ágil, Modelo Operacional e
Tecnologia Corporativa da consultoria Bain & Company, no livro Doing Agile
Right, é preciso desconstruir a ideia de que as organizações devem remodelar
seus modelos de gestão de uma só vez, por exemplo, ou que o ágil deve ser usado
de maneira generalizada, em todas as funções e em todos os tipos de trabalho.
Na verdade, os times e as lideranças, que são pontos-chave nas companhias,
devem fazer uma leitura precisa das áreas que mais podem se beneficiar de
início desse modelo.
A despeito dos desafios, a mudança de
mentalidade passa pela clareza das lideranças, em como deve ser estabelecida a
organização das áreas, que podem ser intituladas de squads. Na prática, isso
significa um ganho de poder, liberdade, autonomia e, acima de tudo, de
responsabilidade dos times. Para produtos ou até mesmo negócios que sejam
colaborativos e multidisciplinares, atuando de maneira conjunta e integrada em
estratégia, design, engenharia e operação. Isso substitui o modelo de
microgerenciamento.
Além disso, gostaria de destacar outros
pontos que são muito importantes na implementação de um modelo ágil nos times:
- As
equipes ágeis usam sprints não para fazer as pessoas trabalharem mais ou
mais rápido. Mas, sim, para obter o retorno de seus clientes com mais
velocidade.
- As
empresas precisam mais do apenas mudanças estruturais para quebrar as
hierarquias. As empresas devem usar métodos ágeis para determinar quão
ágeis devem ser.
- Para
os times ágeis, os planos são hipóteses testáveis, a ser adaptadas ao
longo do tempo.
- Os
times à frente dos projetos possuem o melhor entendimento das necessidades
dos clientes e devem ter autonomia para impulsionar a inovação.
- As
práticas ágeis podem começar em qualquer nível da organização, porém, as
lideranças devem estar comprometidas com a sua criação.
Em suma, para ter uma companhia alinhada
com a agilidade, acompanhando o passo das rápidas inovações, é preciso, antes
de tudo, uma mudança cultural. O momento atual, durante a crise da covid-19,
fez com que o passo da aceleração tecnológica alcançasse um patamar nunca visto
antes. Embora muitas empresas tenham conseguido responder aos desafios ferramentais
e de infraestrutura a tempo, ainda há uma longa jornada para transformar o
ambiente organizacional. Esse passo é fundamental para a verdadeira
transformação digital.
*Deyvid Washington de Magalhães é
gerente de Fábrica de Software da SONDA, maior empresa latino-americana de
soluções e serviços de tecnologia.
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